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Ernesto Nazareth

Ernesto Nazareth – o mestre “pianeiro”

Ernesto Nazareth

Chamado de “pianeiro”, Ernesto Nazareth é considerado um dos mais importantes compositores nacionais para o piano, admirado tanto por chorões quanto por concertistas

Os limites entre música erudita e popular nem sempre são claros. Em exemplos extremos, fica evidente a qual definição cada um pertence, mas, em outros casos, a diferenciação não é assim tão fácil.

A obra de Tom Jobim é um exemplo, pois, ao mesmo tempo em que possui influência do samba e do jazz (estilos populares) e melodias facilmente assimiláveis, apresenta complexidade harmônica que lembra o piano de Chopin. Também vale lembrar que Jobim teve formação erudita, por isso a alcunha de “maestro” pela qual é conhecido.

Um outro regente, Heitor Villa-Lobos, incluiu em suas composições elementos do folclore brasileiro e levou instrumentos de percussão como o pandeiro para a música orquestral. Ernesto Nazareth foi um artista cuja obra se situa nessa linha tênue que separa os dois estilos.

Biografia de Ernesto Nazareth

 Ernesto Nazareth

Ernesto Julio Nazareth nasceu em 20 de março de 1863, no Rio de Janeiro. Filho de uma pianista, Dona Carolina, aprendeu na infância peças de Chopin, Beethoven e polcas. Após a morte da mãe, em 1873, a educação musical do menino ficou por conta de professores particulares de piano, com os quais estudou por cerca de dois anos, até decidir seguir sozinho como autodidata.

Aos 14, Nazareth compôs sua primeira música, a polca-lundu “Você Bem Sabe”, editada no ano seguinte. Depois desta, vieram “Gentes! O Imposto Pegou?”, “Gracieta”, “O Nome Dela”, “Cruz, perigo!” e “Não Caio N’Outra”, seu primeiro sucesso.

A primeira apresentação pública da qual se tem notícia data de 1880, quando o artista tinha 17 anos. Mas foi em 1885 que a carreira do pianista deslanchou, sendo convidado para tocar em vários clubes cariocas.

No ano seguinte, se casou com Teodora Amália de Meireles, com quem teve quatro filhos. Sustentava a família vendendo suas composições, dando aulas e tocando em batizados, casamentos e bailes. Em 1893, lançou “Brejeiro”, seu primeiro “tango” estilo que, nas mãos de Nazareth não tem quase nada a ver com o ritmo argentino.

Na verdade, ele se aproximava bem mais do “maxixe”, gênero de dança considerado escandaloso para a época. Justamente por trazer essa carga “popular demais”, o pianista rejeitava a denominação. Também foi um grande compositor de valsas, como “Julita”, “Helena”, “Coração Que Sente” e “Expansiva”, a mais conhecida.

Em 1904, a arte de Nazareth atravessou uma outra fronteira: o pianista norte-americano Ernest Schelling levou uma boa quantidade de partituras do brasileiro para os Estados Unidos.

No ano seguinte, foi lançada a primeira gravação de uma música sua: “Brejeiro”, que ganhou letra escrita pelo trovador Catullo da Paixão Cearense e foi rebatizada como “O Sertanejo Enamorado”.

Em 1908, Nazareth foi contratado pela Casa Mozart como demonstrador. Como, na época, gravações eram muito raras, as lojas de partitura costumavam ter um pianista para mostrá-las aos clientes. Caso gostasse da música tocada, o freguês a comprava para executar em casa (lembrando, também, que no início do século 20, toda família de classe média ou alta tinha um piano). Relatos da época mostram que o músico era rigoroso quanto à execução de suas peças.

Em 1909, acompanhou um jovem violoncelista chamado Heitor Villa-Lobos na execução de Le Cygne, de Saint-Saëns, em um concerto no Instituto Nacional de Música. Em 1910, Nazareth passou a dividir suas atividades na Casa Mozart com um emprego na sala de espera do Cine Odeon. Antes do filme começar, a plateia era entretida por ele, que executava peças de autores consagrados como Listz, Chopin, e também as de autoria própria. É dessa época seu maior sucesso, o “tango” “Odeon”, peça feita para piano (como todas de Nazareth) que caiu nas graças dos violonistas.

Estudantes de ambos os instrumentos irão se deparar mais cedo ou mais tarde com a música, cuja principal dificuldade é manter o andamento. Mas “Odeon” não é caso único na obra do artista, que, por reproduzir a sonoridade de uma roda de choro no piano, não é estudada e admirada apenas por quem se dedica às teclas. Um outro exemplo é “Apanhei-te Cavaquinho”.

Nazareth deixou o cinema em 1913 e retornou em 1917, quando passou a ser colega de Villa-Lobos na pequena orquestra que lá se apresentava. Durante essa segunda estadia no estabelecimento (que durou só até 1918), conheceu Arthur Rubinstein, Darius Milhaud e Francisco Mignone.

Em 1919, passou a trabalhar como demonstrador da Casa Carlos Gomes e, três anos depois, lançou “O Futurista”, para mostrar aos modernistas que “mesmo que uma música apresente dissonâncias, não precisa ser, necessariamente, desprovida de alguma beleza”.

Em 1925, partiu em turnê por São Paulo. Sua apresentação no Teatro Municipal foi precedida por uma palestra de Mário de Andrade, escritor e musicólogo que dissertou sobre a obra do artista. Essa expedição impulsionou a publicação de mais obras suas, como “Desengonçado” e “Paulicéia”. Em 1928, comemorou 50 anos de carreira, marcada pelo êxito, mas também por uma sensação de fracasso.

Apesar de ter emplacado vários sucessos, Nazareth nunca conseguiu se livrar da pecha de “pianeiro”, como eram chamados aqueles que tocavam em salas de espera e eventos. A opinião da época (e, em certa medida, a atual também), tendia a considerar a música popular como um gênero menor.

Após a morte da esposa, em 1929, o compositor começou a apresentar os primeiros sintomas de depressão, então encarada como loucura. Mas o grande baque aconteceu em 1932, quando teve uma crise nervosa em Montevidéu, Uruguai.

De volta ao Rio, foi diagnosticada sífilis. O grave quadro neurológico o levou à internação em manicômios. Em 1º de fevereiro de 1934, fugiu da Colônia Juliano Moreira. Alguns dias depois, foi encontrado morto.

 Principais obras

Entre 88 tangos, 41 valsas, 28 polcas, sambas, romances, fox-trot e marchinhas, Ernesto Nazareth deixou um legado com obras muito conhecidas de todos os estudantes de piano, revisitadas recentemente pelos mais aclamados pianistas brasileiros e recheadas de recordações e referências, além de releituras.

As mais conhecidas são “Ameno Resedá”, “Apanhei-te Cavaquinho”, “Atrevido”, “Brejeiro”, “Cavaquinho, Por que Choras?”, “Elegantíssima”, “Escorregando”, “Espalhafatoso” e a tradicionalíssima “Odeon”.

O projeto Nazareth, idealizado pela cravista Rosana Lanzelotte e contemplado pelo Programa Natura Musical em 2008, teve como um de seus principais resultados o resgate inédito das 218 peças de Ernesto Nazareth (1863 – 1934), pela primeira vez disponibilizadas em sua totalidade no site www.ernestonazareth.com.br.

 

 

 

 

 

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