Desde sua invenção, por Bartolomeo Cristofori di Francesco, vários foram os desenvolvimentos técnicos que o piano recebeu até chegar ao padrão atual. E, mesmo assim, ainda há tentativas de incorporar inovações e recursos ao instrumento.
Um dos recursos mais antigos do piano foi inventado pelo próprio Cristofori: o pedal abafador, também chamado “una corda” ou “soft”. Em alguns de seus pianos, era possível mover o mecanismo de modo que os martelos golpeassem apenas uma das duas cordas existentes por nota, o que propiciava alteração timbrística e, obviamente, uma redução no volume sonoro. O inconveniente do mecanismo de Cristofori era o fato de ser acionado manualmente, o que exigia uma mão livre para o uso.
Na época de Mozart, foram inventados mecanismos que permitiam que a mesma função fosse realizada por uma alavanca localizada abaixo do teclado e acionada pelo joelho do músico. O mecanismo acionado pelo pedal foi introduzido no fim do século 18.
A partir de então, com a evolução do piano e a utilização de três cordas em algumas notas, em vez de duas (por questões de equilíbrio sonoro), o recurso se tornou ainda mais eficaz. Era possível utilizá-lo para percutir uma ou duas das cordas, o que proporcionava diferenças mais distintas. Daí o nome do pedal e a notação “una corda”.
Una corda – o pedal e o mecanismo
O “una corda” é um dos pedais padrão de um piano, posicionado à esquerda dos outros. Em um piano de cauda, seu acionamento desloca todo o mecanismo, incluindo o teclado, ligeiramente para a direita, de modo que os martelos – que normalmente atingem as três cordas de uma nota – percutam apenas duas delas.
Nas notas médio-graves, em vez de percutir duas cordas, golpeará uma apenas. E nos bordões graves, o golpe será descentralizado. Isso reduz a potência sonora e modifica a qualidade timbrística, por fazer que as cordas sejam golpeadas por uma parte do feltro do martelo que não é frequentemente utilizado.
Isso resulta em um som menos brilhante se comparado ao que normalmente é produzido, pelo fato de o feltro endurecer pelo uso regular. Apesar do nome, nos pianos modernos, por conta da estrutura, o espaçamento das cordas não permite um verdadeiro golpe “una corda”, pois, se o mecanismo fosse deslocado o suficiente para atingir apenas uma corda em uma nota, os martelos também bateriam na corda da próxima nota.
Nos pianos verticais, o pedal soft aciona um mecanismo que move a posição de descanso dos martelos para mais perto das cordas. Como os martelos passam a ter menor distância para o golpe, esse recurso reduz a velocidade com que percutem as cordas, e, portanto, o volume é reduzido. Isso, no entanto, não altera a qualidade sonora da mesma forma que ocorre em um piano de cauda.
O uso do pedal abafador é notado, geralmente, com as palavras “una corda” ou “due corde” no ponto em que pedal deve começar a ser usado.
“Tre corde” ou “tutte le corde” são utilizados para notar quando o pedal deve ser liberado.
Como se trata de um mecanismo variável, é possível ao pianista acioná-lo completamente ou utilizá-lo parcialmente, dependendo do modelo do piano e da sonoridade desejada. Há muitos níveis para o “una corda” e apenas a prática vai treinar os ouvidos do pianista para que perceba e domine as diferenças sutis e domine seu uso.
O pedal abafador pode ser utilizado em peças de todos os períodos artísticos, do barroco à música contemporânea, assim como no jazz e na música popular. Cabe ao intérprete definir quando e de que modo pode utilizá-lo, mesmo que não seja requerido pela partitura musical, mas por seu conceito artístico.