Já está mais do que provado que um ambiente em que a música tem papel de destaque é propício para o aprendizado e potencializa as aptidões natas dos indivíduos, principalmente no que se refere à compreensão do fenômeno musical e de seus elementos constitutivos: a melodia, a harmonia e o ritmo.
O violonista Shinichi Suzuki, desenvolvedor do método que leva seu nome, era muito enfático em relação a como o contato com o instrumento deve se dar a fim de garantir uma educação musical de qualidade: no lar! Suzuki acreditava que a criança aprende música, em grande parte, pela imitação, do mesmo modo que aprende a falar a língua materna.
Benefícios do estudo desde criança
Segundo a metodologia Suzuki, a criança se educa musicalmente por meio de grande contato com essa arte, seja ouvindo música em casa, durante as tarefas diárias, em momentos de pura diversão e, principalmente, por meio do exemplo.
Partindo dessa premissa, para ele era primordial que para formar músicos – independentemente de profissionais ou amadores – as pessoas tenham contato com a música desde cedo e de forma cotidiana. “Toda criança japonesa sabe falar japonês”. Com essa frase, Suzuki defendia seu método em que o afeto, segundo ele, era a ferramenta principal do ensino, a mesma que uma mãe utiliza para ensinar seu filho a falar.
Crianças expostas a um ambiente musical rico, portanto, têm mais facilidade no aprendizado de música. Uma das provas mais marcantes dessa afirmação é a família Bach, destaque na história da música por mais de duzentos anos. Seu membro mais conhecido foi Johann Sebastian Bach, mas a dinastia musical se iniciou com o trisavô dele, Veit Bach (1545 – 1576), e se extinguiu com seu neto, Wilhelm Friedrich Ernst Bach (1759 – 1845), contando com mais de 50 músicos e vários compositores notáveis.
Se por um lado, na época de Bach, o fazer musical era um ofício cujos segredos eram transmitidos de pai para filho, o ambiente, mais do que tudo, foi determinante para o sucesso do sobrenome.
Irmãos pianistas famosos
Também foram famosos os irmãos Mozart, Maria Anna e Wolfgang Amadeus, que tiveram formação musical idêntica, mas que, pelos padrões da época, seguiram caminhos diversos, já que ela, cinco anos mais velha e com talento enorme, não pôde seguir carreira. O mesmo ocorreu com Felix Mendelssohn Bartholdy, autor da famosa Marcha Nupcial, e sua irmã, Fanny Cäcilie Mendelssohn, mais tarde Fanny Hensel, exímios pianistas e compositores, cujos estudos musicais se iniciaram na infância.
No Brasil, os irmãos Luiz Levy e Alexandre Levy foram pianistas de renome na sociedade paulistana da segunda metade do século 19 e compositores de inúmeras obras para o instrumento, a maioria delas hoje, infelizmente, esquecida.
O pianista Amilton Godoy, líder e fundador do Zimbo Trio, tem dois irmãos pianistas com carreiras consolidadas. Amilson Godoy foi pianista do programa O Fino da Bossa, além de ser o arranjador e pianista de “Upa, neguinho!”, sucesso lançado por Elis Regina. Já Adylson Godoy trabalhou com diversos artistas, como Elis Regina, Jair Rodrigues, Elizete Cardoso, Clara Nunes, Taiguara, Rosa Marya Colin, Alaíde Costa, Agnaldo Rayol, Márcia, Ronnie Von e a cantora Silvia Maria, com quem é casado e tem uma filha também cantora, Adriana Godoy.
Além deles, há inúmeros casos em que irmãos se destacam ao piano, seja como profissionais ou amadores, trabalhando juntos ou não. Talvez poucos saibam, mas um dos maiores pianistas brasileiros de todos os tempos, João Carlos Martins, tem um irmão também pianista, mas que se dedicou ao direito: o jurista Ives Gandra Martins.
No terreno internacional, a fraternidade tem sido, em muitos casos, explorada de forma artística. As irmãs Katia e Marielle Labèque, por exemplo, são pianistas francesas que se dedicaram primeiramente ao piano solo, mas se interessaram pelo repertório a quatro mãos e dois pianos. A pedido de Olivier Messiaen, gravaram seu primeiro álbum com “As Visões do Amen”.
Participaram então de inúmeros festivais de música contemporânea onde tocaram obras de Luciano Berio, Pierre Boulez, Philippe Boesmans e György Ligeti, entre outros, e figuraram durante muito tempo entre as mais importantes nesse campo de atuação.
Atualmente, os pianistas holandeses Lucas e Arthur Jussen, apesar da juventude, se apresentam nos circuitos internacionais de concertos já há alguns anos e vêm se tornando, ao lado das irmãs Hui, a nova sensação no mundo da música de concerto. A família de Hong Kong, conta com as irmãs Nelly e Nancy, que já se apresentaram juntas em concertos, e a irmã mais nova, Natasha, que segue carreira-solo.
Para terminar, vale ressaltar o trabalho do grupo americano The 5 Browns, formado por cinco irmãos pianistas – Ryan, Melody, Gregory, Deondra e Desirae -, a primeira família a ser admitida a estudar na Juilliard School, em Nova York. Além de seu trabalho em cinco pianos, os irmãos realizam e registram trabalhos para piano solo, dois pianos e em várias outras combinações.