Quer saber como manter a depressão sob controle? De acordo com uma nova pesquisa, aprender a tocar um instrumento musical como o piano tem a capacidade de acalmar o indivíduo.
Segundo o estudo publicado na revista Nature Scientific Reports conduzido pela equipe da Universidade de Bath, na Inglaterra, os iniciantes que passaram a ter aulas de piano por apenas uma hora por semana durante quase um ano relataram melhorias significativas no reconhecimento de mudanças audiovisuais no ambiente e relataram menos depressão, estresse e ansiedade.
Como o estudo foi feito?
No estudo de controle randomizado, adultos foram divididos em três grupos: treinamento musical, audição musical e de controle. Indivíduos sem experiência ou treinamento musical prévio foram orientados a realizar aulas semanais de piano de uma hora de duração.
Segundo o estudo, cada “sessão de treinamento musical” incluiu dois segmentos. O primeiro, de 20 minutos, foi dedicado ao exercício dos dedos. O segundo, de 40 minutos, consistiu em aprender a tocar algumas músicas, como a tradicional canção folclórica americana, “When The Saints Go Marching In”, a “Aria em Fá Maior” de Johann Christian Bach, e a transcrição de “La Donna È Mobile”, da ópera Rigoletto de Giuseppe Verdi.
Todas as aulas foram realizadas individualmente e, de acordo com a tradição, os alunos passaram para a próxima música assim que conseguiram tocar a anterior de maneira “correta e fluente”, disse o estudo.
Enquanto isso, os grupos de controle apenas ouviam música ou aproveitavam o tempo para realizar atividades cotidianas como o serviço doméstico ou mesmo ler.
Resultados do estudo
Os investigadores descobriram que apenas algumas semanas após o início das aulas, a capacidade das pessoas para processar informação multissensorial – ou seja, visão e audição – foi aprimorada.
O mais importante é que a melhoria do “processo multissensorial” traz benefícios para quase todas as atividades do ser humano – desde dirigir um veículo e atravessar uma rua, até encontrar alguém no meio de uma multidão ou assistir televisão. E essas melhorias multissensoriais estenderam-se além das habilidades musicais.
Com o treinamento musical, o processamento audiovisual das pessoas tornou-se mais preciso em outras tarefas. Aqueles que receberam aulas de piano mostraram maior precisão em testes em que os participantes foram solicitados a determinar se “eventos” de som e visão ocorriam ao mesmo tempo.
Isso era verdade tanto para telas simples, que apresentavam flashes e bipes, quanto para telas mais complexas, que mostravam uma pessoa falando, por exemplo. Esse ajuste fino das habilidades cognitivas dos indivíduos não estava presente no grupo de audição musical – em que os participantes apenas ouviam a música tocada pelo grupo musical – ou no grupo não musical, em que os membros estudavam ou liam.
“Sabemos que tocar e ouvir música muitas vezes traz alegria às nossas vidas, mas com esse estudo estávamos interessados em aprender mais sobre os efeitos diretos que um curto período de aprendizagem musical pode ter nas nossas capacidades cognitivas”, explicou a Dra. Karin Petrini, psicóloga cognitiva e especialista em música da instituição inglesa.
“Aprender a tocar um instrumento como o piano é uma tarefa complexa: exige que o músico leia uma partitura, gere movimentos e monitore o feedback auditivo e tátil para ajustar suas ações futuras. Em termos científicos, o processo combina pistas visuais com auditivas e resulta em um treinamento multissensorial para os indivíduos”, disse a pesquisadora.
Benefícios do piano para a saúde mental
Além disso, as descobertas foram além das melhorias nas habilidades cognitivas, mostrando que os participantes também tiveram pontuações reduzidas de depressão, ansiedade e estresse após o treinamento, em comparação com o período anterior ao estudo. Os cientistas sugerem, portanto, que o treino musical pode ser benéfico para pessoas com dificuldades de saúde mental, e estão realizando mais pesquisas para comprovar isso.
“As descobertas do nosso estudo sugerem que isto tem um impacto significativo e positivo na forma como o cérebro processa a informação audiovisual, mesmo na idade adulta, quando a plasticidade cerebral é reduzida”, afirmou a Dra. Petrini, abrindo um amplo leque de possibilidades de estudos e desenvolvimento humano e corroborando a afirmação de que o estudo do piano é, além de prazeroso, um excelente remédio!
