Tocar um instrumento musical é prazeroso e lúdico, uma prática que traz inúmeros benefícios a todo aquele que se dedica a ela em diversos campos, incluindo o desenvolvimento da motricidade, aprimoramento da sociabilidade e, até mesmo, o tratamento de doenças, entre muitos outros.
Mas ter a música como prática profissional de alto nível exige dedicação extrema, traduzida, principalmente, em horas dedicadas ao estudo do instrumento, em que o corpo e a mente são exigidos até, muitas vezes, a exaustão. Tocar piano, em níveis elevados de performance, é análogo à performance de um atleta, envolvendo intenso treinamento muscular, e esse alto nível de exigência predispõe os pianistas de elite a vários riscos.
Pianistas, apesar de atuarem sobre seu instrumento em posição simétrica, podem ter problemas na coluna, nos ombros, no pescoço e na articulação dos punhos, dos cotovelos e dos dedos.
Como o piano é um instrumento que só permite ajustes na altura do banco, o tipo físico do músico pode favorecer o aparecimento de lesões específicas, e a escolha desse acessório pode ser determinante para a qualidade do estudo: um pianista muito alto pode ter de se curvar para ler a partitura, afetando o pescoço; um músico de estatura baixa, por sua vez, pode ter dificuldades para alcançar o pedal.
A incidência de complicações neuromusculares ocupacionais em pianistas é muito elevada e as dificuldades técnicas de performance se mostraram como um fator importante no aparecimento desses problemas. Estudos apontam que a existência de sintomas nos pianistas estudados é muito superior à encontrada em grupos de controle, chegando a 91,5% do total.
Os principais são dor – principalmente no pescoço, nas costas e nos membros superiores – e fadiga muscular. As causas mais comuns são os movimentos repetitivos, as posturas inadequadas e o esforço exagerado – e muitas vezes desnecessário – ao tocar o instrumento, o que abre caminho para o surgimento da síndrome conhecida como LER.
LER (Lesões por Esforço Repetitivo): Tratamento e como evitá-las
LER (Lesões por Esforço Repetitivo) é uma síndrome constituída por um grupo de doenças – tendinite, tenossinovite, bursite, epicondilite, síndrome do túnel do carpo, dedo em gatilho, síndrome do desfiladeiro torácico, síndrome do pronador redondo, mialgias – que afeta músculos, nervos e tendões, principalmente dos membros superiores, e sobrecarrega o sistema musculoesquelético.
O termo é genérico e cabe ao médico fazer o diagnóstico específico da doença que gerou o sintoma apresentado. A LER se manifesta por causa da repetição do mesmo movimento em uma frequência elevada ou fora do eixo normal.
Os principais sintomas são dor nos membros superiores e nos dedos, dificuldade para movimentá-los, formigamento, fadiga muscular, alteração da temperatura e da sensibilidade, redução na amplitude do movimento e inflamação, podendo gerar, até mesmo, atrofia muscular e deformidade da mão.
Na maioria das vezes, esses sintomas estão relacionados com uma atividade inadequada não só dos membros superiores, mas de todo o corpo, que se ressente, por exemplo, se houver compressão mecânica de uma estrutura anatômica, ou se a pessoa ficar sentada tocando piano por oito ou dez horas seguidas.
Outro aspecto que costuma afetar os músicos é a pressão emocional e seus reflexos na tensão muscular. “A ansiedade pelo bom desempenho faz a pessoa se esquecer da dor e se submeter a níveis inimagináveis de esforço físico e de agressão ao corpo”, diz o médico e também pianista João Gabriel Fonseca, professor das Faculdades de Medicina e de Música da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que estuda problemas de saúde relacionados com a prática musical há 25 anos.
Se a LER é relacionada diretamente ao tipo de atividade profissional desenvolvida, pode ser caracterizada como DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), LTC (Lesão por Trauma Cumulativo) ou AMERT (Afecções Musculares Relacionadas ao Trabalho).
Para a prática profissional de alto nível de um pianista seja saudável e produtiva, muitas são as técnicas específicas utilizadas para obter o máximo de performance com o mínimo esforço. Mas, apesar de a maioria dos pianistas de alto nível possuir conhecimento suficiente para evitar a LER, muitos deles já foram vítimas da síndrome, como João Carlos Martins, por exemplo.
Nas crises agudas de dor, o tratamento inclui o uso de anti-inflamatórios e repouso das estruturas musculoesqueléticas comprometidas. Nas fases mais avançadas da síndrome, a aplicação de corticoides na área da lesão ou por via oral, fisioterapia e intervenção cirúrgica são recursos terapêuticos considerados.
A boa notícia é que quem começa a estudar música na infância tem mais chances de desenvolver adaptações anatômicas que facilitem a prática, fortalecendo músculos e tendões com o decorrer do tempo e adotando práticas e postura compatíveis com o esforço a ser realizado. Para isso, também concorre a orientação de um bom professor, ciente dos riscos que os hábitos não recomendados podem trazer.
Entre as medidas preventivas, os músicos podem adotar algumas muito eficientes, que trarão benefícios não apenas físicos, mas também mentais. Além de adotar técnicas que diminuam a quantidade de repetições e a duração do estudo, o músico deve descansar de 10 a 15 minutos a cada uma ou duas horas. Também é salutar alternar entre as diversas atividades – ou estudos – de modo a variar o trabalho exercido pelas estruturas osteomusculares.
É extremamente aconselhável que, assim como um atleta, o músico se prepare para o estudo ou a performance, com a prática de exercícios físicos para condicionamento geral e a adoção de técnicas de alongamento. É necessária, muitas vezes, a correção dos hábitos posturais, principalmente durante o uso do instrumento, a chamada RPG (reeducação postural global).
É importante salientar que a dor não faz parte de nenhum processo de desenvolvimento técnico e, ao primeiro sinal dela, um médico deve ser consultado imediatamente.
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