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Tia Amélia

Tia Amélia, a primeira-dama do choro

Tia Amélia

Considerada sucessora de Chiquinha Gonzaga no piano brasileiro, Tia Amélia fez história tanto pela sua técnica invejável quanto pela predileção pelo choro, legado que recebeu diretamente de Ernesto Nazareth.

Tia Amélia e sua ligação com piano

Nascida em Jaboatão, em Pernambuco, em 25 de maio de 1897, Amélia Brandão Nery, aos quatro anos, já tocava piano de ouvido. A família era de músicos: o pai era violonista, clarinetista e regente da banda da cidade, e a mãe tocava piano. Aos seis, Amélia iniciou as aulas de música e aos 12 compôs a valsa “Gratidão”.

Dedicando-se à música erudita, desejava ser artista, mas o pai, conservador, não queria uma filha musicista, a menos que fosse para cantar na igreja, e tentou impedi-la de seguir carreira na música. Amélia casou-se então, aos dezessete anos, com um rico fazendeiro, em casamento arranjado por seu pai, e foi morar na fazenda do sogro, que faleceu dois anos depois.

O marido costumava dizer que piano era só para embalar os filhos que iam nascer. Amélia passou, então, a estudar o folclore musical das cercanias da cidade de Jaboatão.

pianista Tia Amélia

Início da carreira

De sua ida para Recife, aos 25 anos com quatro filhos, pairam dúvidas sobre o real motivo. Diz a história que o engenho do marido teve que ser vendido, bem como a fazenda, por conta de dívidas acumuladas e, após a perda total dos bens, ele não resistiu e morreu vitimado por um colapso, deixando-a viúva.

Mas parentes dizem que, decidida a se dedicar ao instrumento, Amélia fugiu da fazenda onde morava, se instalou em Recife com os filhos e passou a dizer que era viúva, sem mais mencionar o nome do marido. Traumatizada com a relação, ela nunca mais se casou e não gostava de tocar no assunto.

Segundo a biógrafa Jeanne de Castro, “ela não se dizia feminista, mas era”. Decidida a seguir carreira na música, Amélia foi contratada pela Rádio Clube de Pernambuco, onde começou a fazer sucesso.

Em 1929, para esclarecer uma questão de direitos autorais a respeito da gravação de uma composição sua sem autorização pela Odeon, foi ao Rio de Janeiro e, ali, foi contratada para se apresentar no antigo Teatro Lírico.

O sucesso do concerto lhe rendeu a alcunha de “a coqueluche dos cariocas” e lhe abriu as portas para gravações e apresentações em diversas rádios, como Mayrink Veiga, Sociedade e Rádio Clube do Brasil.

Tia Amélia tocando piano

Como se tornou primeira-dama do Choro

Depois de um breve retorno ao Recife, fixou-se no Rio a partir de 1931, onde gravou várias composições suas, entre as quais “Bichinha” e “Vá chorar, meu bem”, com a Orquestra dos Batutas e sua filha, a cantora Silene de Andrade.

Segundo o pianista Hércules Gomes, que estuda a obra da compositora e gravou um disco em sua homenagem, antes de Ernesto Nazareth morrer, em 1934, ele se teria se encontrado com a pianista e dito: “Quando eu morrer, continue com o choro, não deixe o choro morrer”.

A partir daquele momento, ela teria abandonado clássicos como Franz Liszt e Frederic Chopin e passado a se dedicar totalmente ao ritmo brasileiro.

A partir de 1933, a convite do Itamarati e a pedido do presidente Getúlio Vargas, realizou excursão pelas Américas com sua filha, representando o Brasil como artista e apresentando composições inspiradas no folclore brasileiro, visitando os Estados Unidos, a Venezuela e a Costa Rica, entre outros.

Acabou se fixando nos Estados Unidos, onde permaneceu por seis anos. Em Washington, chegou a jantar com o presidente Franklin Delano Roosevelt e esteve em contato com celebridades como Greta Garbo e Shirley Temple.

Foi contratada por uma emissora de rádio da cidade de Schenectady, tendo trabalhado cinco meses sob o patrocínio da empresa General Electric. Posteriormente, trabalhou também em Nova York e Nova Orleans.

Tia Amélia

Ascensão da carreira

Após o sucesso no exterior, Amélia retornou ao Brasil, em 1939, excursionando por quase todo o País. Foi contratada como pianista pela Rádio Clube de Pernambuco e pelo Jornal do Comércio.

Com o casamento da filha, retirou-se da cena musical. Apresentou-se apenas uma vez no Theatro Municipal de São Paulo, decidida a encerrar sua carreira e não mais tocar em público. Passou a residir no interior paulista, na cidade de Marília, mudando-se depois para Goiânia.

Ali, em 1954, conheceu a cantora Carmélia Alves que, empolgada ao ouvi-la tocar valsas e choros, a convenceu a retomar a carreira artística. Voltou a apresentar-se, então, no Rio de Janeiro e em São Paulo, com um repertório de chorinhos de sua autoria e com o nome artístico de Tia Amélia.

Trabalhou na Rádio Nacional, no Clube da Chave e em outros clubes cariocas. Em São Paulo, atuou nas TV Record, Tupi e Paulista. Na mesma época, Vinicius de Moraes dedicou a ela a crônica “A Benção, Tia Amélia!”, na qual dizia que percorreria um continente para vê-la e que ela era “uma ressurreição de Chiquinha Gonzaga com bossas novas”.

Seu virtuosismo a levou a conviver com Pixinguinha e a frequentar os saraus na casa de Jacob do Bandolim, onde, além dos chorinhos, tocava música regional nordestina, maxixes e valsas.

Sucessos da carreira

Apresentou o programa Velhas Estampas, na TV Rio, em que tocava piano, contava histórias dos tempos de juventude e interpretava suas composições. Foi convidada pela Odeon a gravar o LP “Velhas Estampas”, onde registrou ao piano uma série de composições suas, entre as quais, “Dois Namorados”, “Chora, Coração”, “Sorriso de Bueno” e “Bordões ao Luar” (título escolhido por Vinícius de Moraes), entre outras, contando com o acompanhamento da Banda Vila Rica.

Recebeu com o disco o prêmio de melhor solista e compositora do ano.
Em 1960 foi contratada pela TV Tupi do Rio de Janeiro para fazer uma retrospectiva da época áurea do choro brasileiro. No mesmo ano gravou ao piano na RCA Victor os choros “Cuica no Choro” e “Bom Dia Radamés Gnattali”, de sua autoria.

Lançou ainda o LP “Músicas da vovó no piano da titia”, pela Odeon. Fez sua última gravação em 1980, aos 83 anos, pelo selo Marcus Pereira Discos, para o LP “A Benção, Tia Amélia”, em que interpretava 12 composições inéditas, das mais de 200 que se acredita que tenha escrito, das quais apenas 60 choros têm registros, pois muitas das partituras com suas composições, datadas das primeiras décadas do século 20, acabaram se perdendo.

Tia Amélia faleceu em 1983, aos 86 anos de idade.

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