O Zimbo Trio foi formado em março de 1964, em São Paulo, pelo contrabaixista Luís Chaves e pelo baterista Rubens Alberto Barsotti, o Rubinho, que convidaram o pianista Amilton Godoy para criar um conjunto. Rapidamente o grupo se tornou referência e inspirou o caminho de muitos outros trios.

“Começamos a fazer jazz com música brasileira e resgatamos a bossa nova. O momento foi propício, demos sorte”, lembra o pianista.

Em seus mais de 50 anos de carreira, o Zimbo Trio gravou 51 discos editados em mais de vinte países e conquistou reconhecimento mundial ao excursionar por países dos cinco continentes, divulgando a música instrumental brasileira ou como banda de apoio de expoentes como Elis Regina, Elizeth Cardoso e muitos outros.

Amilton Godoy

Grande responsável pela identidade sonora do Zimbo Trio, o pianista Amilton Godoy é natural da cidade de Bauru, no interior do Estado de São Paulo. De família de músicos – seu avô tocava alaúde, seu pai tocou violino em orquestra e trabalhava como trompetista em uma boate da cidade e seus dois irmãos, Adilson e Amilson, tornaram-se profissionais –, Amilton começou a aprender piano pelo caminho tradicional, com a professora Nida Marchioni.

Aos 11 anos, se apresentava em um grupo com seu irmão Adilson, que fazia muito sucesso no interior, com arranjos de piano a quatro mãos, feitos por seu tio Célio. O contato com a música popular desagradou a professora que, depois de muitas ameaças, decidiu não dar mais aulas aos irmãos.

A solução foi procurar o professor Efísio Aneda, que também dava aulas de harmonia tradicional. Com seu falecimento, os irmãos voltaram a estudar com a antiga professora, que logo alertou o pai dos garotos: “esses meninos têm que ir embora daqui! Não tenho muito o que dar em aula para eles. Eles têm que estudar em São Paulo, têm que ir para a escola Magdalena Tagliaferro”.

O pai de Amilton o levou para um teste com a professora Nellie Braga, que o aceitou como aluno. Por três anos, o estudante viajava toda semana para São Paulo, encarando seis horas e vinte minutos de trem, para ter uma aula e voltar.

Completando sua formação na Escola Magda Tagliaferro, com Nellie Braga, participou e foi premiado em importantes concursos, como o 3° Prêmio no Concurso Nacional de piano da Bahia em 1962, o 3° Prêmio no Concurso Nacional de piano do Rio de Janeiro em 1963, Vencedor do IV Concurso Nacional de piano Eldorado e Medalha de ouro “Prêmio Governador do Estado de São Paulo” em 1964, e  Vencedor do Concurso Nacional “Hora de Arte” como Melhor Intérprete de Villa-Lobos no mesmo ano.

Estudando 11 horas por dia e se revelando uma grande promessa da música erudita, Amilton optou pela música popular. “Ainda em Bauru, aos 13 anos, ouvi o primeiro disco de George Shearing, encomendado por meu pai”, conta o pianista.

“Ouvi, ouvi, ouvi e não entendi nada, mas comecei a querer reproduzir aquilo. Essa escuta começou a desenvolver o meu ouvido: já que eu não tinha acesso a partituras, tentava tirar, tentava escrever. Sei lá quanto tempo eu levei para tirar a primeira música. Ia atrás dos solos, daquele fraseado, repetia tudo, escrevia, derretia o disco. Em outra situação, ouvi pela primeira vez Oscar Peterson, num programa de jazz da rádio A Voz da América.

Também não entendi nada, como é que pode tocar piano desse jeito? Aí meu pai comprou o disco dele. Eu então tinha duas fontes diferentes, e o processo se repetiu.”

Quando se mudou para São Paulo, Amilton Godoy recebeu o convite do músico José Ferreira Godinho Filho, o Casé, para integrar seu quinteto, experiência que se tornou decisiva em sua formação.

