O piano é um instrumento que, graças a seu complexo mecanismo – desenvolvido durante séculos – é capaz de reproduzir sons com grande diferença de amplitude, ou seja, fortes e fracos, de acordo com o desejo do pianista.
Para isso, quanto mais o músico se dedicar ao estudo, maior o domínio que obtém da sonoridade do instrumento, conseguindo produzir sutilezas a fim de transmitir emoções e aperfeiçoar o discurso musical. Trocando em miúdos, o pianista consegue imprimir sua interpretação às obras controlando, por meio da técnica, do ouvido e de sua intenção, diversos e diferentes aspectos da sonoridade.
Essa capacidade reúne vários aspectos ou habilidades. O primeiro é a dinâmica, ou seja, se os sons são fortes ou fracos e se a intensidade deles deve crescer ou decrescer conforme o desenrolar da frase musical.
Outro é a agógica, que trata da velocidade ou andamento com que cada trecho deve ser executado e os desvios e alterações do tempo necessários para conferir sutileza e um maior interesse no discurso, com o uso inteligente de rubato, acelerandos, ralentandos, interrupções etc.
Além disso, um elemento subjetivo é o caráter da obra, entre uma infinidade de adjetivos – como romântica, alegre, triste, contemplativa e muitos outros – por vezes muito mais simples de ser observado e reproduzido.
No entanto, para isso, não basta apenas dominar os elementos técnicos e mecânicos da execução pianística, mas, principalmente, a linguagem da obra em questão, seja ela erudita ou popular. E esse conhecimento não é adquirido somente com o estudo ao instrumento, mas com a audição atenta de performances de grandes pianistas, o conhecimento das épocas em que as obras foram compostas e, principalmente, a vontade de comunicar algo por meio da música.
Diferentes pianistas, interpretações diversas
Se todos os músicos tocassem do mesmo jeito, não seriam necessárias tantas gravações da mesma música. No campo erudito, um pianista, muitas vezes, grava a mesma obra em diversas ocasiões, de acordo com sua vontade de comunicar algo diferente, sua maturidade ou um conhecimento mais aprofundado que obteve em relação à música, ao compositor ou ao período.
E as interpretações podem diferir drasticamente. No campo popular, ocorre o mesmo, principalmente quando o músico se permite improvisar ou experimentar novas abordagens sobre o mesmo tema.
Embora não seja tão fácil perceber, cada performance pode trazer diferenças de intenção, que se refletem no fraseado, ou seja, o modo como o músico interpreta a frase musical, com começo, meio e fim.
Um mesmo motivo melódico pode carregar em si uma intenção de “pergunta” ou de “resposta”, dependendo da interpretação do músico. E para que ele construa esse discurso de forma a explicitar essa intenção, é necessário que ele possua muitas referências, em uma biblioteca mental que ele possa consultar, sem nem mesmo perceber.
O mesmo ocorre com a plateia! Para perceber essas sutis diferenças entre as diversas interpretações de uma mesma música, é importante que aquele que ouve também tenha um arquivo de referências, de várias intepretações de músicas de diversos períodos, interpretadas por músicos diferentes, e o conhecimento de estilos e gêneros, períodos e formas musicais.
Parece complicado? Na verdade, não é. Basta apenas exercitar o que mais se gosta de fazer: ouvir muita música, ler sobre compositores, músicos e obras, assistir a shows, concertos e recitais, discutir com os amigos e, sempre, ter ouvido crítico, tentando perceber cada pequena nuance de interpretação ou alteração do que se conhece para aprender um pouco mais sobre música e aumentar o repertório de referências.
Para o músico, ainda vale mais uma dica: experimente! Tente tocar e interpretar de sua própria maneira, seguindo as orientações de seu professor, que já fez esse caminho, tentando entender como aquela música age em suas emoções, o que ela lhe diz e como transmitir isso para quem ouve.
Com certeza, cada descoberta trará muito prazer e uma grande curiosidade por explorar todos os recursos desse maravilhoso instrumento que é o piano.
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