Reconhecido como um dos músicos mais inovadores e influentes da história do jazz, Chick Corea foi um compositor, pianista e tecladista de uma vasta gama de estilos, que incluem o jazz tradicional, o jazz fusion, a música clássica e até o rock.
Sua carreira de mais de seis décadas se estendeu por uma infinidade de colaborações e projetos solo, durante os quais ele construiu uma discografia imensa e diversificada. Não apenas um virtuose do piano, mas também um verdadeiro visionário da música contemporânea, Corea ajudou a moldar o curso do jazz moderno, influenciando gerações de músicos com sua habilidade técnica, ousadia harmônica e busca incessante pela inovação.
História
Armando Anthony “Chick” Corea nasceu em 12 de junho de 1941, em Chelsea, Massachusetts, Estados Unidos, em um ambiente musicalmente fértil. Seu pai, Armando J. Corea, era trompetista de jazz e um ávido colecionador de discos, o que proporcionou a Corea um contato precoce com o gênero. Desde cedo, ficou evidente o talento de Chick, que começou a explorar o piano aos quatro anos de idade.
Com oito anos, Corea começou a ter aulas com o pianista de concerto Salvatore Sullo, influência notável que o apresentou à música clássica, ajudando a despertar seu interesse pela composição musical.
Depois de ganhar um smoking preto de seu pai, Corea começou a fazer shows enquanto ainda estava no ensino médio. Acabou se mudando para a cidade de Nova York, onde estudou música na Universidade de Columbia e, depois, se transferiu para a Juilliard School. Mais tarde, desistiu dos cursos para poder passar mais tempo fazendo shows.
Foi durante esse período que ele começou a explorar as possibilidades do jazz moderno, afastando-se das formas tradicionais para experimentar novas sonoridades e estilos. Sua técnica no piano foi influenciada por figuras como Bud Powell e Thelonious Monk, que se tornaram grandes referências em sua carreira.
Corea começou sua carreira profissional de gravação e turnês no início dos anos 1960 com Mongo Santamaria, Willie Bobo, Blue Mitchell, Herbie Mann e Stan Getz. Em 1966, gravou seu álbum de estreia, Tones for Joan’s Bones. Em março de 1968, gravou o aclamado álbum de trio, Now He Sings, Now He Sobs, com o baterista Roy Haynes e o baixista Miroslav Vitouš.
A partir de 1968, Corea começou a gravar e fazer turnês com Miles Davis, atuando nos amplamente elogiados álbuns de estúdio de Davis, Filles de Kilimanjaro, In a Silent Way e On the Corner. Uma das principais colaborações com Davis foi no álbum Bitches Brew, de 1970, um marco na história do jazz fusion, que combinava jazz com rock e outros estilos contemporâneos. Ele também tocou em álbuns de compilação posteriores, Big Fun, Water Babies e Circle in the Round, mas deixou a banda de Davis logo após a apresentação no Isle of Wight Festival de 1970.
Chick Corea e o baixista Dave Holland deixaram Davis para formar o Circle, com o saxofonista Anthony Braxton e o baterista Barry Altschul, grupo que se manteve ativo 1970 a 1971. Nesse ano, a pedido do produtor Manfred Eicher, Corea começou a tocar piano solo, gravando as sessões que se tornaram Piano Improvisations Vol. 1 e Piano Improvisations Vol. 2.
Em 1972, Chick Corea fundou sua própria banda, o Return to Forever, que se tornaria um dos grupos mais importantes da cena de jazz fusion. Com formação que inicialmente contava com músicos como Flora Purim nos vocais e percussão, Airto Moreira na bateria e percussão, o guitarrista Bill Connors, o baixista Stanley Clarke e o baterista Lenny White, o Return to Forever passou por várias mudanças ao longo dos anos, mas manteve seu foco na fusão de jazz com rock, música latina, funk e outros estilos. A sonoridade do grupo era inovadora, caracterizada por arranjos complexos, improvisações extensas e uma busca constante pela experimentação sonora.
O álbum Return to Forever, o primeiro da banda, já mostrava a direção inovadora do grupo, combinando o jazz com elementos de música clássica e rock. No entanto, o grande sucesso comercial e crítico do grupo veio com os discos Hymn of the Seventh Galaxy e Where Have I Known You Before, que solidificaram a reputação de Corea como um dos maiores compositores e líderes de banda da cena do jazz fusion.
