Cada vez mais os pianistas são requisitados para desempenhar várias tarefas relacionadas ao fazer música, tanto no âmbito profissional quanto nos momentos de lazer, como tocar em eventos sociais, festas e bares, participar de grupos de música, e realizar apresentações solo, além de atividades como regência, composição e pesquisa.
Desde o estudo sistematizado de piano clássico ao encontro de amigos para tocar e cantar sucessos da bossa nova, muitas são as habilidades desenvolvidas, assim como as necessárias, para o bom desempenho dessas atividades. Uma delas tem fundamental importância e demonstra o domínio do músico em relação ao seu instrumento: a leitura à primeira vista.
Necessária tanto para a atividade profissional quanto para o desenvolvimento de um estudo direcionado, a leitura à primeira vista é conhecida como a capacidade de tocar o que está escrito na partitura sem estudo prévio, da mesma forma que se lê, em voz alta, um texto escrito como este.
Para ler um texto, é necessário conhecer as letras, reconhecer, na junção delas, um padrão lógico, formar palavras e sentenças, e compreender o sentido do que se está lendo, para imprimir a ele a entonação correta. De tanto praticarmos a leitura na escola, e em todos os momentos de nossa vida, essa atividade se tornou corriqueira e automática.
A leitura à primeira vista no piano é uma habilidade equivalente, que irá aprimorar enormemente as possibilidades do pianista, mas exige tempo e treinamento. Poucos, no entanto, são os professores e as escolas que possuem algum trabalho dedicado às técnicas empregadas nessa tarefa.
A maioria das pessoas acredita que uma boa leitura à primeira vista se desenvolve com o tempo, com o domínio do instrumento e com os anos de estudo. Embora não se possa negar que isso seja determinante para desempenhar bem essa tarefa, não apenas esse fator colabora para o desenvolvimento da habilidade. Existem, inclusive, métodos dedicados a esse estudo.
Muitos são os processos envolvidos na capacidade de ler à primeira vista e tocar o instrumento, os mesmos, basicamente, que envolvidos na leitura de um texto, até mesmo o domínio da coordenação motora.
Como desenvolver a leitura à primeira vista
Em muitos testes ou concursos, a realização de leitura à primeira vista é exigência para ingresso em escolas ou outras instituições. Mas não apenas para isso essa habilidade é útil. Segundo John Sloboda, especialista em psicologia da música, “é praticamente desnecessário afirmar que o músico com facilidade de ler à primeira vista tem uma imensa vantagem sobre outros músicos em quase todas as esferas da vida musical”.
Com uma boa leitura, é possível ter acesso maior e mais ágil à literatura musical, assim como selecionar obras de interesse para um estudo mais aprofundado. Em termos profissionais, o campo de trabalho se expande, pois um pianista com boa leitura à primeira vista pode acompanhar cantores, participar de conjuntos e orquestras, acompanhar corpos de baile em ensaios e apresentações e, obviamente, substituir colegas quando necessário.
Além disso, é possível atingir estágios mais avançados na concepção da interpretação da obra antes do que se dependesse apenas da memorização de fragmentos por meio de inúmeras e cansativas repetições.
Ler – e tocar – à primeira vista é exercício fundamental, que deve ser praticado todos os dias, levando-se em conta, obviamente, o grau de adiantamento do aluno ou pianista. Ao professor cabe criar situações nas quais o aluno necessite ser capaz de ler para satisfazer aspirações musicais ou sociais, sejam elas a participação em corais ou a prática de conjunto.
Nos exercícios de leitura à primeira vista, antes de tudo, devem ser cuidadosamente analisadas a armadura de clave e suas respectivas tonalidades, assim como a fórmula de compasso. Depois de verificados esses elementos, o estudante deve posicionas ar mãos no teclado.
A habilidade de reconhecimento do teclado pelo tato foi objeto de estudo do pedagogo Robert Pace: “O uso das teclas pretas como ‘Braille’ musical facilita ler qualquer nota que venha depois, dirigindo confortavelmente e gentilmente os dedos curvados ‘dentro, sobre e ao redor’ das teclas pretas”. Mas também é importante localizar as teclas indiretamente, por meio da visão periférica, sem mover a cabeça e sem perder o contato com a partitura.
Depois de determinar um andamento cômodo para a interpretação da peça, o estudante deve ler e decifrar ao menos um compasso antes de iniciar a performance, de modo a prever os movimentos necessários.
É importante, inclusive, que a leitura sempre seja realizada um compasso à frente da execução. Iniciada a leitura e a execução da peça, o estudante deve manter-se firme no andamento e prosseguir mesmo que erre algumas notas ou divisões, sem parar e recomeçar a cada erro.
Não adianta o pianista ter uma boa leitura, compreendendo todas as necessidades para a interpretação da partitura, se não tiver a habilidade motora para realizá-la ao instrumento. É na técnica que estão contidos alguns padrões de movimentos fundamentais que deverão ser automatizados e incorporados.
Com o crescente domínio da técnica, apoiado pelos exercícios diários e o estudo de partituras, o aluno passa a reconhecer padrões como contornos melódicos de escalas e arpejos, ritmos, intervalos, acordes, frases e articulação. A leitura de padrões é o que mais claramente possibilita a decodificação de trechos musicais de forma rápida. O conhecimento de escalas e arpejos, por serem elementos básicos na escrita musical, é considerado fundamental para isso.
Ao conhecer os dedilhados de todas as tonalidades, o pianista permite que os dedos encontrem o dedilhado correto para qualquer passagem musical. Para que se desenvolva uma técnica pianística adequada, portanto, o aluno deve trabalhar, desde o início, esses movimentos básicos necessários para seu aprimoramento.
Adoraria aprender a ler partituras, mas infelizmente apenas toco de ouvido e não sei fazer arranjos! Sou uma catástrofe, tenho meu Fritz Dobbert, mas nunca soube tocar direito a 25 anos!
Tocar de ouvido também é talento! Com estudo e prática, com certeza você aprenderá a ler as partituras.