Quando um pianista se senta ao instrumento e começa a dedilhar as teclas, é comum alguém se perguntar como ele faz isso sem olhar para o teclado. A comparação mais óbvia poderia ser o hábito de digitar no teclado do computador, já que há pessoas que fazem isso com velocidade estonteante sem tirar os olhos da tela.
Mas o piano é um instrumento com área de ação muito grande, por conta de suas 88 teclas dispostas uma ao lado da outra, sobre as quais os braços e as mãos se movimentam o tempo todo. Saber qual delas pressionar – e, principalmente, onde elas estão – parece ser uma grande dificuldade, mas, tocar piano sem olhar o teclado é plenamente possível e fácil, pelo menos durante a maior parte do tempo.
Basta lembrar que grandes nomes, como Stevie Wonder, Ray Charles, Art Tatum, George Shearing, Diane Schurr, Lennie Tristano e Manfredo Fest, entre muitos outros, apesar de não poderem ver as teclas, revolucionaram a música em seus respectivos estilos.
Mas, se no caso deles tocar piano sem olhar não era uma opção, mas obrigatório, a maioria dos estudantes se apoia no sentido da visão para se localizar no teclado do piano. No entanto, há muitos benefícios. Não ter que olhar para o teclado estabelece confiança no músico, pois significa que ele conhece o espaço que está usando, para onde ir e como fazer isso aparentemente sem dificuldade.
Primeiramente, ao abolir o hábito de olhar o tempo todo para o teclado, o estudante pode se concentrar mais na partitura – quando ela existe – ou em sua própria interpretação, sem a distração do apelo visual. Ao praticar tocar piano sem olhar, o músico consegue memorizar a posição das teclas, ou seja, sob qual dedo cada nota está, o que lhe traz mais segurança.
Mas é importante frisar: não há problema em olhar para as teclas de vez em quando, mas não o tempo todo! Tocar piano sem olhar para o teclado não é um objetivo por si mesmo, mas apenas demonstra que o cenário não atrapalha o pianista, de que seus dedos estão bem treinados e ele consegue prestar atenção em outras coisas além da localização das teclas, seja na interpretação, no público ou em outras atividades, como cantar.
O importante, no entanto, é o estudante não estabelecer como hábito ou norma ficar olhando para o teclado, mas praticar para que isso não seja obrigatório. Para isso, algumas técnicas podem ajudar:
1 – Tente se localizar no teclado pelo tato
Nos pianos, as teclas pretas são agrupadas em grupos de duas ou três. A primeira tecla branca antes de cada grupo de duas pretas sempre será um Dó, e a primeira antes do grupo de três, um Fá. Mesmo de olhos fechados, ao passar as mãos sobre os grupos de teclas pretas, é possível perceber onde estão as notas. O estudante pode dedicar alguns minutos todos os dias para esse treinamento, trabalhando em diferentes oitavas.
2 – Estude escalas
Como grande parte do repertório pianístico é baseada em escalas, o domínio desse fundamento é primordial. Esse estudo, por sinal, é um dos que mais adequam a mão ao teclado e, portanto, deve ser feito com atenção. Nas primeiras vezes em que praticar uma escala, o músico deve tentar, mesmo que olhando para as teclas, memorizar o movimento dos dedos. Em seguida, deve imaginar o teclado em sua mente e tentar executar a escala sem olhar para ele.
3 – Acerte o dedilhado e memorize o movimento
Um dedilhado bem acertado e definido facilita a memorização do movimento. Quando o músico consegue memorizar o dedilhado de determinado trecho, acabará tocando sem nunca olhar para o teclado, também por conta da memória muscular envolvida. E nas seções mais trabalhosas, quanto mais forem estudadas, mas automática se torna a execução, trazendo segurança ao músico na peça como um todo.
4 – Estude as mãos separadamente
Uma das melhores maneiras de automatizar o dedilhado é estudar as mãos separadamente. Depois de o movimento de cada mão ter sido dominado e memorizado, juntar as duas é tarefa bem mais simples, já que o músico consegue pensar no “encaixe” em vez de ter que pensar no movimento.
5 – Feche seus olhos
Uma boa maneira de praticar sem olhar para o teclado é, simplesmente, fechar os olhos e tentar tocar. Com o tempo, a segurança aumenta e o músico percebe que o apoio da visão, apesar de necessário às vezes, não é imprescindível.
Com a prática, vem a perfeição, portanto, quanto mais o músico pratica, menos necessidade ele tem de olhar para o teclado, assim como para a partitura. Mas isso é assunto para uma próxima postagem!