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Almeida Prado tocando um piano da Fritz Dobbert

Almeida Prado, o pianista e compositor contemporâneo brasileiro

Almeida Prado tocando um piano da Fritz Dobbert

Considerado um dos maiores expoentes da música erudita no Brasil, o compositor, pianista, regente e professor Almeida Prado é referência quando se trata de música contemporânea.

Professor do Instituto de Artes da Unicamp durante 25 anos, prezava pela originalidade e pela liberdade estética. Como compositor, dizia-se completamente livre para empregar elementos de nacionalismo, atonalismo e tonalismo, além de referências à ecologia, à religião e ao misticismo.

Início na música

José Antônio Rezende de Almeida Prado nasceu em Santos, no Estado de São Paulo, a 8 de fevereiro de 1943 e iniciou seus estudos de piano aos 10 anos de idade sob a orientação da pianista e compositora Dinorá de Carvalho.

Aos 14, ingressou na classe particular do compositor Camargo Guarnieri, assistindo também às aulas de teoria musical e harmonia de Osvaldo Lacerda, e era pupilo informal do vanguardista Gilberto Mendes. Em 1963, formou-se pelo Conservatório de Santos, local em que lecionou entre 1965 e 1969.

Com a cantata “Pequenos Funerais Cantantes” – sobre um texto de sua prima, a poeta Hilda Hilst – conquistou o prêmio de melhor obra no “I Festival de Música da Guanabara”, em 1969, e uma bolsa de estudos que o levou à Europa.

 

Almeida Prado jovem

 

Passagem na Europa

Em Darmstat, Alemanha, frequentou cursos dos compositores Gyorgy Ligeti e Lukas Foss e seguiu para uma temporada de quatro anos em Fontainebleau e Paris, na França, frequentando um curso de especialização em composição com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen, entre 1970 e 1973. Em Paris, sua Sinfonia nº 1 recebeu o Prêmio Lili Boulanger, em 1970.

Dois anos mais tarde, enviou para o Brasil o oratório “Trajetória da Independência”, pelo qual recebeu do Governo do Estado de São Paulo o Prêmio Independência do Brasil. Em 1973, retornou ao Brasil e assumiu o cargo de diretor do Conservatório Municipal de Cubatão, em São Paulo.

No ano seguinte, foi convidado pelo fundador e reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Zeferino Vaz, a integrar o corpo docente da universidade. Dirigiu o Instituto de Artes da Unicamp entre 1981 e 1987 e permaneceu ali como professor de composição até aposentar-se, em 2000.

 

Academia Brasileira de Música

Em 1979, o compositor recebeu do Governo do Estado de São Paulo a Medalha Mário de Andrade. Três anos mais tarde, passou a ocupar a cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Música – cujo patrono é Carlos Gomes – e, em 1984, foi professor convidado na Universidade de Indiana, Bloomington, Estados Unidos.

Entre 1989 e 1990, Almeida Prado vai a Jerusalém como professor convidado da Rubin Academy, visita que influenciou profundamente o compositor e gerou obras com temática mística. De volta ao Brasil, passou a residir em São Paulo onde ministrava cursos de análise musical e sobre sua obra e se dedicava à composição.

Em 1995 e 2000, recebeu prêmios nacionais pelo conjunto de sua obra, concedidos pela Fundação Nacional de Arte (Funarte) e pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, respectivamente. Em 2005, foi compositor residente do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão.

Almeida Prado tinha saúde frágil. Diabético desde 1997, tinha problemas de visão e apesar das dificuldades, continuou sendo um dos mais requisitados autores brasileiros. Em 2010, depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória, foi internado em um hospital de São Paulo e faleceu dez dias depois, na manhã de 21 de novembro de 2010, aos 67 anos de idade, vítima de um edema pulmonar agudo.

 

Composições

Pianista virtuose, Almeida Prado foi um dos compositores brasileiros que melhor escreveu para o instrumento, tendo composto obras concertantes, camerísticas e solistas. As mais célebres são as “Cartas Celestes nº 1”, de 1974, em um idioma arrojado e despido de concessões.

A peça foi encomendada por José Luiz Paes Nunes para ser utilizada como música incidental em uma exibição no Planetário do Ibirapuera, em São Paulo, com duração de 20 minutos.

O roteiro concebido pela equipe da sala contém indicações de aumento e decréscimo da luminosidade do ambiente, combinado ao aparecimento das constelações. Almeida Prado, em posse do roteiro que guiou sua composição, procurou traduzir esses diversos momentos de luz e imagens em gestos musicais, batizados por ele de “ressonâncias luminosas” e “poeira cósmica”.

A peça tornou-se referência entre as obras do compositor e deu início a uma rica série de criações com “temática astrológica”.

 

 

As 15 “Cartas Celestes”, compostas entre 1974 e 2001, formam um grande ciclo para piano solo com cerca de três horas de duração. Para piano solo, compôs também “Rios”, de inspiração ecológica, “Savanas”, sobre materiais étnicos da arte africana, e “14 Variações sobre Xangô”, além de “Poesilúdios”, “Sonetos” e “O Rosário de Medjugorjie – Ícone Sonoro para Piano (apelos para a oração do coração)”, sonatas, sonatinas, variações e peças avulsas.

É autor, ainda, de diversas canções e obras corais e para outros instrumentos, além de música de câmara. Não restrito à música de concerto, compôs, em 1987, a trilha dos filmes “O País dos Tenentes”, de João Batista de Andrade, “Estudos Sobre Paris”, de André Sauvage, e “Doramundo”, de João Batista de Andrade, entre outros.

 

 

Extremamente prolífero, seu catálogo inclui mais de 500 obras – parte das quais publicada pela editora alemã Tonos Musikverlags – que têm sido executadas com frequência e com grande êxito. O valor incalculável das obras do multifacetado compositor é atestado nacional e internacionalmente, recebendo importantes e inúmeros prêmios pelo mundo.


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