Ao lembrar de grandes compositores, vários são os nomes que se destacam, como Bach, Chopin, Beethoven e muitos outros. Mas, ao citar os grandes pianistas, um deles é considerado, por muitos, o maior de todos os tempos: Franz Liszt.
Liszt nasceu na vila de Raiding, em Doborján, região da Hungria, no dia 22 de outubro de 1811. Foi batizado em latim com o nome “Franciscus”, mas sempre o chamaram de “Franz”, a versão alemã do nome. Era chamado de “François”, em francês, e “Ferenc”, “Ferencz” ou “Ferentz” em húngaro.
Sua nacionalidade é, e sempre foi, motivo de muita discussão. De acordo com pesquisas, seu bisavô, o alemão Sebastian List (a letra “z” foi adicionada mais tarde), resolveu morar na Hungria no século 18.
Como na época a nacionalidade de uma pessoa nascida na Hungria era herdada, seu avô e seu pai também seriam alemães e, seguindo este raciocínio, também Franz Liszt, que sempre respondia, com orgulho, que era húngaro, mesmo sem sequer falar a língua. Sua mãe, Anna Maria Liszt, era austríaca.
Seu pai, Adam Liszt, era administrador das propriedades do Príncipe Nicolas Eszterházy, candidato napoleônico ao trono húngaro e protetor de Joseph Haydn e de Ludwig van Beethoven. Franz recebia aulas do pai, que estudara piano, violino, violão e violoncelo e cantava no coro da igreja.
Em carta datada de 13 de abril de 1820, Adam Liszt conta ao Príncipe Esterházy que havia comprado cerca de 8.800 páginas de partituras dos maiores mestres da música para que Franz estudasse.
Apesar disso, Liszt, já maduro, afirmava que as experiências musicais mais importantes da sua infância foram as performances de artistas ciganos. Em outubro do mesmo ano, o pequeno músico, então com nove anos, participou de um concerto do violinista Baron van Praun. Na segunda parte do evento, tocou um concerto em Mi bemol maior de Ferdinand Ries, com uma coda improvisada que obteve muito sucesso.
No mês seguinte, apresentou-se para uma audiência de aristocratas e membros da alta sociedade, o que rendeu um pagamento anual de 600 gulden durante seis anos, assegurados por um grupo de nobres, para que o garoto pudesse estudar no exterior. A quantia, no entanto, era insuficiente frente ao custo estimado de 1.500 gulden para a educação de Franz.
Em maio de 1822, Adam Liszt pediu ao Príncipe Esterházy um ano de ausência. Quando o príncipe aceitou, ele já havia vendido tudo que possuía em Raiding e, no dia 8, a família foi para Viena.
Ali, o jovem Liszt frequentou aulas de piano com o grande Carl Czerny, que fora aluno de Beethoven. O mestre comentou posteriormente que ficou impressionado com o talento de Liszt ao piano, mas que o aluno “não tinha qualquer conhecimento de dedilhados apropriados e seu jeito de tocar era caótico”. Liszt também passou a ter aulas de composição com Antonio Salieri.
A estreia de Franz Liszt como músico em Viena foi em 1° de dezembro de 1822, em um evento musical na “Landständischer Saal”, em que tocou um concerto de Hummel e fez improvisações sobre uma ária da ópera Zelmira, de Gioachino Rossini, e o allegretto da Sinfonia No. 7 de Beethoven. Em 13 de abril de 1823, foi concertista na “Kleiner Redoutensaal”, tocando um concerto em Si menor de Hummel, Variações de Moscheles e uma improvisação dele mesmo.
Os programas exploravam o efeito do virtuosismo do jovem, e os críticos o acolheram como um fenômeno!
Quando o ano de ausência concedido a Adam Liszt estava chegando ao fim, e o pedido de mais dois não foi concedido, o pai de Franz pediu demissão ao príncipe.
No fim, ainda do mesmo mês, a família voltou pela última vez à Hungria, onde Liszt deu concertos apresentando um arranjo para piano da “Marcha de Rackózy”, algumas danças húngaras e peças de Antal Csermák, János Lavotta e János Bihari, reforçando sua “nacionalidade húngara”. Em seguida, a família retornou à Viena.
Meses depois, a família muda-se para a França, para Liszt estudar no Conservatório Nacional de Paris. Mas o diretor da instituição recusou o aluno por ser estrangeiro.
Liszt completou seus estudos com aulas particulares, com Reicha e Paer. Seu pai não se abalou: os comentários vindos do exterior criaram muita expectativa do público parisiense em relação ao jovem virtuose. Com treze anos, Franz apresentou seu primeiro concerto público no Teatro Louvois e foi aclamado pela imprensa. Aos 14 anos de idade, compôs sua primeira ópera, em um ato, “Don Sancho”.
