Alguns dos maiores desafios dos estudantes de piano são as peças de J. S. Bach. Mestre do contraponto, Bach se notabilizou pela escrita polifônica, característica do estilo barroco, que consiste na execução de várias linhas musicais simultaneamente, cada uma a seu tempo, geralmente distribuídas pelas duas mãos ao teclado.
A escrita polifônica, tão comum a outros compositores do período, exige do pianista tanto a execução perfeita de cada linha separadamente quanto a compreensão dos temas envolvidos, a interpretação de cada um e o domínio de diferentes dinâmicas, de modo a destacar cada elemento no momento oportuno.
Como cada linha se desenvolve independentemente e em momentos diferentes, a leitura à primeira vista é desafiadora. O estudo, então, é, além de praticamente obrigatório, bastante exigente e requer muita dedicação.
Para auxiliar os pianistas no estudo e na execução da música de Bach, obrigatória para todos aqueles que pretendem se dedicar ao instrumento, seguem algumas ideias de como praticá-la para obter os melhores e mais rápidos resultados.
1 – Defina um dedilhado
Verifique com bastante cuidado qual o melhor dedilhado para cada trecho da obra. Escreva na partitura aquele que deseja adotar para utilizar sempre o mesmo. Aproveite que está fazendo uma leitura mais atenciosa e reconheça os temas e onde são apresentados.
Uma boa ideia é utilizar lápis coloridos para marcá-los, chamando a atenção para quando um tema é iniciado. Quanto mais claros estiverem os elementos da peça, mais fácil será assimilá-la e aprendê-la.
2 – Verifique e automatize a articulação
Em uma composição polifônica as linhas se repetem, se iniciando frequentemente em notas diversas e em diferentes tonalidades. Por conta disso, é importante definir como será a articulação de cada frase, ou seja, quais notas serão ligadas e quais destacadas.
Depois de encontrar o fraseado perfeito, procure manter a articulação sempre que o mesmo tema aparecer, não importando em qual nota se inicia ou com qual mão é executado. Isso cria unidade na interpretação e uma melhor compreensão da obra.
3 – Estude cada mão separadamente
A dificuldade da música polifônica está em executar simultaneamente várias linhas musicais, muitas vezes duas ou três em cada mão, com articulações diferentes.
Por isso, é imprescindível estudar cada mão separadamente por um bom período, de modo que a execução se torna praticamente automática e subconsciente.
4 – Junte as mãos
O momento de juntar as mãos pode ser extremamente desafiador, mas o estudo lento e dirigido, realizado em trechos bem pequenos de cada vez – um compasso, por exemplo – pode auxiliar a dominar cada movimento. Estude cada trecho lentamente até que consiga dominar a execução e ouvir cada voz separadamente, adotando a articulação estudada anteriormente.
Não passe por cima de nenhum erro, para que esse movimento – errar e corrigir – não seja automatizado. Ao errar, repita algumas vezes separadamente a mão que errou e retorne ao início do trecho. Ao vencer um trecho, siga para o seguinte. Ao dominá-lo, junte aos anteriores e assim sucessivamente.
5 – Toque forte
Nada mais prejudicial à técnica que a falta de segurança. Ao juntar as mãos, toque forte, mantendo a articulação estudada anteriormente, de modo que cada dedo saiba exatamente o que deve fazer e o movimento seja automatizado.
Conforme a peça ganhar velocidade – com a ajuda do estudo com metrônomo – você pode adotar a dinâmica desejada e diminuindo a força de modo a fazer cada frase se destacar quando necessário.
Apesar da falsa impressão de “perda de tempo”, essas técnicas não apenas auxiliarão no domínio da obra como economizarão tempo futuro e trarão segurança à intepretação, garantindo um estudo produtivo e eficiente.