Considerado um dos mais importantes compositores da transição do final do século 19 para o início do século 20, o pianista russo Alexander Scriabin é conhecido por sua abordagem inovadora da harmonia, do ritmo e da forma musical, bem como por sua exploração da música como uma forma de expressão mística e espiritual.
Alexander Scriabin e o início da sua relação com a música
Alexander Nikolayevich Scriabin nasceu em 6 de janeiro de 1872 em Moscou na Rússia, sexto filho de uma família aristocrática. A família de Scriabin apreciava a música, e ele cresceu em um ambiente onde ela era valorizada e incentivada. Seu pai era um advogado bem-sucedido que tocava piano como hobby.
Sua mãe, aluna do famoso pianista e pedagogo Theodor Leschetizky, era pianista concertista e morreu quando Alexander tinha apenas 1 ano de idade. Após a morte da mãe, o pai de Alexander se mudou para Turquia ao se tornar um diplomata, deixando o pequeno sobre os cuidados da família da avó. Lyubov, a tia dele, era pianista amadora e frequentemente tocava quando ele lhe pedia.
Alexander começou a estudar piano aos seis anos de idade e começou a dar concertos públicos aos nove. Entre seus professores da época pode ser citado o pianista e compositor Vasily Safonov. Em 1888, ingressou no Conservatório de Moscou, onde estudou piano com Nikolai Zverev – que também foi professor de Sergei Rachmaninoff e outros prodígios do piano – e Anton Arensky, e teoria musical com Sergei Taneyev. Se tornou um pianista notável, apesar de suas mãos pequenas que mal conseguiam alcançar uma nona.
Início como compositor
Sentindo-se desafiado por Josef Lhévinne, lesionou a mão direita enquanto praticava “Réminiscences de Don Juan”, de Franz Liszt, e “Islamey”, de Mily Balakirev. Seu médico disse que ele nunca se recuperaria e isso, certamente, contribuiu para que ele voltasse suas energias para a composição. Nessa época, escreveu sua primeira obra-prima em grande escala, a Sonata para piano nº 1 em Fá menor.
Em 1892, graduou-se em execução de piano, mas não concluiu o curso de composição por conta de sua forte personalidade, das diferenças musicais com Arensky e de uma relutância em compor peças em formas que não lhe interessavam.
Em agosto de 1897, Scriabin casou-se com a pianista Vera Ivanovna Isakovich, com quem teve quatro filhos, e fez uma turnê pela Europa, culminando em um concerto de sucesso em 1898 em Paris. Naquele ano, se tornou professor no Conservatório de Moscou e começou a estabelecer sua reputação como compositor. Durante esse período, compôs o seu ciclo de estudos, Op. 8, vários conjuntos de prelúdios e seu único concerto para piano, entre outras obras, principalmente para piano.
No inverno de 1904, Scriabin e sua esposa se mudaram para a Suíça, onde ele começou a trabalhar em sua Sinfonia nº 3. A obra foi apresentada em Paris em 1905, onde Scriabin foi acompanhado por Tatiana Fyodorovna Schloezer – uma ex-aluna e sobrinha de Paul de Schlözer. Separado legalmente de sua esposa, teve outros filhos com Tatiana.
Durante esse período, teve contato com a Sociedade de Teosofia e os ensinamentos de Helena Petrovna Blavatsky, que se tornariam, ao lado de sua admiração por Nietzsche, a base intelectual de seus esforços musicais e filosóficos, e começou a explorar ideias místicas e esotéricas em sua música, incorporando elementos de simbolismo e numerologia em suas composições,
Com a ajuda de um patrocinador, Alexander Scriabin passou vários anos viajando pela Suíça, Itália, França, Bélgica e Estados Unidos, trabalhando em mais peças orquestrais, incluindo várias sinfonias. Começou também a compor “poemas” para piano, forma a que está particularmente associado.
Em 1907, se estabeleceu em Paris com sua família e se envolveu em uma série de concertos organizados pelo empresário Sergei Diaghilev, que promovia ativamente a música russa no Ocidente. Posteriormente, se mudou para Bruxelas. Em 1909, retornou à Rússia e se estabeleceu em Moscou. Foi nomeado professor de piano no Conservatório de Moscou, mas renunciou ao cargo em 1911 para se dedicar exclusivamente à composição.
Scriabin foi profundamente influenciado pela filosofia ocultista e mística, que teve impacto significativo em sua música. Ele acreditava que a música poderia ter um efeito transformador sobre a consciência humana e queria criar uma “religião” da arte baseada em suas ideias.
No fim de sua vida, estava trabalhando em uma obra monumental chamada “Mysterium”, que ele descreveu como uma “obra de arte total” que combinaria música, dança, teatro e elementos de misticismo e espiritualidade, a ser apresentada nas montanhas do Himalaia, que causaria “uma grandiosa síntese religiosa de todas as artes que anunciaria o nascimento de um novo mundo”. Infelizmente, morreu em 27 de abril de 1915, aos 43 anos, antes de concluir a obra, por causa de uma infecção sanguínea contraída após ter sido picado por um mosquito.
A obra para piano
Alexander Scriabin escreveu obras em vários gêneros musicais, incluindo ópera, sinfonia e música de câmara, mas é especialmente conhecido por suas obras para piano, que muitas vezes apresentam complexas figuras de arpejo, harmonias cromáticas e polirritmia, consideradas fundamentais para o repertório pianístico.
Algumas de suas mais importantes composições para piano incluem as dez sonatas para piano – incluindo a Sonata No. 2 em Sol sustenido menor, Op. 19, conhecida como a “Sonata-Fantasia”, e a Sonata No. 5 em Fá sustenido maior, Op. 53 – as duas coleções de Estudos para piano, Op. 8 e Op. 42, que exploram uma ampla variedade de técnicas pianísticas avançadas.
Além dessas, devem ser citadas a Fantasia em Si menor, Op. 28, o Prelude e Noturno para a mão esquerda, Op. 9 – peça sombria e introspectiva escrita para o pianista Paul Wittgenstein, que perdeu o braço direito na Primeira Guerra Mundial – e a Sonata-Fantasia em Lá menor, Op. Póstumo, obra inacabada que é considerada uma das últimas composições de Alexander Scriabin e um exemplo do estilo altamente experimental que ele estava desenvolvendo no fim de sua carreira.