Ângela Del Vecchio Pires de Campos, mais conhecida como Lina Pires de Campos, foi pianista, compositora e uma das mais importantes professoras de piano em São Paulo. Nasceu na capital paulista em 18 de junho de 1918, filha do imigrante italiano e luthier Angelo Del Vecchio.
Sua família sempre trabalhou com música, fabricando violões, violinos, bandolins e cavaquinhos. Seu primeiro contato com o piano foi com Atílio Bernardini, professor de vários instrumentos, e, posteriormente, foi aluna de Leo Peracchi e Ema Lubrano Franco.
Estudou ainda teoria musical e composição com Furio Franceschini, Caldeira Filho e Osvaldo Lacerda. Graduou-se no Instituto Musical Benedetto Marcello e no Conservatório Musical João Gomes de Araújo, onde recebeu Medalha de Ouro e Distinção.
Realizou intenso curso de aperfeiçoamento com a pianista Magdalena Tagliaferro, de quem foi assistente auxiliando-a a formalizar didaticamente sua técnica pianística. Em 1964, deixou o cargo para criar sua própria escola pianística, ensinando as técnicas de Tagliaferro, aprimorando seus conceitos e adicionando a eles sua própria visão.
A partir de então, foi responsável pela formação de várias gerações de pianistas em São Paulo, muitos deles detentores de importantes prêmios e com carreiras de destaque no Brasil e no exterior, como Caio Pagano, Clotilde Otranto, Yukie Nishikawa e Karin Fernandes, além de Cinthia Priolli, Maria José Carrasqueira, Rubia Santos, Rosana Giosa, Márcia Cataruzzi, Nilton Corazza, Reginaldo Mordente, Luiz Fernando de Assis e Marcelo Cesena, entre muitos outros.
Entre 1969 e 1971, atuou como membro da Comissão Estadual do Conselho de Cultura de São Paulo. Em reconhecimento ao seu trabalho, recebeu o título de Mestre do Ano do Conselho Regional de São Paulo da OMB (1977) e o Prêmio Sociedade Brasileira de Musicologia pela sua contribuição à Música Brasileira de Concerto (1993).
Os conceitos apresentados por ela baseiam-se na capacidade do pianista de entender os aspectos musicais, se ouvir, ter flexibilidade e controle de movimentos e alcançar o relaxamento.
Em oposição às práticas antigas da pedagogia do piano, em que o importante era a repetição, o pensamento racionalista defendido por ela estabelece a necessidade de submeter todos os processos de produção à crítica da razão, a fim de evitar esforços e gastos inúteis de tempo e energia.
“Três horas de trabalho racionalizado, trazem muito maior proveito do que cinco ou seis horas mal trabalhadas”, costumava dizer.
Lina Pires de Campos – Valsa n. 2 para piano
Lina Pires de Campos tinha como vocação o ensino e, apesar de grande pianista e compositora, declarava sua paixão por essa atividade.
Ministrou vários cursos sobre “Pedagogia e Técnica Pianística”, nome de seu livro editado pela Ricordi Brasileira em 1987, que dedicou “aos professores e estudantes que assistiram e participaram dos cursos públicos de pedagogia e técnica pianística, por mim ministrados em São Paulo e em outros estados, especialmente aos recém-formados, esperando poder ajudá-los, transmitindo-lhes um pouco da experiência que adquiri em muitos anos de magistério”.
Como professora, Lina Pires de Campos apresentou cursos de pedagogia musical, como cursos de extensão, em várias ocasiões e em diversos lugares, como, em São Paulo, na Faculdade Marcelo Tupinambá, na Sede da Ordem dos Músicos do Brasil, nas Faculdades São Judas Tadeu, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, na Traço Galeria Cultural, na Escola Magda Tagliaferro e no Auditório da Cultura Inglesa, além de inúmeros outros masterclasses pelo Brasil.
Além disso, lecionou como Professora Titular de Piano e de Pedagogia Musical Aplicada ao Piano na Universidade São Judas Tadeu e, durante toda sua vida, fez parte do júri de diversos concursos e competições nacionais para piano.
