Formação mais constante do jazz, o combo piano-baixo-bateria rendeu ótimos frutos também em outros gêneros e estilos, por conta da bem equilibrada divisão de papéis.
Essa formação teve como uma de suas origens a necessidade de alternativas instrumentais às big bands, conjuntos que dominaram o cenário da década de 1930 nos Estados Unidos.
Pianistas de talento, que não conseguiam – ou podiam – demonstrar toda a habilidade que possuíam dentro de um arranjo pré-concebido, passaram a realizar e frequentar as famosas JAM Sessions (Jazz After Midnight), encontros de músicos em bares e clubes após a meia-noite, depois das apresentações pagas.
Daí a se apresentarem acompanhados apenas de baixo e bateria, em pequenos bares e casas noturnas, foi um passo. O formato agradou tanto ao público e aos músicos que se estabeleceu como um dos mais tradicionais da história da música.
Um dos pioneiros no formato foi o pianista Nat King Cole, que, em 1937, apresentou um trio formado por piano, baixo e guitarra. Essa formação também foi utilizada por Art Tatum, Lennie Tristano, Vince Guaraldi e Oscar Peterson, na chamada fase pré-bebop da história do jazz.
Todos eles, posteriormente, substituíram a guitarra pela bateria. Esse formato se consolidou ao delegar ao piano a condução melódico-harmônica, ao passo que baixo e bateria se encarregam de imprimir o ritmo e dar sustentação às improvisações, o que constituiu uma nova e característica sonoridade.
Na década seguinte, Bud Powell, Thelonious Monk e Erroll Garner, entre outros, reproduziram o modelo e popularizaram o formato, abrindo caminho para o surgimento de importantes trios como os de George Shearing, Ahmad Jamal, Horace Silver, Paul Bley e McCoy Tynner.
Conhecido também como jazz trio, a formação piano-baixo-bateria, geralmente, tem o pianista como líder e utiliza o nome dele, apesar da unidade estilística do conjunto ser fundamental para o sucesso do grupo e muitos baixistas e bateristas terem se destacado nessa formação.
A arte do trio piano-baixo-bateria passou a ser mais interativa e muito mais exigente em matéria de harmonia e dinâmica no início da década de 1960, a partir da concepção do Bill Evans Trio (Scott LaFaro no baixo e Paul Motian na bateria).
Famosos exemplos são o Vince Guaraldi Trio, com Fred Marshall e Jerry Granelli; Brad Mehldau Trio com Larry Grenadier no baixo e Jeff Ballard na bateria; e Keith Jarrett Trio com o baixista Gary Peacock e o baterista Jack DeJohnette. Herbie Hancock, Michel Petrucciani, Tommy Flanagan, Chick Corea e muitos outros também se renderam à já tradicional formação.
Jazz Trio no Brasil
Se a harmonia da bossa nova foi inspirada pelo jazz e toda música produzida nas décadas de 1940 e 1950 foi fortemente influenciada pelos estilos nascidos nos Estados Unidos, é compreensível que as formações instrumentais também refletissem essa tendência, mesmo que com atraso.
Aproveitando a liberdade que o formato piano-baixo-bateria dá ao músico, ao mesmo tempo em que cria uma base sólida para acompanhamento de outros instrumentos ou canto, a bossa nova e o samba jazz foram territórios fecundos para os trios no Brasil.
O mais famoso deles, o Zimbo Trio, é o mais longevo conjunto instrumental brasileiro. Formado por Amilton Godoy (piano), Luiz Chaves (contrabaixo) e Rubens Barsotti (bateria) em 1964, o grupo manteve a mesma formação ao longo de quase quatro décadas de atuação.
A carreira deslanchou em 1965, quando se tornou o conjunto oficial do programa O Fino da Bossa, da TV Record, acompanhando cantores e cantoras que estavam despontando naquela época, como Elis Regina e Jair Rodrigues.
Essa admirável máquina instrumental jazzística foi a maior representante da fase áurea dos trios instrumentais de bossa nova, ao lado de Tamba Trio (formado por Luiz Eça, Bebeto Castilho e Hélcio Milito), Jongo Trio (Cido Bianchi, Sabá e Toninho), Sambalanço Trio (César Camargo Mariano, Humberto Cláiber e Airto Moreira) e Milton Banana Trio, comandado pelo baterista. Atualmente, o formato piano-baixo-bateria vem ganhando novo impulso graças a grupos como o Trio Corrente, o Trio Curupira e outros.