Intérprete de raro talento, reconhecida por público e crítica do Brasil e do exterior, Clara Sverner é uma pianista paulistana, nascida em 29 de agosto de 1936. A descoberta do piano aconteceu de maneira um tanto quanto insólita: aos 4 anos de idade, percorreu sozinha os corredores escuros de um hotel na cidade de São Lourenço, em Minas Gerais, onde a família passava férias, para descobrir de onde vinha o som que ela ouvia. Dessa forma descobriu o instrumento e, a partir daí, esse passou a ser seu objeto de desejo. Em seu aniversário de 5 anos, ganhou de presente seu primeiro piano e, pouco mais de um ano depois, já interpretava peças de Schumann em auditórios de rádio, durante programas transmitidos ao vivo para a capital paulista. Aos 11, venceu o Concurso Bach, interpretando uma Suíte Inglesa, e aos 12 fez sua estreia com orquestra sob a regência de Armando Belardi.
Aluna de José Kliass, conquistou, com apenas 16 anos, o Concurso Internacional Wilhelm Backhaus, e aos 18, atuou como solista convidada da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) na primeira audição em solo nacional do Concerto para Piano e Orquestra de Katchaturian, sob a regência do maestro Eleazar de Carvalho.
Aperfeiçoou-se no Conservatório de Genebra, Suíça, onde, em 1957, diplomou-se com a Medalha de Ouro, tendo como mestre Louis Hildebrand. Depois, estudou com Leonard Shure, discípulo de Artur Schnabel, no Mannes College of Music, de Nova York. Em 1958, declinou do convite de seu professor para estar entre os concertistas do Festival de Aspen, nos Estados Unidos, o que alavancaria sua carreira internacional, para se casar e mudou-se para o Rio de Janeiro.
Sua estreia fora do Brasil só ocorreu em maio de 1973, no Mann Auditorium, de Tel Aviv, acompanhada da Filarmônica de Israel, que lhe abriu novamente as portas para a carreira internacional e a levou a apresentações em Paris, Londres, Hamburgo, Frankfurt, Nova York, Washington, Barcelona e diversas cidades do Japão, em recitais solo ou em duo, como os formados com o violoncelista Takeichiro Hirai ou a soprano alemã Margarita Schack.
Ao lado da paixão por compositores como Debussy, Ravel, Webern, Bartok ou Satie, a pianista já havia explorado peças de Cláudio Santoro, Heitor Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Marlos Nobre, Osvaldo Lacerda e Ernesto Nazareth, e foi a principal responsável pela redescoberta da obras de Glauco Velásquez, a quem dedicou três álbuns. Foi pioneira, também, na revalorização da produção pianística de Chiquinha Gonzaga – a quem dedicou várias gravações e dois LPs – e Eduardo Souto, com o LP Clara Sverner interpreta Eduardo Souto, destacando-se com composições como “Carinhosa”, “Visão do Pierrot” e “Isto é bom”, entre outras.
A partir daí, sua proximidade com a música popular se tornou ainda maior, consagrada com o duo antológico formado com Paulo Moura, um dos maiores saxofonistas do país. A dupla fez inumeráveis recitais pelo País e gravou quatro discos, ganhando prêmios, a crítica e o público. O duo introduziu uma surpreendente mistura do clássico ao popular, explorando um repertório que abrangia desde os clássicos da música popular, como Pixinguinha, até obras especialmente compostas para eles por Almeida Prado, Gilberto Mendes e Ronaldo Miranda.
Além do saxofonista, Clara Sverner também formou um duo de piano com João Carlos Assis Brasil, muito ativo em gravações e palcos, trabalho abrangente em que apresentavam obras de uma grande plêiade de compositores, de Joplin a Satie.
Dedicando grande parte de sua produção à gravação de discos, Clara mergulhou na obra de Heitor Villa-Lobos no CD Alma Brasileira, revisitou Glauco Velasquez em CD encomendado pelo selo alemão Marco Polo, e inaugurou seu próprio selo (Ergo) com um CD dedicado à Chiquinha Gonzaga.
Surpreendendo a todos no início do século 21, voltou sua atenção à obra de Mozart e lançou-se ao projeto desafiador de gravar o ciclo integral das sonatas para piano do compositor austríaco. O primeiro volume de Mozart Por Clara Sverner foi finalista do Prêmio TIM. O volume 2 ganhou o Prêmio TIM de melhor disco erudito e o volume 3 foi indicado ao Grammy Latino. Dona de uma discografia que conta hoje 24 títulos, Sverner lançou em 2011 o disco Chopin por Clara Sverner – indicado ao Grammy Latino, na categoria de melhor disco erudito – e no ano seguinte, Debussy e Ravel por Clara Sverner, gravado em Londres.
Dando vazão a seu arrojo e à busca por novas linguagens – que incluem a participação em um projeto de Muti Randolph em 2009 em que imagens eram geradas a partir do piano e no festival de música eletrônica de vanguarda Sónar, em 2012 – Clara Sverner é protagonista, ao lado da atriz Nathalia Timberg, do espetáculo Chopin ou O Tormento do Ideal que associa música e poesia partindo de recortes textuais da vida de Chopin, cartas de George Sand entrelaçadas com declarações e poemas de Musset, Liszt, Baudelaire, Gérard de Nerval e Saint-Pol-Roux.