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Villa-Lobos – o mais conhecido compositor do Brasil

Filho da dona-de-casa Noêmia Villa-Lobos e do funcionário da Biblioteca Nacional e músico amador Raul Villa-Lobos, Heitor Villa-Lobos nasceu em 5 de março de 1887, no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro.

Villa-Lobos

A partir dos seis anos de idade, aprendeu, com o pai, a tocar clarinete e violoncelo. Raul Villa-Lobos ainda lhe obrigava a exigentes exercícios de percepção musical que incluíam o reconhecimento de gênero, estilo, caráter e origem de músicas, de notas musicais e ruídos.

Nessa época, além da cidade do Rio de Janeiro, a família Villa-Lobos residiu em cidades do interior do Estado do Rio de Janeiro (Sapucaia) e de Minas Gerais (Cataguazes e Bicas), onde o pequeno músico conheceu as modas caipiras e os tocadores de viola, que formam parte do folclore musical brasileiro e que, mais tarde, vieram a se universalizar em suas obras.

Ao voltar ao Rio de Janeiro, o “choro”, música praticada nas ruas e praças da cidade, também passou a exercer sobre ele um atrativo especial. Tal interesse o levou a estudar violão escondido de seus pais, que não aprovavam sua aproximação com os autores daquele gênero, considerados marginais. Costumava juntar-se aos grupos de choro, tocando o instrumento em festas e serenatas. Conheceu músicos famosos como Catulo da Paixão Cearense, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e João Pernambuco.

Em 1905, Villa-Lobos partiu em viagens pelo Brasil, visitando os Estados do Espírito Santo, da Bahia e de Pernambuco, passando temporadas em engenhos e fazendas do interior, em busca do folclore local. Em 1908, chegou à cidade de Paranaguá, no Estado do Paraná, permanecendo por dois anos, alternando entre tocar violoncelo para a alta sociedade local e violão para os jovens.

Entre os anos de 1911 e 1912 faz parte de uma excursão pelo interior dos estados do Norte e do Nordeste. Ficou impressionado com os instrumentos musicais, as cantigas de roda e os repentistas. Segundo ele, foi nesse momento que conhece a Amazônia, o que teria marcado profundamente sua obra. Suas experiências resultaram, mais tarde, em “O Guia Prático”, uma coletânea de canções folclóricas destinadas à educação musical nas escolas. De volta ao Rio de Janeiro, conheceu a pianista Lucília Guimarães, com quem se casaria em 1913.

Dois anos mais tarde, Villa-Lobos realizou o primeiro concerto com suas composições. Nessa época, já havia composto suas primeiras peças para violão, a “Suíte Popular Brasileira”, peças para música de câmara, sinfonias e os bailados “Amazonas” e “Uirapuru”. Ganhava a vida tocando violoncelo nas orquestras dos teatros e cinemas cariocas, ao mesmo tempo em que escrevia suas obras.

A crítica considerava seus concertos modernos demais, mas, à medida que se apresentava no Rio e em São Paulo, ganhava notoriedade. Na Semana de Arte Moderna de 1922, participou dos três espetáculos no Teatro Municipal de São Paulo, apresentando, entre outras obras, “Impressões da Vida Mundana”.

Já bastante conhecido no meio musical brasileiro, alguns de seus amigos começaram a incentivá-lo a ir à Europa, e apresentaram à Câmara dos Deputados um projeto para financiar sua ida a Paris. Em meio a protestos que condenavam a iniciativa, a proposta foi aprovada, e Villa-Lobos, em 30 de junho de 1923, partiu para Paris, também auxiliado pelos irmãos Guinle, que se propuseram a subvencionar sua estada na Europa.

Desconhecido, Villa-Lobos começou a frequentar o ambiente artístico parisiense por meio de Tarsila do Amaral e de outros artistas plásticos brasileiros. Com o apoio do pianista Arthur Rubinstein e da soprano Vera Janacópulos, foi apresentado ao meio artístico parisiense e suas apresentações fizeram sucesso.

Na época em que Villa-Lobos chegou em Paris, os artistas e os intelectuais da efervescente capital francesa voltavam sua atenção para os compositores russos, que faziam música original, moderna e de caráter nacionalista. Apesar do apoio financeiro disponibilizado, e em função de um drástico corte no orçamento inicial solicitado, Villa-Lobos se viu forçado, no ano seguinte, a voltar ao Rio de Janeiro.

Em 1927, voltou a Paris com sua esposa Lucília, para fazer novos concertos e iniciar negociações com o editor Max Eschig, ao qual foi apresentado quando de sua primeira visita à capital francesa. Na ocasião, fez mais amigos, e artistas como Magda Tagliaferro, Leopold Stokowski, Maurice Raskin, Edgar Varèse, Florent Schmitt e Arthur Honneger frequentaram sua casa e participaram das feijoadas dos domingos.

A partir daí, Villa-Lobos conquista prestígio internacional, apresentando suas composições em recitais e regendo orquestras nas principais capitais europeias, causando forte impressão no público e provocando reações por suas ousadias musicais.

