Uma das mais icônicas cenas de desenhos animados, utilizada à exaustão como caricatura de pianistas, são os dedos do músico executando um trinado. Sinal de agilidade e resistência, o trinado sempre foi um dos ornamentos mais chamativos da performance pianística, e um dos mais difíceis de ser executado.
Trata-se, na verdade, da execução rápida e alternada de duas notas adjacentes, geralmente distantes um semitom ou um tom entre si. Um trinado nada mais é que um dos tipos clássicos de ornamentos, ou seja, notas adicionadas à melodia principal com o intuito de enriquecê-la e embelezá-la. É representado, geralmente por um “tr” colocado acima da nota.
A nota que se alterna com a nota real depende da tonalidade em que o trecho musical se encontra ou pode ser alterada por meio sinais de alteração acompanhando o sinal do trinado.
A origem de muitos ornamentos, no entanto, não foi a necessidade de ornamentar uma melodia, mas a de prolongar notas, já que alguns instrumentos, como o cravo, o alaúde e outros, não podiam fazê-lo, como o órgão, as violas e a própria voz faziam. Um trinado, portanto, tinha como primeiro objetivo prolongar a nota, fazendo-a soar por mais tempo. Isso fica claro com a outra forma de sinalizar um trinado.
Outros ornamentos foram criados a partir das necessidades dos compositores de indicar e abreviar certos conjuntos de notas. Alguns preferem escrever todas elas, evitando os símbolos, mas a maioria, por uma questão de praticidade, adota a escrita dos ornamentos em suas formas clássicas.
Um dos mais comumente utilizados é a appoggiatura, também chamada apogiatura ou apojatura, que consiste em executar uma ou duas notas precedendo a nota real da melodia.
Existem vários tipos de appoggiaturas, de acordo com a intenção do compositor ou intérprete. A longa, geralmente, retira da nota real metade de seu valor. A breve, apenas um quarto. Isso, no entanto, é muito variável, pois quanto mais lento for o andamento, mais rápida em termos proporcionais será a execução da nota ornamental.
Em obras dos séculos 17, 18 e 20, ela é tocada geralmente antes do tempo da nota real, roubando a duração da anterior. Esse ornamento em especial também pode ser chamado de acciaccatura.
Outro ornamento muito utilizado é o mordente, que, a exemplo do trinado, utiliza uma nota adjacente à nota real. Diferentemente dele, porém, o mordente pode ser superior ou inferior e a execução é restrita a três notas. É bastante comum em obras dos períodos barroco e romântico, tendo Frédéric Chopin como um de seus adeptos mais contumazes.
A lista dos principais ornamentos traz ainda o grupeto, sinalizado por uma linha curva com o desenho da melodia resultante de seu uso. A execução do grupeto consiste em tocar as notas que estão ao redor da melodia, iniciando ou não por ela, de acordo com o estilo e o período da composição.
A forma de execução de um ornamento depende, também, do andamento da música. Geralmente, quanto mais lento o andamento, mais rápida é a execução do ornamento. E não se deve esquecer que os ornamentos foram encarados de formas diferentes durante os diversos períodos da história da música.
Para uma assimilação maior e a correta interpretação de um ornamento, são necessárias a orientação de um bom professor e a audição cuidadosa de performances de bons intérpretes.