A canção de Natal “Noite Feliz” é uma das mais conhecidas e executadas no mundo inteiro nesta época de festas.
Declarada patrimônio cultural imaterial pela UNESCO em 2011, a música, praticamente obrigatória nas celebrações por todo o mundo, foi composta em 1818 por Franz Xaver Gruber, sobre letra original do jovem padre Joseph Mohr, na pequena cidade de Oberndorf bei Salzburg, na atual Áustria.
História da sua composição
A canção, chamada “Stille Nacht” no original alemão (“Noite Silenciosa”), foi apresentada pela primeira vez na véspera de Natal daquele ano na igreja de São Nicolau. Os detalhes da composição, no entanto, geram controvérsias.
Segundo a lenda, Franz Xaver Gruber, professor e organista em Arnsdorf, uma vila vizinha à Oberndorf, recebeu a visita do padre e amigo Joseph Mohr lhe pedindo que compusesse uma melodia e um acompanhamento de violão, sobre um poema que ele havia escrito, para a missa daquela mesma noite, porque a enchente do rio Salzach, que banhava a vila, havia danificado o órgão da igreja.
Algumas fontes dizem que ele a havia escrito em 1816, para uso em outra paróquia ao qual estava vinculado.
Também se diz que o padre escreveu a letra no caminho até a casa de Gruber, pois Mohr não estaria procurando pelo músico propriamente, mas por um instrumento para ser tocado na Missa do Galo, já que o órgão de sua paróquia teria tido os foles roídos por ratos.De qualquer modo, o padre teria inspirado sua letra no humilde nascimento de Jesus em Belém.
Com o passar dos anos, como o manuscrito original havia se perdido, o nome de Mohr foi esquecido e, embora Gruber fosse conhecido como o compositor, muitas pessoas presumiram que a melodia havia sido escrita por um compositor famoso, como Haydn, Mozart, Beethoven ou Schubert.
No entanto, em 1995, um manuscrito com a caligrafia de Mohr foi descoberto e datado pelos pesquisadores como da década de 1820.
Segundo o documento, Mohr escreveu a letra em 1816, quando foi designado para uma igreja de peregrinos em Mariapfarr, Áustria, e mostra que a música foi composta por Gruber em 1818, originalmente para violão e flauta, tendo recebido arranjo para coral logo em seguida.
Primeiras apresentações
Karl Mauracher, um construtor de órgãos que fazia a manutenção do instrumento na igreja de Oberndorf, ficou apaixonado pela música e levou a composição para casa, em Zillertal. A partir daí, duas famílias viajantes de cantores, os Strassers e os Rainers, incluíram a música em seus shows.
Os Rainers já a cantavam por volta do Natal de 1819 e, certa vez, a apresentaram para um público que incluía Francisco I da Áustria e Alexandre I da Rússia, além de fazer a primeira apresentação da música nos Estados Unidos, na cidade de Nova York em 1839. Na década de 1840, a canção era bem conhecida na Baixa Saxônia e era considerada a favorita de Frederico Guilherme IV da Prússia. Durante esse período, a melodia mudou ligeiramente para se tornar a versão comumente tocada hoje.
Novos arranjos por Gruber vieram pouco antes de sua morte, em 1863. Em 1845, o primeiro arranjo para orquestra surgiu, e em 1855, um novo arranjo para órgão. A primeira edição foi publicada por Friese, em 1833, em uma coleção de “Quatro Canções Tirolesas Genuínas”.
A partir de então, já foi traduzida para cerca de 300 idiomas e gravadas por inúmeros artistas de vários estilos. A versão em língua portuguesa, usada nas celebrações cristãs dos países lusófonos, foi escrita pelo frei alemão, naturalizado brasileiro, Pedro Sinzig, rebatizada como “Noite Feliz”. Também há uma versão portuguesa, denominada “Noite de Paz”.
A igreja onde originalmente a canção foi apresentada foi demolida no começo do século 20 por sofrer com constantes alagamentos causados pelo rio Salzach.
Em um local 800 metros mais alto, foi construída, entre 1920 e 1930, a Capela Memorial da Noite Silenciosa (Stille-Nacht-Gedächtniskapelle), que ilustra este artigo e que, apesar de acolher só 20 pessoas, recebe por ocasião das festas natalinas cerca de 7 mil peregrinos para a missa de Natal e quase 2 mil turistas anualmente.