Franz Liszt centrou seus interesses em sua carreira como intérprete. Trabalhando exaustivamente, é obrigado a tirar um período de férias no litoral francês. Em agosto de 1827, morreu seu pai, o que levou o jovem músico a se mudar para Paris, onde passou a lecionar música, abandonando os concertos. Ali, apaixonou-se por uma aluna, Carolina, filha do Conde Saint Cricq, mas, obrigado a se afastar da amada, recolheu-se ao isolamento.
Em 1830, graças à revolução contra a monarquia de Carlos X, saiu da apatia e conheceu Chopin, Berlioz, Lamartine, Victor Hugo, George Sand e Niccolò Paganini, se familiarizando com o romantismo.
Era famoso na Europa como um virtuose. A “Lisztomania” dominava o continente, e a carga emocional dos seus recitais causavam a muitos ouvintes reações descritas como histéricas. Havia testemunhos de que sua interpretação tinha elevado o estado de ânimo da audiência a um nível de êxtase místico.
Sua fama com as mulheres também era grande. Com 22 anos conheceu a Condessa Marie d’Agoult, com quem viveu durante seis anos na Suíça e teve três filhos.
Liszt desejava compor trabalhos orquestrais em grande escala, mas acabava por não ter tempo para isso por conta de suas viagens como concertista. Em setembro de 1847, deu seu último recital público e anunciou a sua retirada do circuito de concertos, instalando-se na corte de Weimar, na Prússia, onde viveu dez anos como diretor musical da Ópera.
Em 1848, teve um romance com a princesa Caroline Sayn-Wittgenstein, dedicou-se à música orquestral e conheceu o compositor Richard Wagner, futuro marido de sua filha Cosima.
Em 1858, aborrecido com suas funções em Weimar e separado da princesa, Liszt foi para a Itália. Já em 1865, tornou-se membro da terceira ordem dos franciscanos. Durante esse período, dedicou-se à composição de obras sacras. Recluso, fez uma visita à Inglaterra, em 1886, mas a viagem o esgotou. Em Budapeste foi festejado como compositor nacional da Hungria.
Franz Liszt morreu em 31 de julho de 1886, na casa de Wagner, em Bayreuth, na Baviera. Seu corpo foi sepultado no cemitério de Alter Friedhof, na mesma cidade.
A Obra de Franz Liszt
Considerado o maior pianista de sua época e um dos maiores de toda a história, Franz Liszt foi um dos mais proeminentes representantes “Neudeutsche Schule” (Nova Escola Alemã). Deixou obras que influenciaram seus contemporâneos sobre o futuro e antecipou algumas ideias e tendências do século 20.
Algumas de suas contribuições mais notáveis foram a invenção do poema sinfônico, em que desenvolve o conceito de transformação temática, radicais rupturas em harmonia e a popularização das transcrições para piano.
No campo da música sacra, destacam-se os oratórios: S. Isabel, S. Stanislaus (incompleta), Christus e Via Crucis. Escreveu duas sinfonias: a Sinfonia Dante, inspirada na Divina Comédia de Dante Alighieri; e a Sinfonia Fausto, composta por diferentes quadros que caracterizam as personagens de Fausto, do escritor alemão Goethe. Liszt também escreveu inúmeros lieder e peças para música de câmara, das quais se devem destacar as obras para violino e piano.
Mas a grande contribuição de Liszt para a música foi nas obras para piano. Sua Sonata em Si menor é, provavelmente, sua obra de maior vulto e um verdadeiro desafio aos pianistas. Suas 19 Rapsódias Húngaras para Piano (posteriormente orquestradas) são muito populares. A mais conhecida delas, a de número 2, até se tornou trilha sonora de desenhos animados. Veja no vídeo abaixo:
No compêndio de peças para piano como Liebesträume (“Sonhos de Amor”), produzida a partir de poemas de Ludwig Uhland e Ferdinand Freiligrath, destaca-se a peça No. 3, conhecida como “Liebestraum”, que faz parte do repertório de aclamados pianistas. Ainda se destacam os dois concertos para piano e a Valsa Mephisto No. 1.
Os 12 Estudos de Execução Transcendental estão entre as obras mais virtuosísticas já escritas para o piano. A primeira versão desses Estudos, Étude en Douze Exercises (“Estudo em Doze Exercícios”), foi lançada em 1826, quando Liszt tinha apenas 15 anos.
Em 1837, foi lançada uma outra versão desses Estudos, que recebeu o nome de Douze Grandes Études. A terceira versão (a mais conhecida, gravada e executada) foi lançada em 1852 (catalogada como S139), e recebeu o nome de Estudos de Execução Transcendental, mais conhecida por Estudos Transcendentais. Foi dedicada a Carl Czerny.
A primeira versão já era desafiadora, mas a segunda versão contém um salto assustador no nível de virtuosismo, a ponto de Liszt reconhecer que seu nível de dificuldade era tão alto que, na versão Transcendental, resolveu facilitar os exercícios e dar mais ênfase à musicalidade deles.
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