Em 17 de dezembro de 2020 comemora-se o 250º aniversário do nascimento de um dos maiores gênios da música: Ludwig van Beethoven. Para marcar a data, centenas de eventos foram programados para este ano por todo o mundo, desde sua cidade natal, Bonn, na Alemanha. No entanto, a maioria deles teve que ser cancelada ou adiada por conta da pandemia que assolou o planeta. Concertos e recitais com a presença do público foram, por ora, descartados, mas gravações estão sendo lançadas e muitas apresentações ocorrendo pelos canais de internet.
Não podíamos deixar a data passar em branco e, de agora até a data de aniversário do gênio alemão, publicaremos uma série sobre as principais obras para piano que ele compôs, explicando os detalhes de suas criações. Para iniciar, “Pour Elise”, talvez a obra mais popular de Beethoven, seja por ser acessível a estudantes ou pelo tema principal, tão peculiar.
Bagatelle Pour Elise
A “Bagatelle No. 25 em Lá menor” (WoO 59, Bia 515 – Für Elise) para piano solo, comumente conhecido como “Pour Elise” (Para Elisa), é uma das composições mais populares de Ludwig van Beethoven. O manuscrito teria sido encontrado por Ludwig Nohl, estudioso de música e escritor alemão, em 1865 – 40 anos após a morte do compositor – e publicada pela primeira vez em 1867 nas páginas 28 a 33 do livro “Neue Briefe Beethovens” (Novas Cartas de Beethoven), impresso em Stuttgart por Johann Friedrich Cotta. Nohl afirmou que o manuscrito autografado original tinha o título “Für Elise am 27 April zur Erinnerung von L. v. Bthvn” (“Para Elise em 27 de abril, em memória de L. v. Bthvn “).
Ou por erro do editor (a caligrafia de Beethoven foi a causa principal de muitos erros nas primeiras edições das suas obras) ou para não se saber a quem esta peça foi dirigida e oferecida, isto é, para não se dar quaisquer pistas acerca do verdadeiro nome da senhora, a cópia da partitura ou sua publicação póstuma tinha o “Für Elise”.
Por conta disso, a identidade de “Elise” é desconhecida: pesquisadores têm sugerido Elisabeth Röckel, Elise Barensfeld ou Therese Malfatti, senhora a quem propôs casamento, sobrinha do Dr. Giovanni Malfatti, italiano que se instalou em Viena, na Áustria, em 1795 e foi um dos médicos do compositor, tratando-o durante seus últimos dias em 1827. Inclusive, para este médico, Beethoven compôs, em junho de 1814, uma pequena cantata para piano e coro denominada “Un lieto brindisi” (WoO 103), também chamada “Cantata Campestre”. Alguns dizem que Therese era sua aluna – muito medíocre – e que Beethoven queria compor algo que fosse simples, mas profundo. No meio da composição, ela se recusou a casar com ele e ele, portanto, tornou as seções subsequentes tão difíceis que ela jamais poderia tocá-las.
A partitura original desta bagatela para piano foi presenteada pelo compositor a Therese em 27 de abril de 1810 e esteve durante algum tempo em seu poder. A data está na partitura, mas ao certo não se sabe se teria sido Beethoven quem a colocou lá ou se teriam sido outras pessoas. Com o tempo, a partitura original extraviou-se. Por outro lado, também se sabe que, em 1822, Beethoven emendou o seu rascunho preliminar, guardado nos seus arquivos, para uma possível publicação e que, devido ao seu falecimento, não chegou a se realizar. Acredita-se que Beethoven pretendia adicionar a peça a um ciclo de bagatelas.
“Pour Elise” está em forma de rondó. Há uma seção principal (A) que aparece três vezes e, entre elas, duas outras secções (B e C), pelo que a forma da peça pode ser descrita como A – B – A – C – A. A seção principal tem fórmula de compasso 3/8 e é baseada em arpejos que fluem de uma mão para a outra. Essa é a seção que muitos pianistas iniciantes querem tocar. As duas outras partes são mais difíceis de executar na velocidade correta, pois têm escalas rápidas, arpejos e fusas na mão esquerda.
A versão de “Pour Elise” ouvida hoje é anterior à que foi transcrita por Ludwig Nohl. E há também uma versão posterior, com mudanças drásticas no acompanhamento, transcrita pelo estudioso Barry Cooper de um manuscrito posterior. A diferença mais notória está no primeiro tema, os arpejos da mão esquerda são atrasados por uma semicolcheia. Há alguns compassos extras na seção de transição para a seção B e, finalmente, a figura ascendente do arpejo em Lá menor é movida para mais tarde. Acredita-se que a indicação Poco Moto estava no manuscrito que Ludwig Nohl transcreveu (agora perdido), mas a versão posterior inclui a marcação Molto grazioso.
Sejam estudantes ou músicos experientes a executá-la, “Pour Elise” ganhou muita popularidade, sendo frequentemente utilizada em publicidade, filmes e desenhos animados. Por conta disso, caiu um pouco de conceito entre os profissionais, mas, se bem interpretada, revela toda a beleza de sua melodia e a fluidez de suas linhas. É obra praticamente obrigatória no repertório de todos os pianistas e sucesso garantido para qualquer plateia.
Baixe a partitura de “Pour Elise” no site IMSLP: https://imslp.org/wiki/Special:ImagefromIndex/51818/oefc