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O excêntrico Dr. John

Malcolm John Rebennack Jr., mais conhecido pelo nome artístico Dr. John, foi um dos mais icônicos músicos de blues da nova geração de New Orleans. Nascido em New Orleans em 20 de novembro de 1941, tinha ascendência alemã, irlandesa, espanhola, inglesa e francesa. Seus primeiros contatos com a música se deram por meio das canções de minstrel show cantadas por seu avô e várias tias, tios, irmãs e primas que tocavam piano. Iniciou seus estudos de piano apenas na adolescência, mas conhecia bem as gravações de King Oliver e Louis Armstrong, apresentadas por seu pai, que gerenciava uma loja de eletrodomésticos e venda de discos. O contato com as gravadoras permitiu que conseguisse acesso às salas de gravação de artistas de rock como Little Richard e Guitar Slim.

Aos 13 anos, conheceu Professor Longhair. Impressionado pelo traje extravagante do músico e seu estilo marcante, Rebennack logo começou a se apresentar com ele e iniciou sua vida profissional. Aos 16, foi contratado por Johnny Vincent como produtor da Ace Records. Lá, ganhou experiência trabalhando com muitos artistas, incluindo James Booker, Earl King e Jimmy Clanton.

No final da década de 1950, Rebennack tocou com bandas de New Orleans, como Mac Rebennack e Skyliners, Frankie Ford e os Thunderbirds, e Jerry Byrne e os Loafers. Com 17, escreveu sua primeira música de rock-and-roll, “Lights Out”, sucesso regional do cantor Jerry Byrne na gravadora Specialty, em 1957. Dois anos mais tarde, “Storm Warning”, música instrumental influenciada por Bo Diddley, também teve sucesso regional. Na A & R, com Charlie Miller, gravou vários singles monofônicos em 45 RPM para Johnny Vincent e Joe Corona. Ali, era responsável pela seção rítmica, enquanto Miller escrevia os arranjos de metais.

Surge um pianista

A carreira de Rebennack como guitarrista foi interrompida por volta de 1960, quando o dedo anular de sua mão esquerda foi ferido por um tiro durante um incidente em um show de Jacksonville, na Flórida. Após a lesão, Rebennack se concentrou no baixo antes de fazer do piano seu principal instrumento.

Na mesma época, se envolveu em atividades ilegais em Nova Orleans e foi condenado a dois anos na Federal Correctional Institution, em Fort Worth. Quando sua sentença terminou, em 1965, uma campanha estava em andamento para limpar New Orleans com o fechamento dos clubes, o que significava que ele e seus colegas músicos passariam a ter dificuldades para conseguir trabalho. Rebennack foi então para Los Angeles, onde se tornou músico de estúdio de “primeira chamada” e forneceu apoio para Sonny & Cher (e parte da música incidental para o primeiro filme de Cher, Chastity), para Canned Heat em seus álbuns Living the Blues e Future Blues, e para Frank Zappa e The Mothers of Invention, em Freak Out!.

Quando jovem, Rebennack se interessou pelo vodu de New Orleans, e em Los Angeles desenvolveu a ideia do “Dr. John, The Night Tripper”, persona para seu velho amigo Ronnie Barron, baseado na vida de Dr. John, um príncipe senegalês, médico e curandeiro que foi para New Orleans do Haiti e alegava ter 15 esposas e mais de 50 filhos, mantinha uma variedade de cobras, lagartos, escorpiões e crânios de animais e humanos embalsamados, e vendia amuletos de vodu que supostamente protegiam o usuário.

Rebennack decidiu produzir um álbum e um show baseados nesse conceito, com “Dr. John” servindo como emblema da herança de New Orleans. Embora inicialmente o projeto fosse que Barron assumisse o papel de “Dr. John”, enquanto ele trabalhava nos bastidores como escritor, músico, arranjador e produtor, isso não aconteceu. Barron abandonou o projeto e Rebennack assumiu o papel e a identidade do Dr. John. Gris-Gris tornou-se o nome do álbum de estreia de Dr. John, lançado em janeiro de 1968, representando sua própria forma de “medicina vodu”. O personagem e a mistura de blues de New Orleans com rock psicodélico lhe trouxeram fama e Rebennack produziu shows que beiravam a cerimônias religiosas vudu, incluindo trajes elaborados e cocar.

Nos anos seguintes, mais três álbuns foram lançados na mesma linha que Gris-Gris: Babylon, Remedies e The Sun, Moon & Herbs. Este álbum serviu como uma transição da personalidade psicodélica para um conceito mais intimamente associado ao tradicional R&B de Nova Orleans e ao funk. Seu próximo álbum, Dr. John’s Gumbo, é um de seus mais populares registros.

Em 1973, Dr. John lançou In the Right Place. Da mesma forma que Gris-Gris apresentou ao mundo o lado influenciado pelo vodu, In the Right Place estabeleceu Dr. John como um dos principais embaixadores do funk de New Orleans.

Dr. John gravou 30 álbuns de estúdio e 9 álbuns ao vivo, além de contribuir como músico de apoio ou produtor em milhares de gravações de artistas como Rolling Stones, Carly Simon, James Taylor, Neil Diamond, Paul Simon e Van Morrison, entre muitos outros. Ganhador de seis prêmios Grammy, Rebennack foi introduzido no Hall da Fama do Rock and Roll pelo cantor John Legend em março de 2011 e, em maio de 2013, recebeu o Doutorado Honorário de Belas Artes pela Universidade de Tulane. Dr. John não era visto em público desde 2017, quando cancelou vários shows. Morreu aos 77 anos, em 6 de junho de 2019, vítima de um ataque cardíaco, deixando um legado de excentricidade e, acima de tudo, da boa música de New Orleans.

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