Grande parte da música ocidental se baseia na tonalidade, ou seja, nas notas existentes e nas harmonias derivadas das escalas diatônicas maior ou menor. Por conta disso, conhecer as tonalidades é fundamental para todo músico, seja ele hobbista ou profissional, para que possa trafegar bem por todas elas, compreendendo a harmonia existente e a construção das melodias.
Também é imprescindível para quem se aventura pelo campo da improvisação e da composição. A tonalidade, enfim, é a base sobre a qual se sustenta praticamente toda a música composta durante os períodos barroco, clássico e romântico, sendo esse domínio somente ameaçado com o emprego das escalas modais a partir do fim do século 19.
Com a adoção do sistema temperado como forma de divisão da oitava, durante o período barroco, surgiram as 12 alturas diferentes sobre as quais se baseia o sistema diatônico, com a consolidação de 12 tonalidades e os modos maior e menor, assim como o conceito de enarmonia (sons com mesma altura e nomes diferentes).
O que é modulação em música?
Se o sistema temperado proporcionou a possibilidade de transposição, ou seja, tocar uma mesma melodia em outra tonalidade, também propôs a mudança de tonalidade ou modo durante uma mesma música, a chamada modulação.
Essa prática se justifica, principalmente, para utilizar uma melhor região de tessitura de um instrumento ou para uma quebra no paradigma da sonoridade de modo a instigar o ouvinte, prendendo ou renovando a curiosidade dele pela obra que estava em escuta, e trazendo a sensação de crescimento.
Modulação em música, portanto, é a mudança de tonalidade durante o decorrer de uma composição, o que oferece mais possibilidades harmônicas e melódicas ao compositor e permite que ele trafegue por várias cores sonoras, ampliando sua paleta criativa.
Modulação por tom vizinho
Apesar dessa aparente simplicidade, inserir outra tonalidade em meio a um discurso musical demandou, primeiramente, que o público ouvinte aceitasse a novidade de maneira natural. Por conta disso, as primeiras modulações encontradas em música eram para tonalidades bem próximas, com apenas uma nota de diferença entre elas, como, por exemplo, Dó Maior e Sol Maior (apenas o Fá# de diferença entre elas) ou Dó Maior e Fá Maior (apenas o Sib de diferença entre elas).
Esse tipo de modulação em música é chamado de modulação por tom vizinho e ocorre quando se tem uma tonalidade (maior ou menor) e se modula para uma tonalidade vizinha direta, ou seja, uma tonalidade com apenas uma nota de diferença.
Modulação relativa
Outro tipo de modulação em música é a modulação relativa, que ocorre quando se tem uma tonalidade maior ou menor e a peça modula para o tom relativo, como, por exemplo, de Dó maior para Lá menor ou vice-versa.
Modulação paralela
Via de regra, na modulação por tom vizinho se altera a tônica, mas se mantém o modo, ao passo que na modulação por tom relativo, são alteradas a tônica e o modo. Também é possível se alterar a modo (de maior para menor ou de menor para maior) e manter a tônica, na chamada modulação paralela ou homônima.
São exemplos as modulações de Dó Maior para Dó menor ou de Sol menor para Sol maior.
Modulação direta
Com o tempo, as modulações passaram a ser realizadas para tonalidades cada vez mais distantes, muitas vezes surpreendendo o ouvinte e causando uma completa alteração de tônus musical. É o caso da chamada modulação direta, em que se utiliza um acorde de dominante de qualquer tonalidade para alterar o centro tonal, como, por exemplo, de Dó maior para Fá # menor (utilizando o acorde C#7 para isso).
Em partitura, as modulações são, geralmente, acompanhadas da alteração de armadura de clave, mas podem ocorrer sem esse expediente, principalmente quando ocorre em trechos muito curtos, que rapidamente retornam à tonalidade original. E para percebê-las, vale tanto uma audição atenta quando uma análise da escrita musical.