Um dos compositores mais importantes de sua geração, o pianista, concertista e diplomata brasileiro Henrique Oswald marcou a história da música por conta de suas ideias originais e pioneiras, dedicando grande parte de sua obra ao piano.
Nascido aos 14 de abril de 1852, no Rio de Janeiro, Henrique José Pedro Maria Carlos Luiz era filho do suíço-alemão Jean Jacques Oschwald – que pouco antes de vir para o Brasil, após o casamento, simplificou o sobrenome para Oswald – e da italiana Maria Carlota Luiza Oracia Cantagalli.
O pai, pouco depois, se instalou em São Paulo, estabelecendo-se com uma fábrica de cerveja, mas, não tendo êxito, procurou em Campinas e em Curitiba outras formas de trabalho. Carlota foi ao encontro do marido na capital paulista, e permaneceu ali ensinando piano e línguas, como francês, italiano e inglês.
Em 1857, Jean-Jacques instalou em São Paulo uma loja de pianos e Henrique, já tendo aulas com sua mãe, passou a conviver com os instrumentos diariamente. Entre seis e sete anos já se apresentava em público, com grande sucesso, e passou a estudar como francês Gabriel Giraudon, considerado à época o melhor professor da cidade.
Aos 16 anos, Carlota levou o filho para a Europa, com o intuito de ele continuar os estudos com Hans von Bülow, genro de Franz Liszt, mas resolveram permanecer em Florença, onde ele ingressou no Instituto Moriani, estudando contraponto, harmonia e composição com os Professores Maglioni e Grazzini e piano com Henry Ketten e Giuseppe Buonamici. Em breve o pai se reuniu aos dois.
A partir de 1879, o jovem músico passou a receber uma bolsa de estudos de 100 francos concedida pelo Imperador Pedro II que, de passagem por Florença, teve a oportunidade de conhecê-lo. Em 1881, Henrique casou-se com Laudomia Bombernard Gasperini e, no ano seguinte, nasceu o primeiro filho do casal, Carlos, que se tornaria pintor e pioneiro da gravura no Brasil.
Foi registrado no Consulado Brasileiro de Florença, assim como o irmão, Alfredo, e as três irmãs Maria Horacia, Erminie (falecida aos três anos) e Henriqueta Margheritta.
Em 1886, já bastante conhecido na Itália, Henrique Oswald viajou para o Brasil acompanhado da esposa e do violoncelista Cinganelli. Foi louvado pela crítica daqui, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Daí em diante, retornou ao Brasil regularmente para turnês e, em 1889, teve a oportunidade de tocar a dois pianos com Camille Saint-Saens, causando excelente impressão no compositor francês.
Em 1900, Oswald foi nomeado chanceler do Brasil no Consulado do Havre pelo presidente Campos Sales, que o havia conhecido em Florença e imaginava que fixá-lo perto dos centros nervosos de música como Paris e Londres, o instigaria e o inspiraria a compor. Mas as tarefas do cargo eram burocráticas, tirando do compositor não somente a inspiração, mas o tempo.
Campos Sales transferiu-o então para Gênova, permitindo que tivesse domicílio em Florença onde, livre de preocupações, pôde dedicar-se à composição. É desta época a ópera “Le fate” e “Il neige!”, composição para piano que, em 1902, receberia por unanimidade um dos mais importantes prêmios musicais concedidos na Europa.
O júri – formado por Saint-Saens na presidência, Gabriel Fauré como compositor, e Louis Diémer como pianista – ficou surpreso quando viu que era um brasileiro, pois pensava tratar-se de um francês como Maurice Ravel ou Claude Debussy.
Em maio de 1903, Henrique foi nomeado para o cargo de Diretor do Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro pelo Barão do Rio Branco, cargo em que permaneceu até 1906. Em março desse ano, apresentou-se em Munique, com composições suas, conjuntos de câmara e piano solo. Retornando ao Brasil, dedicou-se ao estudo e apresentações esporádicas.
Em 1909, tocou seu Concerto para Piano e Orquestra no Instituto Nacional de música, sob a regência de Alberto Nepomuceno e instalou-se definitivamente no Brasil, não retornando nunca mais à Itália.
Apesar da ebulição da Semana de Arte Moderna, Henrique Oswald se manteve à parte, aceitando os “modernismos”, mas não aderindo a eles. Apesar do sucesso, seu filho Alfredo, pianista, responsável em grande parte pela difusão da música do pai em todo o mundo, decide dedicar-se à vida religiosa na Ordem dos Jesuítas.
Com isso se iniciar, para Henrique, a fase sacra, em que ele se dedica à música religiosa, compondo missas e cânticos.
Em 1931, muitas festas marcam seu 79º aniversário, e embaixador da França no Brasil, Conde Dejean, comunicou a Oswald que seu país resolvera conferir-lhe o título de Chevalier de la Légion d’Honneur.
No entando, o compositor morre antes disso, em 9 de junho, após um dia normal de trabalho, em que deu suas aulas como de costume. Foi condecorado, portanto, em seu velório.
A música de Henrique Oswald
A música para piano de Henrique Oswald teve imediata aceitação entre os editores, principalmente por conta das melodias bem estruturadas e interessantes.
Há uma grande quantidade de peças para piano ainda inéditas, em manuscritos originais arquivados no Departamento de Música da Universidade de São Paulo, no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro e na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Ao lado da música para piano – em que se destacam o “Improptu, op. 19”, a “Polonaise, op. 34”, a já citada “Il Neige!”, a “Valsa Lenta”, o “Étude pour la main gauche”, o “Scherzo-Étude” e o “Concerto para Piano e Orquestra” – também tem relevância na obra de Oswald a música de câmara, peças para orquestra, três óperas, missas e cânticos para acompanhar atos litúrgicos, e uma “Sonata para Órgão” (dedicada a Furio Franceschini).