Que o piano dominou a cena musical no Brasil até o início do século 20, ninguém tem dúvidas. Afinal, o instrumento, além de ser considerado parte obrigatória da educação das mais refinadas famílias, se prestava muito bem a saraus e reuniões, opções de convívio social adequadas à sociedade da época.
Se a história das escolas de música, das editoras e dos músicos e compositores brasileiros carece de documentação, informações sobre a fabricação de pianos no Brasil são praticamente inexistentes.
Veja o nosso post sobre a introdução do piano no Brasil!
Notícias dão conta de que durante todo o período do Brasil Colônia, a manutenção e até mesmo a fabricação de pianos eram entregues a artesãos. Alguns conseguiram construir pequenas fábricas, mas a pequena produção atendia apenas ao mercado regional e não fazia frente ás importações de pianos europeus.
No final do século 19 surgiu a primeira fábrica de pianos do Brasil, a Nardelli, em São Paulo, para competir com os instrumentos estrangeiros. Todas as peças eram importadas e alguns modelos, todos de 85 teclas, possuíam a excelente mecânica americana Pratt-Read.
A partir daí, várias outros empreendedores, muitos deles judeus alemães que migraram para o Brasil e trouxeram na bagagem as técnicas construtivas de pianos, se dedicaram à fabricação desses instrumentos.
O país chegou a ter cerca de 90 fábricas, oferecendo instrumentos dos mais variados níveis de qualidade. Marcas como Albert Schmolz, Cirei, Sohn Jeg, Natal, Lichtner, Lux, J. Hoelzl e outras surgiram e desapareceram sem deixar maiores vestígios. Outras, no entanto, se consolidaram e fizeram história, se tornando as preferidas dos estudantes e pianistas brasileiros.
Fabricação de pianos: As marcas brasileiras
A fábrica Essenfelder foi fundada em 1890 pelo alemão Florian Essenfelder, técnico de uma das mais tradicionais marcas de piano do mundo, em Berlim. Antes de chegar a Curitiba, Essenfelder se estabeleceu em Buenos Aires, mas as madeiras disponíveis na Argentina para a fabricação de pianos não o agradaram e ele veio para o Sul do Brasil.
No Paraná, Essenfelder criou vários modelos do instrumento, tanto verticais quanto de cauda, confeccionados com madeiras nobres como imbuia, mogno e cerejeira. Por uma divergência familiar, ainda na década de 1930, a Essenfelder foi dividida.
Uma letra impressa na frente do piano diferenciava a marca tida como original daquela que acabara de nascer – A. Essenfelder, criada por Alceu, neto de Florian.
Para atingir uma qualidade superior, Alceu convidou para o projeto o técnico alemão que veio com seu avô para o Brasil e, até então, prestava serviços para ele, chamado Oscar Schneider. Os pianos Schneider foram fabricados a partir de 1937 até meados da década de 1980.
Em São Paulo, nasceu a Schwartzmann, originalmente situada no bairro da Barra Funda, de onde se mudou, em meados dos anos 50 para a cidade de Mogi das Cruzes, permanecendo em funcionamento até a década de 1970. A fábrica produzia, além dos pianos da marca, instrumentos Schalitz, Schalter, Schumann, Goldmann e Schermann.
Também de São Paulo era a Fábrica de Pianos Brasil, que produziu instrumentos com marteleira e mecânica importadas dos Estados Unidos (Elephant), da Alemanha (Renner) ou a inglesa(Schwander). Atingiu o auge durante as décadas de 1950 e 1960, tendo como garota propaganda ninguém menos que a pianista Magda Tagliaferro.
Pouco tempo depois, na década de 1970, encerrou as atividades. Outra fabricante que fechou as portas foi a Zimmermann, que produziu por 53 anos, até a década de 1980, aproximadamente cem pianos por mês.
Fabricação de Pianos Fritz Dobbert – o início
Em maio de 1950, os irmãos Célio e Thyrso Bottura se uniram ao luthier alemão Otto Halben e fundaram a fábrica de pianos Halben, no bairro do Canindé em São Paulo.
A empresa iniciou suas atividades com 25 funcionários e produção de pouco mais de cinquenta instrumentos por ano. Em 1956, a Halben mudou seu nome para Pianofatura Paulista e passou ao controle exclusivo da famíla Bottura.
Entre as marcas produzidas constam Halben, Barrat Robinson (concessão da fábrica inglesa), Loreley, Meister, Niendorf, Vierkant, Graubott, Otto Halben, Goldenklang e Klangvert, entre outras.
Dois anos depois, nascia a marca Fritz Dobbert, em homenagem ao alemão Fritz Wilhelm Ernest Otto Dobbert, artesão chefe da equipe e responsável pelo projeto de uma nova linha de pianos. Em pouco tempo, a marca viria a ser a única produzida pela Pianofatura Paulista.
Atualmente, a empresa é a única fabricante de pianos da América Latina e tem em seu portfólio um grande rol de músicos nacionais e estrangeiros que utilizam seus instrumentos. Mas isso é outra história…