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Piano ludíco

Sonhos e devaneios no piano

Piano ludíco

Na música de concerto, também chamada de música clássica ou erudita, as peças para piano tem significado muito especial, já que grande parte do repertório desse gênero tenha sido composto para o instrumento.

Durante o período clássico, muitas das obras receberam nomes que explicitassem a forma como foram construídas, como “sonata” ou “concerto”. Mas a criatividade dos compositores frequentemente extrapolava as formas convencionais e as peças ganharam nomes mais ilustrativos ou programáticos.

Isso se tornou ainda mais comum no período romântico, em que os recursos dos instrumentos eram explorados ao máximo e a imaginação voava longe.

Se alguns compositores tinham elementos inspiradores recorrentes, muitos se valiam da fantasia para escrever suas obras e – seja por faltarem termos no mundo real que as exprimisse, por realmente terem sido geradas em um devaneio ou por falta de motivo melhor – muitas delas receberam o nome de “sonho”.

Listamos aqui três das mais famosas composições para piano que têm em comum o sonho como inspiração.

 

“Träumerei” – Robert Schumann

“Träumerei” (Sonhando) faz parte das “Kinderszenen, Opus 15” (Cenas Infantis), conjunto de treze pequenas peças para piano solo, compostos em 1838 pelo compositor Robert Schumann (1810-1856).

Em uma carta escrita por ele à esposa, Clara, ele comenta sobre a obra: “Talvez tenha sido um eco do que você uma vez me disse – que eu, às vezes, parecia uma criança. Mas, seja como for, de repente me assaltou uma inspiração, e então rabisquei umas trinta pecinhas, das quais selecionei doze…

Acho que você vai gostar, mas vai ter que esquecer que é uma virtuose”. O aviso não faz justiça às peças cuidadosamente buriladas, algumas de fato bem simples e que podem ser tocadas por uma criança talentosa.

A peça de número 7, “Träumerei”, provavelmente não se refere propriamente a um sonho, mas a algo especial, mágico, como o “sonhar acordado” tão característico das crianças. A melodia, mais do que conhecida, é acompanhada pelo estilo próprio do compositor, com várias linhas de contraponto em camadas.

Esta é uma das composições mais conhecidas do alemão e, como tal, foi objeto de muitas versões e sujeita a diversas interpretações, o que inclui discussões sobre o andamento em que deve ser interpretada.

“Sonho de Amor Nº 3” – Franz Liszt

“Liebesträum” é um compêndio de três peças para piano de Franz Liszt (1811-1886) publicado em 1850. O título “Liebesträum” significa “Sonho de Amor”, e isto é exatamente o que Liszt evoca. As três Liebesträume foram concebidas a partir de poemas de Ludwig Uhland (1787-1862) e Ferdinand Freiligrath (1810-1876).

A de número 3, mágica e sonhadora, é uma das obras mais populares do compositor húngaro e faz parte do repertório de grandes pianistas do passado e da atualidade.

Mais acessível aos estudantes do que a maior parte do legado de Liszt, o “Sonho de Amor Nº 3” se tornou peça obrigatória para muitos músicos relaxarem depois de uma sessão de estudo, mantida dentro do banquinho do piano, perto do topo da pilha.

Pacífica e meditativa graças a seu tom melífluo e sonhador e à ornamentação de filigrana da melancólica melodia, “Liebesträum Nº 3” é um sonho romântico de voos de fantasia revelados pelo sonhador.

“Rêverie” – Debussy

Escrita em 1890, a “Rêverie”, de Claude Debussy (1862-1918) foi uma das primeiras obras impactantes para piano solo do compositor. A peça é uma exploração exótica e sonhadora das texturas e harmonias que o compositor desenvolveria mais adiante em suas obras.

O acompanhamento etéreo na mão esquerda, como o de uma canção de ninar, estabelece a atmosfera noturna e as tensões do sonho são diluídas por ele por toda a composição.

Depois de publicada e apresentada, “Rêverie” rapidamente se tornou um sucesso comercial e de crítica e é frequentemente citada como influência no desenvolvimento da harmonia do jazz. O próprio Debussy não avaliou bem sua composição, relatando a seu editor: “Escrevi às pressas anos atrás e apenas para fins comerciais.

É uma obra sem importância e, francamente, considero-a absolutamente inútil”. O tempo provou que ele estava errado.


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