A passacaglia é um estilo de composição musical baseada sobre um tema repetido constantemente no baixo com variações sobre ele na melodia principal, ou seja, com a forma “tema e variação”.
Se inicia com um instrumento grave executando um tema que, em seguida, passa a ser apresentado com variações por outros instrumentos, e até mesmo sofrer variações no baixo no decorrer da composição.
Ressurgimento da Passacaglia
Forma musical amplamente utilizada no Período Barroco, a passacaglia caiu em desuso durante os períodos seguintes, até seu ressurgimento com força no século 20, quando alguns compositores voltaram a utilizá-la, sobretudo para a composição de trilhas sonoras cinematográficas.
O termo italiano passacaglia (também grafado passacaglia, passacaglio, passagallo, passacagli ou passacaglie) deriva do espanhol pasacalle, elipse de “passar” (cruz, passe) e “calle” (rua).
Embora não se saiba muito sobre as origens da passacaglia, alguns estudiosos afirmam que ela se originou na Espanha do início do século 17, como um interlúdio dedilhado entre danças ou canções acompanhadas instrumentalmente, de caráter ternário e andamento lento.
Apesar de não ser mais associada à dança, a atual forma da passacaglia mantém essas características musicais.
Obras de Passacaglia
Os primeiros exemplos escritos de passacaglias foram encontrados em uma fonte italiana datada de 1606, mas a forma foi redefinida no final da década de 1620 pelo compositor Girolamo Frescobaldi, que a transformou em uma série de variações contínuas sobre um baixo.
Compositores posteriores adotaram esse modelo e, no século 19, a palavra passou a significar uma série de variações sobre um padrão de ostinato – um motivo rítmico ou melódico, persistentemente repetido, geralmente de caráter sério.
Uma forma semelhante, a chaconne, também foi desenvolvida por Frescobaldi e, até hoje, os dois gêneros estão intimamente relacionados.
Durante o barroco, o padrão melódico da passacaglia – geralmente com quatro, seis ou oito compassos – se repete sem alteração ao longo da peça, enquanto as linhas superiores variam livremente, sobre o padrão do baixo servindo como uma âncora harmônica.
Alguns exemplos são as passacaglias de órgão de Johann Sebastian Bach, Dieterich Buxtehude e Johann Pachelbel. Um dos mais conhecidos é a “Passacaglia e Fuga em Dó menor”, BWV 582, para órgão, de Bach, frequentemente executada ao piano.
Do período do Romantismo, no século 19, alguns exemplos são a “Passacaglia em Dó menor” para órgão, de Felix Mendelssohn, e o final da “Oitava Sonata para Órgão”, de Josef Rheinberger. Escrita por Johannes Brahms para se adequar às métricas estritas da dança clássica, sua Quarta Sinfonia – considerada entre suas melhores composições – traz passacaglias no último movimento.
E, nas “Variações sobre um Tema de Haydn”, o baixo repete o mesmo padrão harmônico ao longo da peça. O primeiro movimento do Concerto para Piano nº 3 Op. 113, de Hans Huber, escrito em 1899, também é uma passacaglia.
Com novo impulso ao longo do século 20, a passacaglia se mostrou uma forma musical muito importante no período. Três compositores especialmente identificados com essa forma são Benjamin Britten, Dmitri Shostakovich e Paul Hindemith. Igor Stravinsky usou a forma para o movimento central de seu “Septeto”, e uma passacaglia também é encontrada no final do “Concerto para Orquestra” de Witold Lutosławski.
Mas exemplos especialmente importantes dessa forma são encontrados em composições da Segunda Escola Vienense. O “Opus 1”, de Anton Webern, é uma Passacaglia para Orquestra; Arnold Schoenberg incluiu um movimento de passacaglia, “Nacht”, em “Pierrot Lunaire”; e Alban Berg, usou uma passacaglia operisticamente, em “Wozzeck”.
Uma das passacaglias mais conhecidas do público e frequentemente executada ao piano, ainda é do período barroco: o último movimento da Suíte para Cravo em Sol menor de George Friderich Haendel, em arranjo do compositor norueguês Johan Halvorsen, transcrita para piano.