Tradicionalmente, o ensino do piano sempre foi algo particular, individual. Durante o período barroco, por exemplo, quando o piano era um instrumento ainda em desenvolvimento, o grande J. S. Bach ensinava seus alunos no órgão ou no cravo da igreja em que trabalhava. E era comum que professores – e compositores – dessem aulas em domicílio, visitando seus pupilos em suas residências.
Durante o período clássico, músicos eram empregados por nobres e ministravam aulas nas dependências de castelos e mansões. Mais tarde, começaram a surgir as primeiras escolas de música, e o ensino individual do piano continuou a ser o padrão adotado. A evolução musical e do próprio instrumento exigia que assim fosse. Além disso, havia a questão financeira: o piano era um instrumento caro, que poucos poderiam ter.
Com a popularização do instrumento, boa parte da população passou a acalentar a ideia de ter um piano e fazer aulas. Ainda assim, o serviço de um professor era algo reservado a poucos abastados. No entanto, grande parte dos alunos que não construíram carreira como concertistas passaram a lecionar, mercado alavancado pelo aumento da população nas cidades. Surgiram os conservatórios e, posteriormente, as escolas de música de curso livre. E, durante mais de quatro séculos, o ensino do piano foi individual e particular.
Master classes e aulas em grupo
A demanda pela orientação de um bom professor ou concertista de renome cresceu a passos largos. Ter a oportunidade de tocar e receber ensinamentos de um virtuose consagrado passou a ser desejo de muitos estudantes ou pianistas em início de carreira. A fim de atender tal demanda e popularizar ainda mais o instrumento e modernas técnicas de estudo e ensino, master classes passaram a ser realizadas, disseminando conhecimento a um maior número de pessoas ao mesmo tempo. Um grande exemplo dessa atividade, hoje tão comum, foi a série de master classes realizada pela pianista brasileira Magdalena Tagliaferro.
Apesar disso, tanto o início do aprendizado quanto o desenvolvimento de pianistas sempre foi algo individualizado, por conta da metodologia empregada e pelo tamanho do instrumento, pois ambientes de grandes proporções são necessários para o posicionamento de vários pianos.
Com o surgimento de instrumentos eletrônicos como o órgão e de pianos eletromecânicos, de tamanho reduzido, começaram a surgir as primeiras experiências de ensino em grupo, que tinham como intuito principal o aumento de venda desses instrumentos, ainda de valor elevado, mas já acessíveis a grande parte da população. Paralelamente a isso, experiências de aulas coletivas de outros instrumentos, como flauta-doce, violão e violino, por exemplo, apontaram um novo direcionamento para a pedagogia musical, democratizando o acesso à informação e disseminando novas metodologias, com resultados extremamente satisfatórios, principalmente na iniciação musical.
Cenário atual das aulas de piano
Atualmente, com o desenvolvimento da didática direcionada ao ensino em grupo e graças ao advento dos modelos digitais, países mais desenvolvidos têm no ensino coletivo de piano uma nova grande fonte de popularização do instrumento, com a possibilidade de oferecer iniciação musical a um maior número de pessoas ao mesmo tempo. E o melhor: por um custo reduzido.
Se essa talvez não seja a melhor maneira de formar concertistas e virtuoses, com certeza as aulas coletivas de piano, desde que bem elaboradas, possibilitam o contato de interessados com o instrumento, despertam o indivíduo para sua musicalidade e o auxiliam em sua realização pessoal. Além disso, colaboram para a sociabilidade, a interatividade e, até mesmo, desafiam os professores a serem mais ativos, criativos e interessantes. Acima de tudo, podem ser a porta de entrada do mundo da música para um novo grande compositor ou intérprete, que, certamente, terá a oportunidade de aprimorar suas técnicas e conhecimentos com a orientação individual de um bom professor no futuro.