Mentora dos compositores Robert Schumann (1810-1856), com quem se casou, e Johannes Brahms (1833-1897), Clara Schumann foi uma das primeiras mulheres a se destacar como concertista e compositora no século 19, influenciando vários artistas de sua época.
Clara Josephine Wieck nasceu em 13 de setembro de 1819, na cidade de Leipzig, na Alemanha. Sua mãe, Marianne, era excelente musicista e dava concertos. Desde muito nova Clara aprendeu piano mediante a disciplina rígida do pai, Friedrich Wieck, um renomado professor.
Quando ela contava 4 anos, o casal se separou e, posteriormente, o pai ganhou a custódia da menina. A partir dos 13, Clara desenvolveu uma brilhante carreira pianística, apresentando-se como criança prodígio em vários palcos pela Europa.
Se destacava pela performance de obras de compositores românticos como Frederic Chopin e Carl Maria Von Weber. Aos 14, estreou seu próprio Concerto para Piano, com Félix Mendelssohn regendo. Aos 18 anos, se tornou uma das principais virtuoses da Europa. No entanto, o curso de sua vida teria uma mudança de rumo quando conheceu Robert Schumann.
Casamento com Robert Schumann
Eles se conheceram quando o então jovem estudante foi ter aulas de piano com o Sr. Wieck em 1830. Sob a promessa (não cumprida) de deixar de fumar charutos e, sobretudo, de beber tanto, Schumann se mudou em outubro daquele ano para a casa do mestre.
De início, Clara não interessou ao jovem músico, mas, aos poucos, se aproximaram e viveram um tumultuado romance, marcado por encontros secretos e escapadas. Friedrich Wieck ficou horrorizado com a perspectiva de ter como genro o jovem – que tacha de beberrão e perdido – e, preocupado com o futuro da filha, se opôs com toda a autoridade paterna à ligação.
Em 1838, Clara foi homenageada pela corte austríaca e eleita para a prestigiosa Sociedade dos Amigos da Música (Gesellschaft der Musikfreunde), em Viena, em meio à uma longa batalha judicial de 5 anos desferida por Schumann, que conseguiu a permissão para desposá-la após ela completar 21 anos. Em 12 de setembro de 1840, Schumann e Clara finalmente se casam.
Na véspera do casamento, Schumann dá à sua noiva, em esplêndida encadernação, o ciclo de canções Myrthen (Mirtos). As vinte e seis canções que o integram (tantas quanto as letras do alfabeto) são um diário das alegrias e das tristezas do compositor, nos anos de sua ansiosa espera. O casal teve oito filhos entre 1841 e 1854 e, embora as responsabilidades familiares reduzissem sua carreira, Clara lecionou no Conservatório de Leipzig, compôs e viajou com frequência.
Nos primeiros anos de casamento, conseguiu compor algumas canções e peças para piano, mas quando a família se mudou para Düsseldorf, em 1853, se tornou significativamente mais produtiva, compondo várias obras importantes, incluindo seu Op. 20 Variações sobre um tema de Robert Schumann e Six Songs, op. 23.
Carreira de Clara Schumann
Como concertista, Clara estabeleceu novos padrões de desempenho que continuam até hoje, incluindo a execução de recitais e concertos de memória. Em seus recitais, ela promoveu compositores contemporâneos, particularmente o marido, Robert Schumann, e o jovem Johannes Brahms, além de interpretar músicas menos conhecidas de J. S. Bach e D. Scarlatti.
Ao longo dos anos, se apresentou em 238 concertos com o violinista Joseph Joachim e foi por meio dele que os Schumann conheceram Johannes Brahms, que se tornou muito próximo da família. Brahms impressionou muito o casal e algum tempo depois Clara passou a nutrir um sentimento especial por ele, mas que não chegou a ser exposto publicamente.
Essa relação de amor mútuo – que provavelmente permaneceu platônica – tem sido muito discutida e dissecada por acadêmicos e historiadores desde então.
Desafios depois de se tornar viúva
Clara continuou a compor, mas a vida com Schumann era complicada por conta das constantes crises nervosas do marido. Robert sofreu um colapso mental em 1854, tentou suicídio e foi colocado em um manicômio, onde ficou por dois anos, até sua morte, aos 46 anos.
Após 14 anos de casamento, Clara ficou sozinha com os filhos, tendo que dar aulas e fazer apresentações para sustentar a família. Trabalhou intensamente na divulgação da obra do marido que perdera, e toda vez que se apresentava, fazia-o vestida de preto, por ser viúva.
A amizade com Brahms foi o principal sustentáculo nesse período. Foram anos de colaboração mútua, já que os dois artistas eram defensores ferrenhos da estética romântica ligada a um padrão mais formal, e opositores de Richard Wagner e Franz Liszt.
Os dois moravam em cidades diferentes, mas mantiveram uma correspondência, publicada mais tarde com o título de Cartas de Clara Schumann e Johannes Brahms. A relação entre eles continuou até a morte da pianista, em 20 de maio de 1896, em consequência de um derrame, aos 77 anos de idade, em Frankfurt am Main.
Legado deixado por Clara
Sua longa carreira como concertista (63 anos) reflete a história da vida musical do século 19 e seu nome aparece como grande influência na mudança de hábitos que se deu entre seu primeiro recital público, em 1828, e o último, em 1891.
Como compositora, porém, sua atuação não alcançou as mesmas proporções. Se tivesse composto mais, Clara Schumann poderia ter ascendido às alturas artísticas de seu marido compositor, que muitas vezes a encorajou. O casal chegou a escrever uma obra juntos, 12 Songs from Liebesfrühling (Love’s Spring, poemas de Friedrich Rückert), seu Op. 12 e seu Op. 37; três de 12 eram dela.
A composição foi apenas uma pequena parte de sua notável vida artística, mas é a principal maneira pela qual o público hoje pode explorar seu rico legado. “Compor me dá um grande prazer”, escreveu ela. “Não há nada que supere a alegria da criação, até porque com ela se ganha horas de esquecimento de si mesmo, quando se vive em um mundo de sons.