Talentoso compositor e pianista, o mineiro Fructuoso Vianna já foi chamado de “orquestrador do piano” e deixou uma obra ímpar para o instrumento.
Fructuoso de Lima Vianna nasceu em 6 de setembro de 1896, na cidade de Itajubá, Minas Gerais. Seu pai, Miguel Arcanjo de Sousa Vianna – advogado, ex-promotor da Comarca de Itajubá e, por várias vezes, Juiz de Direito substituto – era pianista e cantor amador. Seus tios Luiz e José Ramos de Lima foram músicos e compositores.
Início dos estudos de piano
Fructuoso Vianna iniciou os estudos de piano aos 8 anos em sua cidade natal, com a professora Antonina Chambelin Bourret. Em 1908, com apenas 12 anos de idade, exibiu-se em público pela primeira vez no Clube Itajubense, levado por sua mestra com os colegas do curso de música. Em junho de 1912, foi para o Rio de Janeiro, se matriculando na Escola Livre de Música, na classe de Henrique Oswald.
Em 1913, foi admitido no 5º ano de piano do Instituto Nacional de Música (hoje Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro) após o concurso em que alcançou o primeiro lugar, indo estudar com Alzira Manso. Interrompeu os estudos em 1915 para realizar uma longa turnê de concertos por Minas Gerais e São Paulo e, em 1917, foi readmitido, no 7º ano de piano, quando se tornou aluno de Henrique Oswald, Amaral Gouveia e Agnello França. Terminou o curso em 1919 e, nesse mesmo ano, foi levado à casa de Heitor Villa-Lobos, de quem se tornou um dos principais intérpretes.
Em 1920, iniciou suas atividades como compositor, apresentando ao público o Prelúdio N.º 1, Op. 1. A partir de então, deixou prolífica obra, sobretudo de música para piano, canções e obras corais. Integrou como pianista o quinteto constituído de alunos premiados pelo Instituto Nacional de Música, com Mário Ronchini, Gualter Lutz, Newton Pádua e Augusto Vasseur, que atuou a bordo do encouraçado São Paulo durante a viagem dos Reis Alberto I e Elizabeth, da Bélgica, em visita ao Brasil, a convite do Presidente Epitácio Pessoa.
Formou, com o violinista Mário Ronchini e o violoncelista Newton Pádua, o Trio Brasileiro. Foi como integrante do trio que participou da famosa audição privada organizada por Villa-Lobos para o pianista Arthur Rubinstein, em 1921, no Palace Hotel, quando o grande virtuose ouviu pela primeira vez a obra do compositor carioca, da qual passaria a ser um dos defensores.
Como intérprete de Villa-Lobos, participou da Semana de Arte Moderna de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo, e, no ano seguinte, partiu para a Europa a bordo do navio Marseille, onde conheceu Alberto Santos Dumont e deu recitais para os passageiros durante a travessia do Atlântico.
Após estada inicial em Paris, seguiu para Berlim, onde permaneceu por dez meses sob a orientação de Rudolf Hanschild, ex-aluno de Egon Petri, da Escola Busoni. Em seguida, rumou para Bruxelas, na Bélgica, onde foi discípulo de Arthur de Greef, ex-aluno de Liszt. Por fim, residiu em Paris, onde trabalhou o repertório francês moderno com a professora Blanche Selva.
Retornou ao Brasil em 1926, quando conheceu Mário de Andrade. Dedicou-se à carreira de concertista e realizou inúmeros recitais em turnês pelo Brasil. Tornou-se professor de piano do Conservatório Mineiro de Música a partir de 1929 e, no ano seguinte, se transferiu para São Paulo, onde integrou o corpo docente do Conservatório Dramático e Musical.
Em 1938, foi indicado por Camargo Guarnieri para substituí-lo como regente do Coral Paulistano, sendo nomeado por Mário de Andrade. Permaneceu à frente do grupo até 1940 quando, após retorno de Guarnieri da Europa, deixou a função e seguiu para uma série de concertos pelo Rio Grande do Sul. Em 1941, voltou a residir no Rio de Janeiro, onde se engajou no projeto de Canto Orfeônico como professor do Colégio Bennett e da Escola Técnica Nacional.
Após sua aposentadoria, em 1966, enfrentou dificuldades financeiras, o que motivou um abaixo assinado subscrito por artistas e intelectuais brasileiros que solicitaram, em 1973, ao então Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, uma “pensão especial ao artista, ao compositor que muito fez pela arte musical brasileira”.
Assinaram o documento, entre outros, os musicólogos Andrade Muricy, Adhemar Nóbrega e Mozart de Araújo, os escritores Carlos Drummond de Andrade, Josué Montello e Dom Marcos Barbosa, os juristas Raymundo Faoro e Afonso Arinos e os ex-reitores da UFRJ, Pedro Calmon, Djacir Meneses e Raymundo Moniz de Aragão. A última apresentação em público de Fructuoso Vianna aconteceu nesse mesmo ano, na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde foi homenageado pelo Círculo de Arte Vera Janacopulus, com a participação de Edmée Brandi (apresentadora), Irani Leme e Berenice Menegale (pianistas) e Maria Helena Buzelin (cantora).
Fructuoso de Vianna casou-se em março de 1931 com D. Maria Júlia Brasil Vianna (Juju), falecida em 1983, nascida em Ouro Fino. O casal teve duas filhas: Maria Guilhermina Brasil Vianna e Ana Maria Brasil Vianna, que trabalharam para a preservação da memória e das composições musicais de seu pai. O compositor morreu de derrame cerebral, no Rio de Janeiro, em 22 de abril de 1976. Foi sepultado no cemitério São João Batista, no mesmo jazigo em que também repousa sua esposa.