Um dos mais conceituados e aclamados pianistas do século passado, Gilberto Tinetti desenvolveu uma excepcional trajetória como professor, sendo responsável pela formação de de gerações de talentos e intérpretes de primeira linha.
O paulistano nasceu em 6 de abril de 1932 e, aos 10 anos, começou a estudar piano, com Josephina De Felice. Formou-se em direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo, em 1955, mas sempre se dedicou à música, tendo sido aluno do professor alemão Hans Bruch. Logo depois de formado, viajou para a Europa a fim de aperfeiçoar-se com Magdalena Tagliaferro, entre 1957 e 1959, em Paris, graças a um financiamento recebido como prêmio de um concurso.
Na Alemanha, estudou com Friedrich Wührer e posteriormente especializou-se em interpretação com Alfred Cortot. Na Europa, também conheceu os compositores Francis Poulenc e Heitor Villa-Lobos, que lhe deu orientações preciosas sobre a interpretação de sua música.
Em 1959, venceu o Concurso da Academia Internacional de Verão do Mozarteum de Salzburgo, na Áustria, interpretando o Concerto nº 1 para piano de Brahms. A partir de então, se apresentou em vários países da Europa, pela América Latina e nos Estados Unidos. O retorno ao Brasil, na década de 1960, marcou o início de seu trabalho como professor, assumindo aulas e a direção artística no Seminário de Música Pró-Arte de São Paulo, fundado por Hans-Joachim Koellreutter.
Intérprete de uma vasta gama de repertório com destaque para a música brasileira, realizou em Paris, em 1970, a primeira audição na França do Concerto nº 4 para piano e orquestra de Villa-Lobos, ao lado da Orquestra Filarmônica da Rádio e Televisão Francesa, sob a regência de Jean Fournet.
Em 1975, passou a se dedicar também à música de câmara, formando o Trio Brasileiro, com o violinista Erich Lehinger e o violoncelista Watson Clis, com o qual recebeu duas vezes o Prêmio Carlos Gomes. O grupo tornou-se referência ao apresentar e gravar tanto obras do repertório tradicional quanto a produção de compositores brasileiros, muitas vezes encomendando obras. Tinetti também gravou em duo com artistas como o violoncelista Antonio Meneses, com quem produziu um CD considerado o melhor lançamento clássico do ano de 1985.
Entre 1980 e 2002, Tinetti foi professor do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Ali, formou diferentes gerações de artistas, dando aulas de piano e de música de câmara, criando uma escola que segue presente por meio de seus discípulos, hoje também professores, na nova geração brasileira do piano.
Em 1986, foi convidado pela direção da Cultura FM de são Paulo, para apresentar a série “A Arte de Magdalena Tagliaferro”, em homenagem à sua professora que havia falecido naquele ano. Depois, em 1987, passou a integrar o quadro de apresentadores da Rádio, com o programa diário “Teclado” e com séries semanais dedicadas a integral de obras para piano. Em 1996, o programa “Teclado” passou a se chamar “Pianíssimo”, atração que Gilberto Tinetti apresentou até dezembro de 2019.
Como intérprete, Gilberto Tinetti se apresentou regularmente como solista com as principais orquestras, em recitais e em concertos de música de câmara, por todo o mundo, tendo sido considerado pela crítica como um dos melhores cameristas brasileiros, dedicando especial atenção à divulgação da música brasileira, principalmente dos compositores Camargo Guarnieri e Heitor Villa-Lobos. O pianista faleceu em 18 de junho de 2022, aos 90 anos, já afastado de suas atividades.