Lina Pires de Campos manteve intenso ritmo de trabalho como compositora e professora até próximo de seu falecimento, em 14 de abril de 2003.
A compositora Lina Pires de Campos
Em março de 1958, Lina Pires de Campos iniciou seus estudos de composição com Camargo Guarnieri, a quem procurou para se dedicar mais seriamente a essa arte, considerando que com apenas quinze anos de idade compunha música popular usando seu nome de solteira, Lina Del Vecchio.
Como compositora, Lina Pires de Campos recebeu vários prêmios, como o 2º lugar no concurso “A Canção Brasileira” da Rádio MEC, Rio de Janeiro com a obra Embolada; a Medalha “Roquette Pinto” no concurso da rádio MEC com Ciclo das Bonecas (ambos em 1961); e uma “Menção Honrosa” no concurso de Música Erudita para violão “Vitale-Funarte” com a obra Ponteio e Tocatina, em 1979, entre outros.
Seus trabalhos foram publicados pelas editoras Irmãos Vitale, Ricordi, Musicália e Cultura Musical Editores. Em 1977, seu catálogo de composições originais foi publicado pelo Ministério Brasileiro de Relações Internacionais.
A obra pianística de Lina Pires de Campos é composta de vinte e duas peças, algumas delas de grande destaque. As Cinco Peças Infantis foram compostas em 1962 e tiveram sua estreia em 1964, no Auditório da Folha de São Paulo, executadas por Myriam Becker Lotufo. Em 1967, foram editadas pelos Irmãos Vitale. Fazem parte dessa coleção: “Menina Triste”, “Passeio Matinal”, “Valsinha”, “Menina Dengosa” e “Regresso Feliz”.
O Ciclo das Bonecas data de 1961 e foi editada pela Ricordi Brasileira em 1962. É composto por cinco peças: “Boneca Faceira”, “Boneca Contente”, “Boneca Tristonha”, “Boneca Feliz” e “Boneca Brejeira”. A estreia foi em 1963, no auditório da Discoteca Pública Municipal de São Paulo, sendo executada por Maria José Borba Freire. Todas foram dedicadas a alunas da compositora, que elegeu determinadas características a partir de peculiaridades pontuais das dedicatórias.
A obra 7 Variações sobre “Mucama Bonita” foi gravada, em 1962, pela pianista Eudóxia de Barros em seu disco Eudóxia de Barros Apresenta Jovens Compositores Paulistas.
Em 1975 foram compostas as Estorietas 1, 2 e 3, cuja estreia foi realizada no Museu de Arte de São Paulo tendo ao piano Luiz Fernando Garcia. Datam de 1983 as últimas obras compostas, Estorietas 4 e 5. A estreia dessas peças foi na Biblioteca Municipal de SP em agosto de 1984, sendo executadas por Rúbia Santos. Em 1985 foram editadas pela Ricordi Brasileira.
Em 1984, em comemoração aos 25 anos de composição, foi lançado um LP pelo Selo Eldorado que recebeu crítica muito positiva e que veio divulgar o papel de Lina como compositora.
Sua obra completa para piano foi gravada em CD pelo selo Regia Música, tendo Caio Pagano como solista, em 1998.
Dois anos mais tarde, outro CD com peças para violão, flauta, violino, clarinete e voz foi lançado com a participação das pianistas Maria José Carrasqueira, Rubia Santos e Selma Asprino, da cantora Lenice Prioli, do flautista Antonio Carlos Carrasqueira, do clarinetista Sergio Burgani, dos violonistas Edelton Gloeden, Bruno Chaves, Eduardo Fleury, Fábio Ramazzina e Sidney Molina e pela violinista Betina Stagmann.
Lina pires de Campos possui uma história não tão conhecida, porém, é um exemplo de perseverança no ensino de piano, produzindo conteúdos e gerando debates atuais até os dias de hoje. Você já conhecia Lina, que além de formar músicos, também tinha seu lado compositor bem ativo?