A Sonata para Piano nº14 em Dó sustenido menor, Op. 27, nº 2, de Ludwig van Beethoven, é uma de suas composições mais populares e era uma das favoritas pelo público mesmo em sua época.
Escrita quando Beethoven contava 31 anos, a “Sonata ao Luar” foi composta depois de ele terminar alguns trabalhos encomendados, mas não há evidências de que ele foi contratado para escrever esta obra.
Denominada pelo autor “Quasi una fantasia” – assim como sua companheira, a Op. 27, nº 1 – a peça foi concluída em 1801 e dedicada, no ano seguinte, a uma das pupilas do compositor, a Condessa Giulietta Guicciardi, que se pensava ter sido a misteriosa “Amada Imortal”.
Momento da vida de Beethoven
A Sonata data do ano anterior ao chamado Testamento de Heiligenstadt, o documento no qual Beethoven descreveu a seu irmão o impacto devastador de sua surdez. Nos quatro anos anteriores, ele vinha sofrendo de tinitus, doença que produz zumbido nos ouvidos, e estava tendo problemas para discernir notas agudas.
Temendo que a situação fosse irreversível, tentou mantê-la em segredo e se recolheu, com medo do que as pessoas diriam quando soubessem que o principal virtuose pianista de Viena estava ficando surdo. Além do estigma social, ele sabia que isso provavelmente encerraria sua brilhante carreira.
Alguns associam a qualidade introspectiva e fúnebre dessa música com o estado de espírito de Beethoven quando ele enfrentou o início dessa doença cruel.
Giulietta Guicciardi provavelmente ajudou a dissipar seu desespero e é aceito que ela é a “garota querida e encantadora” a que ele se refere em uma carta para seu amigo Franz Wegeler.
Beethoven confidenciou que estava pensando em casamento, mas que a jovem aristocrática não pertencia à sua classe social. Foi uma época muito difícil para o compositor.
Origem do nome
O nome popular “Moonlight Sonata” é proveniente de uma observação do crítico musical e poeta alemão Ludwig Rellstab, que, em 1832 (cinco anos após a morte de Beethoven), descreveu o famoso movimento de abertura como algo semelhante ao luar tremulando no Lago Lucerna.
A descrição sobreviveu ao compositor e ganhou notoriedade, e, em dez anos, o nome “Moonlight Sonata” (“Mondscheinsonate” em alemão) estava sendo usado em publicações alemãs e inglesas. Mais tarde no século 19, a “Sonata ao Luar” passou a ser universalmente conhecida por esse nome.
Muitos críticos se opuseram à natureza subjetiva e romântica do título “Moonlight”, que às vezes foi chamado de “uma abordagem enganosa de um movimento com o caráter quase de uma marcha fúnebre” e “absurdo”. Outros críticos aprovaram o apelido, considerando-o evocativo ou de acordo com sua própria interpretação da obra.
O fundador da Gramophone, Compton Mackenzie, considerou o título “inofensivo”, observando que “é uma tolice os críticos austeros chegarem a um estado de raiva quase histérica com o pobre Rellstab” e acrescentando: “O que esses críticos austeros não conseguem entender é que, se o público em geral não respondesse à sugestão do luar nesta música, a observação de Rellstab teria disso esquecida”.
Movimentos da “Sonata ao Luar”
Beethoven, em muitos aspectos, foi um revolucionário e o grande responsável por promover as convenções e as boas-vindas à era romântica na música erudita. A “Sonata ao Luar” é um excelente exemplo da recusa do compositor Beethoven em seguir padrões.
1º Movimento
À época, a forma sonata estava estabelecida, assim como a sequência rápido-lento-rápido dos movimentos. Em vez disso – e surpreendentemente para a época – ele escolheu abrir a sonata com um movimento lento e hipnótico de arpejos, o mais conhecido de toda a obra. O ritmo pontilhado de sua melodia mínima evoca a tradição da ‘Trauermusik’ (música fúnebre).
Beethoven coloca no início da partitura uma indicação “senza surdina”, se referindo ao pedal direito do piano. Nos pianos da época do compositor, o pedal direito levantava os abafadores (surdinas) das cordas. Ou seja, Beethoven pretendia que o movimento inteiro fosse tocado sem nenhuma surdina nas cordas (com o pedal direito abaixado).
Como os pianos modernos não permitem isso – o nível de projeção é muito maior do que o dos pianos daquela época, criando dissonâncias indesejadas – essa indicação serve como parâmetro para interpretação e não deve ser levada à risca.
2º Momento
O segundo movimento é um minueto com trio, com melodia simples, mas o compositor utilizou mudanças rítmicas com síncopes. A atmosfera é bem leve e alegre.
3º Momento
O terceiro movimento é o mais extenso e “dramático”. De uma dificuldade técnica muito grande, tem forma sonata. O tema principal é heroico e turbulento, e o segundo tema mais lírico e melódico. No final do movimento, Beethoven apresenta uma coda estendida (o que a partir de então começa a se tornar uma constante em sua obra para piano).
A popularidade excepcional da obra remonta aos dias de Beethoven, que comentou em uma carta que seu grande sucesso o intrigou; ele tinha certeza de que havia escrito peças melhores do que essa. No entanto, seu apelo nunca diminuiu. A natureza da música, tão fortemente definida, transmite sua mensagem a todas as idades.
O uso da “Sonata ao Luar” de Beethoven no cinema e na televisão ajudou a mantê-la conhecida pelo grande público. Filmes como “Persuasão”, “Entrevista com O Vampiro”, “Rosa de Luxembourg”, “O Pianista”, “História de Amor” e até mesmo “Sid And Nancy” (sobre Sid Vicious do The Sex Pistols) são apenas alguns dos muitos que incluem a obra em sua trilha sonora.