O pianista, organista, compositor e professor Alberto Nepomuceno nasceu em Fortaleza, no Ceará, em 6 de julho 1864 e, aos oito anos, mudou-se com a família para o Recife, onde teve suas primeiras lições de violino e piano com o pai, Victor Nepomuceno, violinista e ex-organista da catedral de Fortaleza.
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Alberto Nepomuceno e sua relação com a música
Responsável pelo sustento da mãe e da irmã após a morte de seu pai, em 1880, Alberto Nepomuceno empregou-se como tipógrafo e passou a ministrar aulas particulares de música. Apesar do pouco tempo que lhe sobrava, conseguiu dar continuidade aos seus estudos musicais com o maestro Euclides Fonseca, diretor de concerto do Clube Carlos Gomes, cargo assumido mais tarde por ele.
Durante sua juventude, manteve amizade com alunos e mestres da Faculdade de Direito do Recife, nessa época um grande centro intelectual do país, como Alfredo Pinto Vieira de Melo, Clóvis Bevilaqua e Farias Brito. Ali conheceu Tobias Barreto, que o iniciou nos estudos de filosofia e língua alemã. Retornou ao Ceará em 1882 e tornou-se defensor atuante das causas republicana e abolicionista no Nordeste, participando de diversas campanhas, e, por conta disso, seu pedido de custeio ao governo imperial para estudar na Europa foi indeferido.
Em 1885, partiu para o Rio de Janeiro. Faz a primeira apresentação como pianista no Clube Beethoven e passou a lecionar piano nessa sociedade no ano seguinte. Tornou-se amigo do violoncelista Francisco Nascimento, que, em 1887, o acompanhou em uma série de recitais pelo Nordeste. Datam desse ano suas primeiras composições, entre elas “Mazurca” para violoncelo e piano, “Prece” para orquestra, e “Dança de Negros” para piano. A renda obtida na turnê, somada à ajuda financeira da família Bernardelli, custeou sua viagem à Europa, em 1888.
Na Accademia Nazionale di Santa Cecilia, em Roma, estudou harmonia com Eugenio Terziani e Cesare de Sanctis, e piano com Giovanni Sgambati. Em 1890, conquistou o terceiro lugar no concurso que iria escolher o novo Hino Nacional Brasileiro e uma pensão do governo que permitiu ampliar sua estada na Europa. Seguiu para a Alemanha, onde estudou composição na Escola Superior de Música, de 1890 a 1892, e órgão, composição e piano no Conservatório Stern, entre 1892 e 1894, com Heinrich Herzogenberg, Arnó Kleffel e Max Bruch. Em Viena, teve aulas de alta interpretação pianística com Theodor Lechetitzki, e conheceu a pianista norueguesa Walborg Bang, com quem se casou em 1893.
Ao retornar para a Alemanha, em 1894, regeu a Orquestra Filarmônica de Berlim em suas provas finais, apresentando o “Scherzo”, para orquestra e a “Suíte Antiga”, para cordas, ambas de sua autoria. Em Paris, teve aulas com o organista Alexandre Guilmant, de 1894 a 1895, e assistiu à estreia mundial de “Prélude à l’Après-Midi d’un Faune”, de Claude Debussy, peça que apresentou em primeira audição no Brasil, em 1908.
Retornou ao Brasil em 1895, e, assumiu a cadeira de professor de órgão do Instituto Nacional de Música. Em 4 de agosto daquele ano, realizou um recital histórico em que apresentou, pela primeira vez, uma série de canções de sua autoria, todas em português. O evento marcou o início de uma campanha que lhe rendeu muitas críticas e censuras, pela nacionalização da música erudita brasileira por meio do idioma. A polêmica tomou conta da imprensa e Nepomuceno defendeu sua posição contra o crítico Oscar Guanabarino, defensor ardoroso do canto em italiano, afirmando: “Não tem pátria um povo que não canta em sua língua”.
Em 1896, Alberto Nepomuceno assumiu a direção da Associação de Concertos Populares e promoveu recitais com repertórios europeu e brasileiro. No ano seguinte, apresentou várias de suas composições sinfônicas, como a “Sinfonia em Sol Menor”, “As Uiaras” (coro feminino e orquestra) e a “Série Brasileira”, de clara orientação nacionalista pela utilização de temas do populário nacional e pelo clima brasileiro obtido na composição. Tornou-se diretor do Instituto Nacional de Música em 1902, cargo que retomou em 1906 e exerceu até 1916.
Em 1907 iniciou a reforma do Hino Nacional Brasileiro, tanto na forma de execução quanto na letra de Osório Duque Estrada, e, no ano seguinte, promoveu, no Instituto Nacional de Música, o concerto de violão do compositor popular Catulo da Paixão Cearense, o que causou grande revolta nos críticos mais ortodoxos, que consideraram o acontecimento “um acinte àquele templo da arte”. Em 1910, financiado pelo governo brasileiro, realizou diversos concertos com músicas de compositores nacionais em Bruxelas, Genebra e Paris. Em 1913, sua ópera Abul, de 1905, estreou em Buenos Aires e seguiu para Montevidéu, Rio de Janeiro e São Paulo, sendo executada em Roma, em 1915.
Alberto Nepomuceno foi um dos primeiros a divulgar a obra de Heitor Villa-Lobos, incluindo-a nos concertos no Theatro Municipal, em 1917, além de promover suas primeiras edições. Ele chegou a exigir que as edições de suas obras, distribuídas pela Casa Arthur Napoleão, contivessem, na contracapa, alguma partitura do jovem compositor.
Responsável pela tradução do Tratado de Harmonia de Schöenberg, Nepomuceno tentou, em 1916, implantá-lo no Instituto, mas encontrou forte oposição do corpo docente e pediu demissão. Separado de Walborg e com sérias dificuldades financeiras, foi morar com Frederico Nascimento em Santa Teresa. Seu último concerto no Teatro Municipal aconteceu em 1917. Muito doente e enfraquecido, faleceu em 16 de outubro de 1920, aos 56 anos de idade. É o Patrono da Cadeira nº 30 da Academia Brasileira de Música.
Obra
Alberto Nepomuceno é considerado um dos primeiros compositores a empregar ritmos, gêneros e temas caracteristicamente brasileiros em suas obras. A “Série Brasileira”, de 1897, considerada o marco inicial do nacionalismo, mescla temas folclóricos, gêneros urbanos cariocas, melódica nordestina e ritmos afro-brasileiros. Depois dessa composição, não voltou a usar elementos folclóricos de maneira tão explícita, mas procurou fundi-los a elementos da vanguarda francesa e do nacionalismo europeu.
Considerado, em sua época, compositor moderno, foi esquecido após sua morte por conta do modernismo nacionalista iniciado com a Semana de Arte de 1922, que o adjetivou como “romântico” e “passadista”. Mas Alberto Nepomuceno foi responsável pela introdução, na música brasileira, de alguns dos mais modernos recursos técnicos então existentes na Europa, como a escala de tons inteiros, a harmonia suspensa e a bitonalidade.
De sua obra se destacam as composições para piano e as canções, assim como o Trio para violino, violoncelo e piano, os três Quartetos de Cordas, a “Sinfonia em Sol menor”, a abertura “O Garatuja”, e as “Seis Valsas Humorísticas”, para piano e orquestra.