Ao lado de Stravinski, Schoenberg e Bartók, Olivier Messiaen é um dos maiores compositores da modernidade e sua música, ao contrário da regra, não sofreu resistência por parte do público e está se tornando cada vez mais popular.
Autor de grande produção – que vai de obras para piano e órgão à música de câmara, vocal e sinfônica – Olivier Eugène Prosper Charles Messiaen nasceu a 10 de dezembro de 1908, em Avignon, França, filho mais velho de Cécile Sauvage, uma poetisa, e Messiaen Pierre, um professor de Inglês, que traduziu as peças de William Shakespeare em francês.
Aos 11 anos, o jovem Olivier ingressou no Conservatório de Paris, onde teve, entre seus professores nomes como Georges Falkenberg (piano), Georges Caussade (contraponto e fuga), César Abel Estyle (piano acompanhamento), Maurice Emmanuel (história da Música), Marcel Dupré (órgão e improvisação), Paul Dukas (composição e orquestração) e Joseph Baggers (tímpanos e percussão), entre outros. Obteve cinco primeiros prêmios, em Composição, Contraponto e Fuga, Órgão e Improvisação, Acompanhamento ao Piano e História da Música.
Em 1930 concluiu os seus estudos e, no ano seguinte, com apenas 22 de idade, foi nomeado Organista Titular da Igreja La Sainte Trinité, em Paris – feito nunca alcançado por alguém tão jovem -, posto que ocupou até à sua morte.
Suas primeiras grandes composições, como “Le Banquet Céleste” (1928), “Offrandes Oubliés” (1931) e “Quatre Méditations sur l’Ascension” (1932), já demonstravam seu estilo inovador e original. Em 1936, foi designado professor da École Normale de Musique de Paris, ensinando diversas matérias, e órgão e improvisação na Schola Cantorum. No mesmo ano, conheceu a criatividade musical de Jolivet com quem fundou, juntamente com os músicos vanguardistas Baudrier e Daniel-Lesur, o grupo La Jeune France, que tinha como finalidade incentivar um novo estilo de música que preconizava qualidades mais humanistas e espirituais.
Quando a França ingressou na Segunda Guerra Mundial, foi chamado a cumprir o serviço militar e poucos meses depois, em maio de 1940, durante uma ofensiva alemã, foi capturado. Foi levado ao campo de concentração Stalag VIII A de Görlitz (na fronteira sudoeste da Polônia), onde sobreviveu por um ano. O oficial nazista responsável pelo Stalag era amante de música e, quando soube das competências de Olivier Messiaen (como de outros três prisioneiros músicos), deixou que o compositor trabalhasse a fim de fazer um concerto no campo. Messiaen compôs, então, o “Quatuor pour la fin du temps” (Quarteto para o fim dos tempos) uma das suas obras mais ambiciosas, para os quatro instrumentos disponíveis: piano, violino, violoncelo e clarinete. A obra foi estreada em circunstâncias insólitas, na própria prisão, perante cerca de cinco mil prisioneiros oriundos de diversos países, a 15 de janeiro de 1941, com o próprio Messiaen ao piano, e três outros músicos também detidos – o violoncelista Étienne Pasquier, o violinista Jean Le Boulaire e o clarinetista Henri Akoka.
Libertado em 1941, e de volta à França, passou a lecionar Harmonia no Conservatório de Paris. Entre 1943 e 1947 deu aulas particulares de Análise e Composição na casa do seu amigo Guy Bernard-Delapierre. Foi aqui que juntou um extraordinário círculo de jovens estudantes entre os quais se encontravam Pierre Boulez, Maurice Le Roux, Yvette Grimaud, Jean-Louis Martinet, Yvonne Loriod e Serge Nigg.
Em 1944, publicou o livro Technique de Mon Langage Musical no qual expõe os princípios que regiam seus métodos e técnicas de composição. Em 1947, tornou-se professor de Análise Musical no Conservatório e só quase vinte anos mais tarde, em 1966, iria ocupar o cargo de professor de Composição que manteve até os 70 anos. Suas aulas ganharam uma enorme reputação e Messiaen começou a ser solicitado para desenvolver diversas atividades como professor convidado em cursos internacionais realizados em diversas cidades, como Budapeste, Tanglewood, Darmstadt e Saarbrücken, entre outras. A ação docente de Messiaen exerceu influência decisiva em sucessivas gerações de compositores, entre os quais Pierre Boulez, Karlheinz Stockhausen, lannis Xenakis, Paul Méfano, Gilles Tremblay, Gilbert Amy, Nguyen Thien Dao, Gérard Grisey, Tristan Murail, Kazuoki Fujii e Almeida Prado.
A década de 1940 constituiu um importante período de sua produção, em que escreveu obras como “Visions de l’Amen” (1943) para dois pianos, “Trois petites liturgies” (1943-44), “Vint Regards sur l’Énfant-Jésus” (1944) para piano, “Harawi “(1945) para soprano e piano, e a Sinfonia “Turangalila” (1946-48), que utiliza o Ondas Martenot e que foi estreada pela Orquestra Sinfónica de Boston sob a direção de Leonard Bernstein, a 2 de dezembro de 1948, em Boston.
Na década seguinte, quase toda sua produção é baseada no canto dos pássaros: à obra para flauta e piano “Le merle noir” (1952), seguem-se “Réveil des oiseaux” (1953), “Oiseaux exotiques” (1955-56) e “Catalogue d’oiseaux” (1956-58). Esse período, baseado no canto dos pássaros, irá culminar com a obra “Chronochromie” (1959-60) para grande orquestra. Em 1962, Messian visitou o Japão acompanhando Ivonne Loriod, intérprete devota e incondicional das suas obras – com quem se casou – e escreveu a obra “Sept Haïkaï” como homenagem à essa excursão.
“Couleurs de la Cité Céleste” (1963) marca o retorno aos temas litúrgicos iniciando um processo de reunião e combinação de todas as componentes da sua linguagem musical que tinha descoberto e desenvolvido durante quatro décadas: melodias modais, harmonias suntuosas, ritmos dinâmicos e estáticos, especulações abstratas do período à volta dos anos 50, o canto dos pássaros e as cores. Seguiram-se obras como “Et Exspecto Resurrectionem Mortuorum” para orquestra – encomendada pelo Governo Francês e dedicada à memória dos mortos das duas Guerras Mundiais -, “La Transfiguration de Notre Seigneur Jésus-Christ” para sete instrumentos solistas, coro e grande orquestra – encomendada pela Fundação Calouste Gulbenkian -, e “Des Canyons ou Étoiles” para piano e orquestra. Outras obras de destaque foram a ópera “Saint François d’Assise” (1975-83), “Livre du Saint-Sacrament” (1984), para órgão, e “Éclairs sur l’Au-Delà”, encomendada por Zubin Metha para a Orquestra Filarmónica de Nova Iorque. Olivier Messiaen morreu a 27 de abril de 1992em Clichy, Haut-de-Seine, perto de Paris, na França, pouco depois da estreia dessa obra.