Villa-Lobos

Três anos depois, no segundo semestre de 1930, Villa-Lobos foi convidado a retornar ao Brasil, para a realização de um concerto em São Paulo. Preocupado com o descaso com que a música era tratada nas escolas brasileiras, acabou por apresentar um revolucionário plano de Educação Musical à Secretaria de Educação do Estado, projeto que foi aprovado e o fez voltar definitivamente para cá.

Em 1931, reunindo representações de todas as classes sociais paulistas, organizou uma concentração orfeônica chamada “Exortação Cívica”, com a participação de cerca de 12 mil vozes.

Após dois anos de trabalho em São Paulo, Villa-Lobos foi convidado oficialmente por Anísio Teixeira, então Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro, para organizar e dirigir a Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA). A partir de então, a maioria de suas composições se voltou à educação musical.

Como consequência de seu trabalho educativo, embarcou para a Europa, em 1936, como representante do Brasil no Congresso de Educação Musical em Praga, onde apresentou seu plano educacional, seguindo para Berlim, Paris e Barcelona.

Escreveu à sua esposa Lucília pedindo a separação, e assumiu seu romance com Arminda Neves de Almeida, sua secretária, que se tornou sua companheira. De volta ao Brasil, com o apoio do então presidente da República, Getúlio Vargas, organizou concentrações orfeônicas grandiosas que chegam a reunir, sob sua regência, até 40 mil escolares.

Em 1942, criou o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, cujos objetivos eram formar candidatos ao magistério orfeônico nas escolas primárias e secundárias, estudar e elaborar diretrizes para o ensino do canto orfeônico no Brasil, promover trabalhos de musicologia brasileira e realizar gravações de discos, entre outros.

Em 1942, o maestro Leopold Stokowski – designado pelo presidente Roosevelt dos Estados Unidos para visitar o Brasil com a The American Youth Orchestra como parte da “política da boa vizinhança”, por conta da Segunda Guerra Mundial – solicitou a Villa-Lobos que selecionasse os melhores músicos e sambistas, a fim de gravar a Coleção Brazilian Native Music. O compositor reuniu Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Cartola e outros, que, sob sua regência, realizaram apresentações e gravaram a coletânea.

Apesar dessa resistência inicial, Villa-Lobos viajou aos Estados Unidos, em 1944, para reger as orquestras de Boston e de Nova York. A partir de então, retornou para lá diversas vezes, onde regeu e gravou suas obras, recebendo homenagens e encomendas de novas partituras. Em 1945, fundou a Academia Brasileira de Música.

Praticamente residindo nos Estados Unidos entre 1957 e 1959, realizou concertos em Roma, Lisboa, Paris e Jerusalém, além de marcar importante presença no cenário musical latino-americano. Compôs “Floresta do Amazonas” para a trilha de um filme da Metro Goldwyn Mayer e retornou ao Brasil para as comemorações do aniversário do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Com a saúde abalada, foi internado para tratamento e morreu de câncer em 17 de novembro de 1959.

A música para piano de Villa-Lobos

Villa-Lobos

País de forte tradição pianística, o Brasil, durante os séculos 19 e 20, vivia sob a égide dos moldes europeus, principalmente na música. Villa-Lobos foi o primeiro compositor erudito brasileiro que ousou liberar-se desse rigor, revolucionando definitivamente a abordagem ao piano, conferindo-lhe um viés original e nacional.

“Sua escrita exuberante expressa com conforto o amplo espectro de ritmos, harmonias, timbres e, sobretudo, o imaginário sonoro brasileiro, calcado na nossa diversificada cultura popular”, afirma o pianista Fabio Caramuru. “Uma simples observação de suas partituras para piano revela que Villa-Lobos, invariavelmente, extrapola o bom comportamento acadêmico: fazem parte de sua escrita sonoros e prolongados pedais, a exploração dos extremos das tessituras graves e agudas do piano, os efeitos contrastantes e percussivos, muitas dissonâncias, a promoção da flexibilidade do tempo e de uma grande variedade de coloridos e sonoridades”.

Para o pianista, debruçar-se sobre sua obra é sempre uma rica oportunidade de penetrar na diversificada identidade musical brasileira, desenvolvendo ferramentas importantíssimas para se cultivar a imaginação sonora e ampliar seu campo de criatividade no instrumento.

Principais obras para piano de Villa-Lobos

“Valsa-scherzo, Op. 17”.

“Canção ibérica”

“Ibericarabe”

“Danças características africanas” (Farrapós, Kankukus e Kankikis).

 “A prole do bebê”

“Histórias de Carochinha”

“Carnaval das crianças”

“A lenda do caboclo”

“A Fiandeira”

“Rudepoema”

“Choros N.º 2”

“Choros N.º 5 (Alma Brasileira)”

“Cirandinhas”

“Cirandas”

“Sul América”

“Saudades das selvas brasileiras”

“Francette et Pià”.

“Ária (Cantiga – sobre um tema do Nordeste)” e “Dança (Miudinho)”, das Bachianas Brasileiras n.º 4,

“Ciclo brasileiro”.

“As Três Marias”

“Poema Singelo”

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