Em muitos pianos digitais, um dos timbres disponíveis é chamado “Honky-Tonk”. Facilmente identificável graças a seus atributos únicos, o timbre “honky-tonk” é muito utilizado quando se deseja uma característica “antiga”, remetendo ao “velho oeste”, a filmes de “cowboys”, “saloons” e outras coisas do tipo.
Essa associação não é descabida. O piano honky tonk recebeu esse nome por conta dos locais em que era encontrado: bares que forneciam música country para o entretenimento de seus clientes, muito comuns no sul e sudoeste dos Estados Unidos, nos quais os instrumentos frequentemente eram muito mal-cuidados, tendendo a estarem desafinados e até mesmo com algumas teclas sem funcionar. A sonoridade peculiar é extremamente vinculada a esses locais e pode-se imaginar que, na época da corrida para o oeste americano, não havia muitos técnicos afinadores disponíveis – muito menos ferramental e componentes adequados – o que levava muitas vezes o próprio músico a realizar reparos. Isso sem falar na dificuldade de conseguir encordoamento e, até mesmo, teclas, muitas vezes queimadas pelas cinzas e bitucas de cigarro. Os martelos, ressecados pelas condições ambientais e endurecidos pelo uso, produziam um som mais ríspido e com tendência aos harmônicos mais agudos, com uma forte característica metálica.
Além disso, muitos desses locais, pela dificuldade de mão-de-obra ou para não terem de contratar músicos, adotavam as pianolas, pianos com dispositivo mecânico acionado por pedais, que permitia a movimentação das teclas em uma sequência marcada em um rolo perfurado, o que produzia música sem a necessidade de um pianista, mas de qualquer um que se dispusesse a pedalar. Cada perfuração abaixava uma tecla e impulsionava o respectivo martelo, o que substituía a ação dos dedos. Obviamente, o uso do instrumento não era realizado com o cuidado dispensado atualmente aos grandes pianos de concerto. Todos esses detalhes somados à sonoridade dos pianos verticais, fazem do piano honky tonk um timbre único, muito peculiar.
O timbre e o gênero honky-tonk
O estilo honky-tonk, derivado da música ligeira europeia, como as polcas e as marchas, influenciou desde o ragtime ao boogie-woogie, o jazz e o rock. Com a mão esquerda do pianista baseada na célula baixo-acorde e ritmo acelerado, era apropriado à dança e ao divertimento em lugares de reputação duvidosa. A mão direita, por sua vez, apresentava melodias simples e repetitivas, mas com grande coloração produzida pelo uso de apojaturas e acordes em bloco.
Alguns dos precursores do jazz – como Jelly Roll Morton, que gravou “Honky Tonk Music” e Meade Lux Lewis que registrou “Honky Tonk Train Blues” – se dedicaram ao estilo e participaram da formação do ragtime.
Antes da Segunda Guerra Mundial, o estilo ganhou fama e se popularizou, sendo depois esquecido e atropelado pelo swing e todas as outras tendências do jazz, como o bebop e o hardbop, e renegado a um nicho específico, muito ligado à música country.
Mas muitos músicos se renderam a esse timbre, até mesmo os grandes tecladistas do rock progressivo como Keith Mereson e Rick Wakeman, que utilizaram o piano honky tonk em alguns momentos.