Charles-Camille Saint-Saëns nasceu em Paris no dia 9 de outubro de 1835, em uma época de efervescência artística e cultural na Europa.
Filho único de Jacques-Joseph-Victor Saint-Saëns, funcionário público, e Clémence Collin, Camille perdeu o pai pouco depois de nascer. Criado pela mãe e pela tia-avó, o menino prodígio teve uma infância repleta de estímulos intelectuais e artísticos.
Formação musical
Aos dois anos, já identificava notas ao piano; aos cinco, compunha pequenas peças. Com apenas dez anos, fez sua estreia como pianista em um concerto público e com um repertório nada modesto: incluía obras de Mozart e Beethoven.
Sua educação musical foi conduzida inicialmente por Camille-Marie Stamaty, aluno de Friedrich Kalkbrenner, dando-lhe uma base pianística dentro da tradição francesa.
Ascensão como pianista
Posteriormente, estudou no Conservatório de Paris, onde foi aluno dos compositores Jacques Fromental Halévy e Charles Gounod. Seu gênio precoce rapidamente o fez se destacar no meio musical parisiense.
Saint-Saëns era um pianista fenomenal, aclamado por sua técnica refinada e leitura instantânea de partituras complexas. Logo se destacou não só como pianista, mas também como compositor e organista, a ponto de Hector Berlioz dizer que Saint-Saëns era “um dos maiores organistas do mundo”.
Primeiras composições e concertos
Considerado um dos maiores intérpretes de seu tempo, Saint-Saëns desde jovem compôs peças para piano que exploravam tanto a lírica delicadeza quanto a força virtuosística do instrumento.
Entre suas primeiras composições destacam-se as “Seis Bagatelles”, Op. 3, e as “Três Mazurkas”, Op. 21, com influência de Chopin, mas com uma personalidade já bem definida.
Saint-Saëns escreveu cinco concertos para piano e orquestra, sendo os mais célebres o “Concerto nº 2 em Sol menor”, Op. 22, de 1868, e o “Concerto nº 4 em Dó menor”, Op. 44, de 1875.
O segundo é um dos mais populares do repertório romântico, com seu início baseado na improvisação e seu desenvolvimento exuberante. O quarto, por sua vez, possui estrutura sinfônica e riqueza harmônica.
Riqueza da música para piano
Destacam-se também a “Fantasia Árvore de Natal”, Op. 88, de leveza encantadora, e “Os Estudos Solo para a Mão Esquerda”, Op. 135, de 1912, que mostram sua curiosidade técnica até os últimos anos. A “Suíte para Piano” Op. 90, de 1891, mescla o tradicional com o moderno, evidenciando sua maestria na escrita contrapontística.
Saint-Saëns também criou obras de câmara com piano de valor inestimável. Seus Trios, Sonatas para Violino e Piano e Sonata para Violoncelo e Piano são elogiados pela clareza formal e pela fusão entre lirismo e virtuosismo.
Para além do piano, Saint-Saëns escreveu óperas, sinfonias, música coral, oratórios, balés e música de câmara. Sua obra mais conhecida é o “Carnaval dos Animais”, de 1886, para dois pianos e orquestra, mistura de humor e genialidade.
Obras orquestrais marcantes
Uma obra marcante do compositor foi a “Danse Macabre”, originalmente escrita para voz e depois arranjada para orquestra, mas com versão para piano transcrita pelo próprio compositor (e por Franz Liszt).
A obra personifica a morte conduzindo os mortos em uma dança misteriosa e mostra como Saint-Saëns era mestre em criar atmosferas.
Outra obra monumental é a “Sinfonia nº 3 em Dó menor”, Op. 78, a “sinfonia com órgão”, de 1886, dedicada à memória de Franz Liszt. Na ópera, seu maior sucesso foi “Sansão e Dalila”, de 1877, ainda hoje encenada em grandes teatros.
Camille Saint-Saëns: Relação com o cinema e viagens
Saint-Saëns era um estudioso da música antiga, tendo transcrito obras barrocas e renascentistas.
Sua erudição lhe valeu o apelido de “o último grande clássico”. Embora crítico das vanguardas, sua música foi admirada por Franz Liszt e outros contemporâneos.
Foi também pioneiro na música para cinema, compondo a trilha de “L’assassinat du duc de Guise”, de 1908. Poliglota, astrônomo, arqueólogo e escritor, viajou por Egito, Argélia, Ilhas Canárias e América Latina. Essas viagens inspiraram obras como “África”, Op. 89, e “Rapsódia Maurícia”, Op. 93.
Na velhice, Saint-Saëns permaneceu ativo como intérprete e compositor até o fim de sua vida.
Em 1921, aos 86 anos, realizou seu último recital em Paris.
Legado
Faleceu no mesmo ano, em Argel, em 16 de dezembro, durante uma viagem ao Egito, onde costumava passar os invernos. Foi sepultado com honras nacionais em Paris.
Um dos raros músicos a manter fama constante durante a vida, deixou uma obra monumental. Seus concertos para piano são presença constante nas salas de concerto, e suas peças solo encantam por sua elegância e brilho técnico.