É muito comum compartilhar o prazer de tocar piano com amigos, parentes ou companheiros executando peças escritas para piano a quatro mãos ou dois pianos, prática extremamente lúdica e sociável, além de pedagógica. Compartilhar a execução musical com outro pianista pode render tanto ótimos momentos de prazer e satisfação quanto execuções memoráveis e obras inesquecíveis.
A prática do piano a quatro mãos representa um recurso relevante na formação de pianista desde a iniciação musical. Há métodos e compêndios em que o iniciante deve ser acompanhado pelo professor ou um aluno mais adiantado, o que torna as peças mais interessantes e oferece as primeiras noções de harmonia ao estudante.
Como funciona o piano a seis mãos
Menos comum que o piano a quatro mãos é o uso do piano por três pianistas simultaneamente, prática que, embora pareça excêntrica, tem seu uso e foi utilizada por vários compositores e arranjadores. Descrita como piano a seis mãos, a ideia de otimizar o uso de um instrumento de grande tessitura e ampla gama dinâmica gera curiosidade e, muitas vezes, encontros inéditos, além de certa surpresa.
Por vezes chamada de “trieto” (por analogia com “dueto”, mas se afastando do termo “piano trio”), essa formação ainda não teve o reconhecimento de sua importância, tampouco todas as suas possibilidades exploradas. Muitas das peças escritas para essa combinação são de natureza elementar ou arranjos de composições para outras formações, pois, embora o piano conte com 88 teclas, a tessitura disponível para cada um dos três pianistas nessa divisão é limitada.
Além disso, contribui para a pouca divulgação dessa combinação o fato de que, geralmente, reunir três pianistas com a mesma habilidade acaba sendo uma tarefa árdua. Também dificulta o fato de que, se os músicos forem corpulentos, a divisão do espaço acaba sendo bastante desconfortável. Apesar disso, há um pequeno número de trabalhos originais para essa formação.
Obras para piano a seis mãos
Um dos compositores que mais se dedicou ao piano a seis mãos foi Carl Czerny, o pai da moderna técnica pianística. O austríaco escreveu várias obras para essa formação, tendo como foco tanto o conceito pedagógico quando a exploração das possibilidades do piano em trio.
Entre as obras originais, podem ser destacadas “Les trois Sœurs” Op.609, “Divertissement militaire” Op.229, “Polonaise brillante” Op.296, “Victoria Quadrille” Op.594 e “Potpourri No.1” Op.38. Além dessas, Czerny aproveitou temas em obras como “Fantaisie sur ‘La sonnambula”’, “6 Fantaisies brillantes sur des mélodies favorites” Op.741, “Deux Grandes fantaisies sur des motifs favoris de ‘Norma’” Op.689 e “Variations brillantes sur un thême de l’opéra ‘I Capuleti e i Montecchi’” Op.295 para escrever para três pianistas.
O russo Sergei Rachmaninoff, compositor de algumas das obras que mais exigem dos músico, também escreveu para trio, em suas “Duas peças para Seis Mãos – Romance e Valse”.
Outro compositor que se debruçou sobre o piano a seis mãos foi o alemão Cornelius Gurlitt, que escreveu as “Seis Peças para Seis Mãos” Op. 192. Também alemão, o contemporâneo Armin Fuchs dedicou à formação algumas de suas obras mais importantes, como “Pequenas mecânicas de espaço-tempo para György”, “Ou não?” e “Talvez, talvez não”, entre outras.
As composições incluem cinco peças de Percy Grainger, Romance and Valse de Sergei Rachmaninoff, Hommage de Alfred Schnittke, opp. 17, 84, 227–229, 295–298, 609, 689, 741 e 798, “Âmes d’enfants” de Jean Cras, “Pensees” e “Montmartre” de Paul Robinson, várias peças do compositor alemão Armin Fuchs [de], compositor búlgaro Tomislav Baynov “Metrorhythmia 1″, de John Pitts ” Are You Going?”, “Fantasy on a theme by Steve Reich” do compositor grego Dionysis Boukouvalas, “Slowdown” do compositor canadense Paul Frehner, “S[wim]” do compositor malaio Samuel Cho, compositor italiano “Passeio” de Fabio Mengozzi.