É muito comum as pessoas chamarem de “teclado” qualquer instrumento de teclas, seja um piano digital, um sintetizador, um arranjador ou qualquer controlador. Embora essa seja uma classificação aceita – já que muitas vezes, o responsável pelas teclas em uma banda ou conjunto é um pianista que controla todos esses instrumentos -, é certo também que cada um tem suas especificidades e a generalização pode ser enganosa, principalmente quando se trata de pianos digitais.
Vale a pena lembrar que o uso do termo “teclado” para designar os instrumentos de teclas em geral não é novidade. Já durante o período barroco, em que vários instrumentos de teclas coexistiam e alguns eram desenvolvidos – como o próprio piano -, muitas vezes era possível substituir um por outro na condução do baixo contínuo ou mesmo na interpretação de determinadas peças. Algumas obras de J. S. Bach podem ter sido interpretadas por ele tanto ao órgão quanto ao clavicórdio, sem prejuízo da musicalidade.
Outras são bem mais características e estudos revelam que foram escritas para um instrumento específico. O famoso “Cravo Bem Temperado”, por exemplo – coleção de 24 prelúdios e fugas que sedimentaram o conceito de tonalidade como o conhecemos hoje -, tem o nome original “Das Wohltemperierte Klavier”, em que “klavier” pode ser traduzido do alemão como “instrumento de teclas”.
Com o tempo, cada instrumento adquiriu características próprias assim como a música escrita para eles. Os recursos interpretativos, o timbre, a dinâmica, a resposta das teclas e a sonoridade almejada foram determinantes para a especialização da escrita musical e da composição.
Atualmente, com a grande variedade de instrumentos eletrônicos, a generalização se tornou comum, mas é importante saber as diferenças entre piano digital e teclado.
1 – Peso e formato das teclas
Os pianos digitais foram desenvolvidos para oferecer ao pianista as mesmas sensações táteis de um piano acústico, o que significa que as teclas de ambos possuem o mesmo peso e o mesmo formato, diferentemente dos teclados, que possuem teclas muito mais leves e – por conta tanto dos estilos musicais a que se propõem quanto da economia no uso de materiais – de formato diferente.
Essa é uma das principais diferenças entre os dois tipos de instrumentos e que influencia tanto na aquisição de técnica quanto nas possibilidades dinâmicas. Por serem mais resistentes ao toque, as teclas dos pianos, sejam eles acústicos ou digitais, permitem um maior desenvolvimento técnico e um maior refinamento expressivo.
Além disso, de forma geral, as teclas dos pianos digitais têm comprimento maior, o que facilita a ação dos dedos na obtenção da resposta almejada pelos músicos.
2 – Resposta das teclas
Por simularem a ação do mecanismo dos pianos acústicos, as teclas dos pianos digitais, além do peso, possuem uma resposta característica, que emula a ação dos martelos e o escape, algo que os teclados em geral não oferecem, por conta de sua construção.
3 – Timbres
Embora alguns teclados – principalmente os de maior valor – ofereçam timbres bastante próximos da sonoridade de um piano acústico, nada se compara aos timbres oferecidos pelos pianos digitais de boa qualidade, digitalizados e desenvolvidos especificamente para esse uso, e com todo seu potencial de memória e recursos voltados para a performance pianística.
Mesmo os modelos que oferecem outros instrumentos para complementação da paleta de sonoridades têm os timbres de piano como pontos fortes e adequados à enorme gama dinâmica capaz de ser reproduzida pelos pianistas. Os teclados, em geral, não possuem tal sensibilidade nem recursos para simular as sutis variações de timbres produzidas pelas performances de bons pianistas.
4 – Pedais dedicados
Muitos modelos de pianos digitais são comercializados com dois ou três pedais dedicados que proporcionam ao pianista os mesmos recursos de seus similares acústicos. Os teclados, de maneira geral, também oferecem a possibilidade de conexão de pedais, principalmente “sustain” e “soft”, mas nenhum deles traz a possibilidade de uso do pedal “tonal”, tão necessários à interpretação pianística.
Além das citadas aqui, existem muitas outras diferenças entre pianos digitais e teclados, mas é importante saber que cada instrumento tem sua aplicação exclusiva, dentro de determinados estilos ou formações musicais.
Para aqueles que desejam se dedicar ao piano, no entanto, o ideal é utilizar um instrumento que ofereça os recursos característicos desse instrumento e deixar os teclados, sintetizadores, arranjadores e controladores para usos específicos dentro do amplo universo do fazer musical.
