Tanto consonância como dissonância são palavras aplicáveis à harmonia, aos acordes e aos intervalos musicais.
A definição de dissonância, segundo o dicionário, é “falta de harmonia entre sons, causando impressão desagradável ao ouvido; ausência de harmonia, de concordância (entre duas ou mais coisas); desproporção entre as partes de um todo; proximidade de notas que geram tensão; na música tonal, intervalo (ou acorde) sem resolução harmônica em consonância, principalmente os intervalos de segundas ou sétimas, bem como todos os acordes que contenham tais intervalos, exigindo resolução em outro acorde”.
Surgimento do conceito dissonância
Apesar de tudo indicar que qualquer combinação de sons “desagradável ao ouvido” seja uma dissonância, esse é um conceito que sofreu profundas transformações durante o desenvolvimento musical. Fenômenos neurológicos e físicos são importantes para entender a ideia de dissonância, mas a definição precisa é condicionada, variando muito entre diferentes estilos, tradições e culturas musicais.
Entretanto, as ideias básicas de dissonância, consonância e resolução existem de alguma forma em todas as tradições musicais que têm um conceito de melodia, harmonia e tonalidade.
Transformação dos conceitos de consonância e dissonância
O compositor e professor austríaco Arnold Schoenberg, pai do dodecafonismo, alerta para a transformação que os conceitos de consonância e dissonância sofreram ao longo dos períodos históricos em seu “Tratado de Harmonia”, escrito no início do século 20: “As expressões consonância e dissonância, usadas como antíteses, são falsas. Se mantenho as expressões consonância e dissonância, apesar de incorretas, é porque o desenvolvimento da harmonia mostrará rapidamente o inadequado de semelhante classificação.
A introdução de outra terminologia neste estágio histórico não teria qualquer utilidade e dificilmente resolveria o problema a contento. Porém, uma vez que devo operar com esses conceitos, definirei consonância como as relações mais próximas e simples com o som fundamental. Já, as dissonâncias serão consideradas como as relações mais afastadas e complexas…”.
Desse trecho se pode compreender que, embora mutáveis, os conceitos de dissonância e consonância estão cristalizados na música ocidental tanto para fins didáticos quanto para a assimilação mais fácil da música produzida por aqui.
Diferenças entre consonância e dissonância
Grosso modo, pode-se dizer que consonância é o resultado da percepção de sons “agradáveis” ao ouvido, ao passo que a dissonância causa “estranheza” ou “irritação”. De qualquer forma, essa ainda é uma definição subjetiva, pois o que é agradável para determinada pessoa pode não ser para outra, assim como para culturas e estilos.
As mais modernas interpretações sugerem que consonância (do latim consonare, que significa “soar junto”) é uma harmonia, um acorde ou um intervalo considerado estável, de relaxamento, ao passo que a dissonância é considerada instável, criando tensão e a necessidade natural de ser resolvida em uma consonância.
Para fins de estudo, desde o período barroco, quando as bases da música tonal foram estabelecidas, são consideradas consonâncias os intervalos de terças e sextas maiores e menores, as quartas e quintas justas e a oitava, sendo consideradas dissonantes as segundas, as sétimas, a quarta aumentada e a quinta diminuta, assim os acordes que contenham quaisquer desses intervalos (em vermelho na figura).
Em uma análise superficial, pode-se notar que, quanto mais próxima da tônica de uma tonalidade (primeiro grau da escala) estiver uma nota, maior a tensão existente pela atração exercida pelo centro tonal, portanto maior a dissonância. Mas essa percepção também se alterou no decorrer dos períodos da história da música e, muitas vezes, marcou a transição de um para outro.
No início do Renascimento, intervalos como a quarta justa eram considerados como grandes dissonâncias que deviam ser imediatamente resolvidas. No fim do século 15, certas consonâncias não eram mais consideradas “sonoridades tensas”. A partir do período barroco até o romantismo, entre os séculos 17 até o fim do século 19, se exigia que toda a dissonância fosse preparada e, em seguida, resolvida.
A partir daí, as dissonâncias se tornaram cada vez mais “independentes”, e até mesmo clusters (bloco sonoro de notas sucessivas) foram utilizados por alguns compositores do século 20. Portanto, na história da música ocidental, se partiu de uma definição bastante limitada de consonância e se progrediu em direção a uma definição cada vez mais ampla, em correlação com a aceitação de níveis cada vez maiores de dissonância.
No jazz e na música instrumental, assim como na música popular, por exemplo, o uso de acordes de quatro sons (considerados “dissonantes”) é mais que normalizado e faz parte da linguagem desses estilos.
Apesar disso, não se deve confundir dissonância com desafinação! Ao se falar de consonância e dissonância, o assunto é a relação existente entre as notas, e não se estão afinadas ou não. Na música ocidental, o sistema temperado ainda é o mais utilizado, e basicamente todo o repertório composto desde o fim do século 15 até os dias de hoje o utiliza. Portanto, para correta percepção desses conceitos, um piano bem afinado é primordial!