“Com ele aprendi a improvisar”, afirma o músico. Casé pegava os discos de jazz e me mandava tirar músicas para ensaiar com o quinteto”. Com a bagagem da música erudita, pianisticamente falando, começou a tocar música popular completamente diferente dos outros pianistas.

Amilton Godoy e o Zimbo Trio

O Zimbo Trio foi formado a partir do convite que lhe foi feito por Rubinho Barsotti de compor, ao lado de Luiz Chaves, um trio para tocar na Boate Baiúca, em 1964. Amilton Godoy foi procurado para substituir Moacyr Peixoto, pianista de grande projeção na época.

A primeira vez que o Zimbo Trio se apresentou foi em 17 de março de 1964, na Boate Oásis, no centro de São Paulo, acompanhando a cantora Norma Bengell. Com o Zimbo Trio, Amilton Godoy dividiu o palco com nomes ímpares da música brasileira, como Elis Regina e Elizeth Cardoso, em turnê por diversos países.

Com Elis Regina, Wilson Simonal e Jair Rodrigues, o grupo marcou época com o programa “Fino Da Bossa”, um dos mais importantes na divulgação de novos talentos musicais. Com instrumentistas do naipe de Jacob do Bandolin, Sebastião Tapajos e Hector Costita, o Zimbo levou a música instrumental brasileira a mais de 45 países incluindo toda a América Latina, Estados Unidos, Europa, África, Japão e China.

Consagrado, o Zimbo Trio ganhou vários prêmio nacionais e internacionais: melhor grupo instrumental no Prêmio “Pinheiro de Ouro” por três vezes; “Roquete Pinto”; “Festival Del Disco Internacional De Mar Del Plata”, na Argentina; “Festival De Onda Nueva”, em Caracas; “Melhor Grupo Instrumental no “Prêmio Sharp de Música”, em 1994; e “Prêmio TIM”, em 2008; culminando com o “23º Prêmio da Música Brasileira”, em 2012, com o CD Zimbo Trio Autoral que possui apenas músicas de autoria de Amilton Godoy.

Em 1973, juntamente com Rubens Barsotti, Luiz Chaves e João Ariza, fundou uma das mais importantes escolas de música do Brasil, o CLAM, em São Paulo.

Amilton Godoy além do Zimbo

Como pedagogo, Amilton já lançou mais de 10 métodos de piano e harmonia, coordenou o departamento de piano do Festival de Inverno de Campos do Jordão, foi diretor por dois anos da “Semana Guiomar Novaes”, em São João da Boa Vista, e, em 2012, ministrou o curso de piano e cinco ciclos de palestras ilustrativas com temas variados na Oficina de Música de Curitiba.

Em um trabalho inédito com a compositora Dulce Auriemo produziu dois álbuns da coleção “Piano Solo Compositores Brasileiros”. A dupla ganhou o Prêmio Jaboti com o trabalho “Meu Primeiro Álbum de Piano Solo”. A convite do primeiro flautista da Orquestra Filarmônica de Berlim, Michael Hasel, Amilton transcreveu algumas músicas dessa coleção para flauta e piano.

Amilton Godoy foi membro da Comissão de Música da Secretaria de Estado da Cultura e do Conselho Estadual de Cultura por oito anos e, como solista, é considerado um dos maiores do mundo, atuando como convidado de orquestras regidas por grandes maestros como Cyro Pereira, Julio Medaglia, Chico de Moraes, Simon Bleche, Roberto Sion, Maurício Galindo e  Wagner Tiso. Em 2011, foi o solista da Orquestra Jazz Sinfônica sob a regência do maestro italiano Nino Lepore, em uma homenagem a Nino Rota.

Após o falecimento de Luis Chaves, em 2007, e desentendimentos com Rubens Barsotti em relação ao nome Zimbo, o pianista continua na ativa, lançando trabalhos com músicos como o harmonicista Gabriel Grossi e a flautista e compositora Lea Freire, e à frente do Amilton Godoy Trio.

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