A sonoridade do Return to Forever combinava sintetizadores, pianos elétricos e teclados, além de apresentar solos virtuosos e composições complexas. Os arranjos eram de uma sofisticação ímpar e cada membro da banda, com sua habilidade técnica, ajudava a impulsionar o grupo para novas direções musicais. A influência do Return to Forever no desenvolvimento do jazz fusion foi imensa, e sua mistura de jazz, rock e música latina pavimentou o caminho para outras bandas de fusão nos anos seguintes.
Em 1976, Corea lançou My Spanish Heart, influenciado pela música hispânica, com a vocalista Gayle Moran (sua esposa) e o violinista Jean-Luc Ponty. O álbum combinava jazz e flamenco, apoiado pelo sintetizador Minimoog e uma seção de metais. Ele colaborou com o guitarrista de flamenco Paco De Lucía anos depois nos álbuns Touchstone e Zyryab.
Corea manteve uma série de colaborações com outros músicos, incluindo os bateristas Tony Williams e Jack DeJohnette, o saxofonista Michael Brecker, e o baixista Eddie Gomez, entre muitos outros. Nos anos 70, começou a trabalhar com o vibrafonista Gary Burton, com quem gravou vários álbuns de duetos, incluindo Crystal Silence de 1972.
No fim da década de 1970, Corea embarcou em uma série de concertos com o colega pianista Herbie Hancock. Esses concertos foram apresentados em ambientes elegantes com ambos os artistas vestidos formalmente e tocando em pianos de cauda de concerto. Os dois tocaram as composições um do outro, bem como peças de outros compositores como Béla Bartók e duetos.
Na década de 1980, Corea começou a se aventurar ainda mais nos teclados eletrônicos e no sintetizador, o que o levou a um novo terreno musical. Foi nesse período que ele gravou alguns de seus trabalhos mais famosos, como Chick Corea Elektric Band e The Continents, que exibiam uma fusão de jazz com o pop, o rock e até a música eletrônica. Em 1982, apresentou The Meeting, um dueto ao vivo com o pianista clássico Friedrich Gulda.
Em 2006, após um longo período de trabalho em várias frentes da música, Corea formou o New Trio, com o baixista Avishai Cohen e o baterista Jeff Ballard. O trabalho do trio foi um retorno às raízes do jazz, focando mais em um formato tradicional de piano, baixo e bateria. Esse projeto reflete a capacidade de Corea de transitar entre diferentes abordagens do jazz sem perder sua identidade única.
Em dezembro de 2007, Corea gravou um álbum de dueto, The Enchantment, com o banjoísta Béla Fleck, com o qual realizou uma extensa turnê. No ano seguinte, foi a vez da pianista japonesa Hiromi Uehara, com quem gravou o álbum ao vivo Duet (Chick Corea e Hiromi).
A busca constante pela inovação foi uma das marcas de Chick Corea. Sua habilidade em integrar música clássica, jazz tradicional e novas tecnologias o colocou como uma figura essencial na música moderna. No entanto, ele nunca se afastou de suas raízes no jazz acústico e clássico, explorando com profundidade a improvisação e a técnica.
Em 2015, ele reprisou a série de concertos de dueto com Hancock, novamente aderindo ao formato de duelo de piano, embora ambos agora integrassem sintetizadores em seu repertório. Em 2019, lançou o álbum Antidote, que combinava jazz com influências da música latina, mais uma vez expandindo as fronteiras do gênero.
Chick Corea faleceu em 9 de fevereiro de 2021, aos 79 anos, vítima de um câncer. Sua morte foi lamentada por músicos e fãs de todos os cantos do mundo, que reconheceram nele não apenas um grande virtuoso, mas um pioneiro da música moderna, cujas inovações abriram novas possibilidades para a música do século 21.
Reconhecido por seu trabalho ao longo da carreira, Chick Corea conquistou mais de 20 prêmios Grammy, sendo uma das figuras mais premiadas do jazz. Sua habilidade como compositor e improvisador foi exaltada em vários círculos, e sua importância no desenvolvimento da música moderna é inegável.