O pedal direito dos pianos, também chamado pedal de sustain, é o mais utilizado, mas nem todos sabem quando e como ele deve ser aplicado.
Quando acionado, o pedal direito do piano afasta os abafadores das cordas, permitindo que elas vibrem livremente, o que causa um prolongamento do som. Esse recurso é muitas vezes utilizado para facilitar a interpretação de notas de modo ligado, quando não é possível fazê-lo por meio da digitação, ou quando é necessário que alguns sons continuem soando mesmo que as teclas sejam soltas. Além disso, as cordas soltas vibram simpateticamente às das notas tocadas, enriquecendo o timbre do instrumento pela adição de harmônicos.
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Patenteado pelo fabricante John Broadwood, em 1783, o pedal tinha como principal objetivo aumentar o leque de dinâmicas possível de ser reproduzido pelo piano, ou seja, destacar as diferenças entre as sonoridades mais fortes e mais fracas. Mas acreditar que o pedal direito serve apenas para aumentar o volume é uma simplificação de um processo extremamente sofisticado e complexo.
O uso do pedal de sustain é um recurso enriquecedor da sonoridade e do timbre que transcende a função de mero “auxiliar” dos planos dinâmicos. A maneira de utilizá-lo é muito variável e é possível afirmar que o modo como um pianista “pedaliza” as obras que interpreta está em direta relação com a percepção musical dele. Existe, nessa arte, um refinamento para o qual não há limites.
O uso do sustain, portanto, deve ser analisado e parcimonioso, de acordo com o caráter da obra e a época em que ela foi composta.
Uma boa estratégia é utilizar o pedal direito com muita discrição no repertório erudito que abrange a produção para teclado até o final do classicismo vienense e a primeira fase criativa de Beethoven. E isso ocorre por conta, principalmente, da evolução que o uso dos pedais sofreu juntamente à maior exploração das capacidades do instrumento.
A modificação da linguagem musical, portanto, foi fator determinante para que o uso dos pedais fosse incrementado e os compositores tirassem proveito de suas possibilidades interpretativas.
Para conceber uma pedalização correta e consciente, portanto, é importante que o pianista leve em consideração elementos como a estética vigente à época de criação da obra, os recursos que o instrumento possuía e, principalmente, as anotações originais grafadas pelos compositores, mesmo que sejam passíveis de eventuais adaptações aos instrumentos modernos.
Compositores como Frédéric Chopin e Franz Liszt, inclusive, mantiveram estreito relacionamento com os fabricantes de pianos da época, sugerindo modificações, melhorias e aperfeiçoamentos, inclusive na ação mais eficiente dos pedais.
O emprego racional do pedal resgata detalhes de grande significado interpretativo em obras de qualquer período ou compositor. Diversos deles, inclusive, prestaram um excelente serviço aos intérpretes ao indicar em suas obras os trechos que deveriam ser tocados “senza pedale”, ou seja, sem o uso do pedal.
E o uso correto dele não está circunscrito à música erudita: no popular, assim como no jazz, é importante que se saiba dosar seu uso. Um samba ou uma bossa nova, por serem gêneros mais rítmicos e que, geralmente, têm harmonias ricas e movimentadas, pedem um pedal de sustain muito mais econômico e sutil.
Em qualquer gênero ou estilo, é importante que o intérprete conheça bem o funcionamento do pedal direito, assim como a melhor forma de utilizá-lo, evitando os erros mais comuns e valorizando a música executada.
Métodos para aprender a usar o pedal de sustain
Como todo recurso existente nos instrumentos musicais, o uso do sustain deve ser estudado e a prática é o melhor método para isso. O emprego do pedal direito deve ser sempre funcional e com objetivos específicos. E é necessário que o pianista saiba reconhecer a pedalização que melhor valorize as intenções musicais contidas naquilo que vai interpretar.
Para aprender o uso do pedal, existem diversos métodos. O ideal, contudo, parece ser o domínio da parte mecânica e de coordenação motora logo no início dos estudos, para que se torne parte natural do processo de tocar piano. Quanto mais rápido o pianista aprende a usar o pedal mais desenvoltura terá para tocar.
O sustain é mais utilizado na forma conhecida como “pedal sincopado”, base para a boa interpretação na música popular. A técnica consiste em “trocar” o pedal após tocar cada nova harmonia, limpando a sonoridade da última e sustentando o som da nova. Isso deve ser feito abaixando o pedal logo em seguida à execução de um acorde. Ao ferir o seguinte, levanta-se imediatamente o pedal, abaixando-o novamente antes de largar as teclas para atacar o terceiro, e, assim, sucessivamente. Isso possibilita o completo domínio da coordenação mãos e pés.
Vários compêndios e exercícios foram escritos sobre o assunto, mas caíram em desuso. Os mais antigos foram criados pelo francês Louis Adam (1758-1848) e pelo alemão Daniel Steibelt (1765-1823).
No entanto, o método mais utilizado era de autoria do professor italiano Albino Gorno (1859-1945), que escreveu diversos exercícios, publicados em vários volumes e classificados por ordem de dificuldade. Atualmente vem sendo muito utilizado o método 20 Estudos Progressivos De Pedal, de Hannah Smith.
Além dos métodos, é imprescindível a audição da interpretação de bons pianistas, seja ao vivo ou em gravações. Na música popular, notadamente no jazz, não faltam exemplos de bons pedalizadores como Bill Evans e Chick Corea. Na música popular brasileira, é inegável a qualidade de músicos como Cesar Camargo Mariano e Nelson Ayres.