Sérgio Mendes, um dos pianistas e compositores mais renomados do Brasil, foi uma figura central na popularização da bossa nova e do samba fora do País. Sua carreira, que se estendeu por mais de seis décadas, foi marcada por uma impressionante capacidade de integrar diferentes estilos musicais e influenciar gerações de músicos e ouvintes ao redor do mundo.
Início na música
Nascido em 11 de fevereiro de 1941, em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Santos Mendes, filho de um médico, teve que usar gesso por três anos por conta da osteomielite que o acometia e foi uma das primeiras pessoas no Brasil a receber penicilina. Começou a estudar piano aos seis anos sob a influência de seu pai, que era um ávido apreciador de jazz, e sua mãe, que apreciava a música clássica brasileira.
Sérgio frequentou o conservatório com esperanças de se tornar um pianista clássico, mas, à medida que seu interesse pelo jazz cresceu, passou a tocar em bares no fim dos anos 1950, justamente quando a bossa nova estava emergindo.
Sexteto Bossa
Mendes tocou com Antônio Carlos Jobim (considerado um mentor) e muitos músicos de jazz dos Estados Unidos que visitavam o Brasil. Em 1961, formou o Sexteto Bossa Rio e gravou o álbum “Dance Moderno”. Fazendo turnês pela Europa e pelos Estados Unidos, gravou com Cannonball Adderley e Herbie Mann e tocou no Carnegie Hall.
Em 1964, se mudou definitivamente para Los Angeles e gravou dois álbuns sob o nome de Sergio Mendes & Brasil ’65, com Richard Adler, Wanda Sá e Rosinha de Valença, que, mais tarde, se transformaria no Brasil ’66, grupo crucial para sua ascensão internacional.
O álbum “Herb Alpert Presents Sergio Mendes & Brasil ’66”, de 1966, foi um marco significativo na carreira de Mendes, trazendo a música brasileira para o cenário global.
Mas que Nada
A combinação de Mendes de ritmos brasileiros com a influência do jazz e da música pop americana da época criou um som único que conquistou audiências internacionais. A sua versão de “Mas que Nada”, originalmente escrita por Jorge Ben Jor, se tornou um sucesso mundial e um símbolo da bossa nova.
O álbum foi um enorme sucesso comercial, e a popularidade de Mendes cresceu exponencialmente. “Mas que Nada” não só se tornou um clássico, mas também ajudou a estabelecer Mendes como um dos principais embaixadores da música brasileira no exterior.
O disco ganhou disco de platina e foi seguido de dois outros álbuns, antes de Mendes mudar a formação do grupo, ao qual se juntaram os bateristas Dom Um Romão e Claudio Slon, o baixista Sebastião Neto e o guitarrista Oscar Castro-Neves. As mudanças deram ao grupo um som mais orquestral.
Visibilidade no exterior
Mendes realmente ganhou destaque quando apresentou a canção indicada ao Oscar “The Look of Love” na cerimônia do Academy Awards em abril de 1968. A versão do Brasil ’66 da música rapidamente subiu para o top 10, atingindo o quarto lugar e superando a versão de Dusty Springfield da trilha sonora do filme Casino Royale.
Mendes passou o resto de 1968 desfrutando de sucessos consecutivos no top 10 e top 20 com seus singles seguintes, “The Fool on the Hill” e “Scarborough Fair”. A partir de 1968, foi provavelmente a maior estrela brasileira no mundo e desfrutou de imensa popularidade, se apresentando em estádios e na Casa Branca, onde fez concertos para os presidentes Lyndon B. Johnson e Richard Nixon.
Álbuns de sucesso
Durante os anos 70, lançou uma série de álbuns que misturavam o samba com o funk e o soul, experimentando novos arranjos e sons. A década de 1970 também viu Mendes se envolver em projetos de maior escala, incluindo colaborações com artistas internacionais, como Stevie Wonder, e experimentações musicais.
Em 1983, retornou às paradas com o single “Never Gonna Let You Go”, com vocais de Joe Pizzulo e Leeza Miller, igualando o sucesso de “The Look of Love” ao alcançar o quarto lugar na Billboard Hot 100. Em 1984, gravou o álbum “Confetti”, que teve os hits “Olympia”, também usado como tema dos Jogos Olímpicos daquele ano, e “Alibis”.
Nos anos 1980, Mendes trabalhou novamente com a cantora Lani Hall, do Brasil ’66, na canção “No Place to Hide” do álbum Brasil ’86, bem como na produção dos vocais dela na canção-título do filme de James Bond “Never Say Never Again”.
Quando Mendes lançou seu álbum “Brasileiro” em 1992, ganhador do Grammy, ele era o indiscutível mestre do jazz brasileiro com influência pop e mais conhecido nos Estados Unidos, onde seus álbuns foram gravados e onde a maior parte de suas turnês aconteceu, do que no Brasil.
A colaboração de Mendes com os Black Eyed Peas no álbum “Timeless”, de 2006, é um exemplo notável de sua habilidade em unir diferentes gerações e estilos. O álbum foi um marco em sua carreira, combinando a energia do pop moderno com a riqueza da música brasileira.
A inclusão de faixas como “Mas que Nada” e a colaboração com uma ampla gama de artistas convidados do neo-soul e hip hop alternativo – incluindo Erykah Badu, Black Thought, Jill Scott, Chali 2na do Jurassic 5, India.Arie, John Legend, Justin Timberlake, Q-Tip, Stevie Wonder e Pharoahe Monch – demonstraram a versatilidade e o apelo contínuo de Mendes em um cenário musical em constante mudança.
Em 2012, Sergio Mendes foi coprodutor dos álbuns de trilha sonora dos filmes de animação “Rio”, de 2011, e sua sequência de 2014, e indicado ao Oscar de Melhor Canção Original como coautor da música “Real in Rio”. Em 2020, foi tema do documentário “Sergio Mendes in the Key of Joy”. Suas últimas apresentações ao vivo foram em novembro de 2023.
Mendes faleceu devido a complicações de COVID em um hospital em Los Angeles em 5 de setembro de 2024, aos 83 anos. Era casado com Gracinha Leporace, que se apresentou com ele desde o início dos anos 1970.
Legado
Mais do que um pianista talentoso, Sérgio Mendes é um ícone da música brasileira. Sua capacidade de integrar diferentes estilos musicais, sua inovação contínua e seu impacto duradouro na música são um testamento de sua habilidade e dedicação.
Ao longo de sua carreira, Mendes não apenas ajudou a moldar a percepção global da música brasileira, mas também continuou a evoluir e influenciar a música em todo o mundo. Sua influência pode ser vista em muitos artistas contemporâneos que continuam a explorar e reinterpretar a música brasileira.
Sua contribuição para a música foi amplamente reconhecida ao longo de sua carreira: Mendes recebeu vários prêmios e homenagens, incluindo um Grammy pelo álbum “Brasileiro”, e dois Grammy Latino – pelo álbum “Bomtempo” e pelo conjunto da obra -, além de ter sido indicado ao Oscar de melhor canção original e ser o recordista brasileiro de ingressos na Billboard Hot 100.