Uma grande preocupação entre os estudantes de piano é conseguir executar, com a máxima perfeição e o menor esforço possível, as grandes obras do repertório tradicional composto para o instrumento.
Para isso, muitas são as técnicas empregadas, que variam de acordo com o professor e a “escola pianística” a qual ele pertence.
Mas, como assim, “escola pianística”? Dependendo da escola de música em que ele estuda, a técnica muda? É mais ou menos isso.
Denomina-se “escola pianística” um conjunto de técnicas que engloba todos os elementos que dizem respeito à execução, desde qual deve ser a postura do pianista até como os movimentos devem ser realizados para atingir a sonoridade e a interpretação desejadas.
Muitas dessas escolas têm relação direta com as regiões onde foram desenvolvidas, portanto é comum ouvir “escola francesa”, “escola russa” e “escola alemã”, entre outras, para definir determinada tradição de abordagem do repertório, abrangendo sonoridade característica, aspectos técnico-interpretativos, predileção por determinado repertório específico, andamentos, uso ou não uso do pedal, métodos pedagógicos e muito mais.
E engana-se quem pensa que as diferenças são sutis! Desde os exercícios técnicos de preparação até a forma como devem ser executados, cada escola pianística encara as passagens técnicas de maneira diversa e propõe soluções diferentes para o domínio de determinada dificuldade. E muito dessa definição nasceu de acordo com o desenvolvimento da composição e da execução pianística durante a história.
Não se pode imaginar, por exemplo, que uma Sonata de Beethoven, um Noturno de Chopin e ou um Prelúdio de Debussy sejam interpretados da mesma maneira e com a mesma sonoridade.
Além da época em que foram compostas, essas obras carregam em si desde aprimoramentos implantados pelas fábricas na construção de pianos à necessidade de preencher sonoramente diferentes espaços, como salões da nobreza, teatros ou pequenas salas de reuniões particulares.
Isso tudo influenciou compositores e pianistas, muitos deles professores, na busca pela técnica ideal, que permitisse atingir a sonoridade, a agilidade e o volume para cada repertório específico.
Por conta disso, os melhores pianistas na execução de obras de compositores alemães, são, também, alemães. E o mesmo vale para os franceses, os russos e todos os outros. E esses conhecimentos foram transmitidos dos professores aos alunos e aos alunos deles, sucessivamente, formando verdadeiras “árvores genealógicas” de mestres e discípulos pianistas.
Embora as escolas pianísticas tenham nascido atreladas a determinadas regiões geográficas e o repertório criado nelas, a prática de estudar em outras cidades ou países e as turnês de exibição eram muito comuns entre os músicos desde o barroco. Por conta disso, um pianista de uma determinada nacionalidade não obrigatoriamente pertence à escola de sua origem ou formação musical. Exemplos disso são a imigração de pianistas russos para a Europa Ocidental e os Estados Unidos, no início do século 20, que disseminaram suas técnicas por lá, e a escola pianística brasileira desse mesmo período, fortemente influenciada pela escola italiana, com posterior acréscimo da francesa trazida por Magdalena Tagliaferro.
Escola pianística: A globalização e as escolas de piano
De certa forma, com a necessidade de dominar aspectos técnicos e conquistar a perfeição artística, o pianista encara a escola pianística a qual pertence com verdadeira devoção, muitas vezes repudiando as outras e encontrando nelas problemas e defeitos.
É possível, inclusive, reconhecer a escola a que cada pianista pertence tanto pela sonoridade quanto pela sua movimentação e o modo como toca as teclas. Fato é que todas trazem benefícios e devem ser encaradas como ferramentas para atingir um objetivo.
E muito disso tem relação com a própria compleição física do músico e da facilidade que ele tem em resolver diferentes problemas técnicos. Com a globalização e a troca de informações muito mais dinâmica entre músicos de diferentes países, regiões e escolas, é possível que, dentro de pouco tempo, esse conceito caia em desuso, com cada pianista adotando as técnicas que melhor se adaptem à sua concepção e aumentem sua produtividade.
Isso tudo, obviamente, vale para os pianistas que se dedicam à música de concerto, também chamada clássica ou erudita. Vale lembrar que, no estudo do piano, nem todos querem se profissionalizar, se tornar músicos de concerto ou construir uma carreira internacional, o que exige dedicação absoluta e muitos sacrifícios.
A maioria quer apenas se divertir, ter prazer e se expressar tendo a música como meio. E, embora muitos dos músicos populares tenham estudado esses conceitos e até mesmo se formado dentro de uma determinada escola técnica, a exigência pela perfeição, nesses casos, é suplantada pela musicalidade, sendo relegada a segundo ou terceiro planos e servindo apenas como recurso para facilitar a execução.
Compare a postura e a movimentação dos dedos, mãos e braços nas interpretações do mesmo Concerto de Chopin por Magda Tagliaferro e Arthur Rubinstein!
Gostei muito porque era exatamente o que precisava para esclarecer dúvidas para um aluna sobre diferentes técnicas . Obrigada.