Comemorando o 250º aniversário do nascimento de um dos maiores gênios da música, Ludwig van Beethoven, estamos publicando uma série sobre as principais obras para piano que ele compôs, explicando os detalhes de suas criações.
O Concerto para Piano Nº 5 em Mi bemol Maior, Op. 73, popularmente conhecido como “Concerto Imperador”, foi o último concerto para piano completo escrito pelo compositor alemão, entre 1809 e 1811, ou seja, entre a Sexta e a Sétima sinfonias, na mesma época da Fantasia Coral, da Sonata para piano “Les adieux” e da Abertura Egmont.
Apesar do epíteto “Imperador”, a obra foi dedicada ao Arquiduque Rudolf da Áustria, patrono e aluno de Beethoven. A primeira apresentação ocorreu em 13 de janeiro de 1811 no Palácio do Príncipe Joseph Lobkowitz, em Viena, com o Arquiduque Rudolf como solista, seguida de um concerto público em 28 de novembro de 1811 pela orquestra Gewandhaus de Leipzig, sob a regência do maestro Johann Philipp Christian Schulz. O solista não foi Beethoven, cuja perda de audição já estava bem avançada, sendo responsável pelo piano o compositor e pianista Friedrich Schneider. Em 11 de fevereiro de 1812, Carl Czerny, também aluno do compositor, realizou a primeira execução da obra em Viena.
Beethoven nunca teve simpatia por imperadores… Sua terceira Sinfonia, hoje conhecida como “Eroica”, foi dedicada, inicialmente, a Napoleão Bonaparte, na época em que o francês lutava contra os impérios europeus e, na visão de Beethoven, incorporava os ideais da Revolução Francesa. Mas, quando se autoproclamou Imperador da França, em maio de 1804, o inconformado compositor se revoltou, foi à mesa onde estava a obra já pronta, pegou a página-título e riscou o nome Bonaparte tão violentamente que rasgou o papel. Mais tarde, em 1806, quando a sinfonia foi finalmente publicada, Beethoven a renomeou como Sinfonia Eroica, composta “per festeggiare Il sovvenire d’un grand’uomo” (para celebrar a memória de um grande homem), e a dedicou ao seu mecenas, o Príncipe de Lobkowitz.
O epíteto de “Imperador” para o Concerto Nº 5 foi cunhado, provavelmente, por seu editor em Londres, o pianista de origem alemã Johann Baptist Cramer, como forma de “nome comercial” por conta da imponência da obra e da evocação de uma grandeza heroica e imperial em uma composição de grandes proporções. Sua duração é de aproximadamente quarenta minutos e, assim como em outros concertos de Beethoven compostos nesse período, o primeiro movimento é relativamente longo, com duração de aproximadamente 20 minutos. O concerto alia grandiosidade, virtuosismo e intimidade em uma única obra em que o piano é o grande protagonista em vez de ter de se confrontar com a orquestra durante todo o tempo.
Provavelmente, o espírito impetuoso e quase agressivo que Beethoven imprimiu nesse concerto seja resultante de seu contato com os ideais da Revolução Francesa, tanto quanto com o Iluminismo e com o Stürm und Drung (Tempestade e Ímpeto), movimento literário romântico alemão que abalou as estruturas sociais da época.
Talvez grande parte do encanto do Concerto Imperador esteja no embate entre heroísmo e a delicadeza. Os diálogos entre orquestra e piano são exuberantes e uma importante dimensão dessas trocas consiste nos contrastes entre a apresentação de temas grandiosos na orquestra e sua reapresentação delicada ao piano, por vezes extremamente leves, apesar de toda a grandiosidade do concerto.
No início do primeiro movimento (Allegro), tão logo a orquestra produz o primeiro acorde, o piano a interrompe para executar uma breve cadência. Esse atrevimento do solista, tão incomum para as composições da época, deixa claro que o papel do piano é o de protagonista e se repete por mais duas vezes até que, finalmente, ele cede lugar à orquestra para que ela apresente seus temas. O segundo movimento (Adagio un poco mosso) já foi apontado como o melhor modelo de integração entre piano e orquestra por Hector Berlioz, um dos mais importantes compositores franceses, por conta de seu lirismo incomum. O terceiro movimento (Allegro), em forma de rondó, por sua vez, é visto por alguns críticos como uma antecipação surpreendente do estilo de Chopin.
Gravado por uma série infindável de grandes pianistas que inclui nomes icônicos como Wilhelm Backhaus, Artur Schnabel, Arthur Rubinstein, Walter Gieseking, Vladimir Horowitz, Wilhelm Kempff, Rudolf Serkin, Leonard Bernstein, Daniel Barenboim, Vladimir Ashkenazy, Claudio Arrau, Glenn Gould, Maurizio Pollini, Alfred Brendel, Friedrich Gulda e Murray Perahia, o Concerto Imperador, de Ludwig van Beethoven, figura entre as obras obrigatórias no repertório de qualquer concertista do primeiro time de virtuoses do instrumento.