Durante o desenvolvimento da música no decorrer dos séculos, várias foram as tentativas de criar movimentos interessantes e manter a atenção dos ouvintes frente às inovações harmônicas e às alterações de foco, da polifonia vocal à melodia acompanhada.
Uma dessas técnicas é o Baixo Alberti, um tipo particular de acompanhamento, frequentemente usado na era clássica – e, às vezes, na era romântica – que utiliza os acordes de três notas de maneira quebrada ou arpejada, mais comumente com as notas executadas na ordem grave, aguda, média, aguda. O padrão é então repetido várias vezes ao longo da música, ajudando a criar uma sonoridade suave, sustentada e fluida ao acompanhamento de melodias ao piano.
O nome é proveniente do talentoso compositor amador veneziano Domenico Alberti (1710–1740/46), que usou a técnica extensivamente em sua música para teclas, embora não tenha sido o primeiro a utilizá-la.
Derivado do Baixo Continuo da música barroca, o Baixo Alberti é seu sucessor mais dinâmico, atuando como um padrão de “preenchimento” de acompanhamento para uma melodia e criando a ilusão de mudança harmônica mesmo quando, na verdade, as harmonias permanecem as mesmas (por exemplo, se movendo entre a tônica e a dominante apenas). Foi descrito como “uma verdadeira monotonia tolerável” e como “o acessório mais utilizado da música do século 18”.
Talvez o exemplo mais conhecido disso esteja nos primeiros compassos da famosa Sonata em Dó Maior, K545, de Mozart, em que o Baixo Alberti cria um acompanhamento animado e fluido para a mão direita e, ao fazer isso, dá a melodia simples do tema de abertura uma sensação de movimento para a frente sem perder seu lirismo.
O baixo Alberti também é usado por compositores clássicos para imitar a escrita e a textura de um quarteto de cordas pelas duas mãos do pianista, como, por exemplo, no movimento lento da Sonata “Patética” de Beethoven, nos compassos 1 a 16.
Beethoven revolucionou o uso e o efeito do Baixo Alberti. Em suas mãos, é menos um acompanhamento para uma melodia e mais um suporte para arpejos, que, às vezes, podem simplesmente soar por conta própria para criar drama e tensão.
O Baixo Alberti ainda pode ser encontrado na música de piano contemporânea, principalmente nas obras de Philip Glass, que reduziu a técnica à sua forma mais simples. Em sua série “Metamorphosis”, por exemplo, os acordes individuais quebrados e arpejos (geralmente a extensão de um compasso ou um par de compassos) têm pouco interesse musical em si mesmos, mas com o tempo criam um efeito cumulativo poderoso de harmonias e cores musicais.
Para o pianista, o desafio de tocar um Baixo Alberti é criar um acompanhamento dinâmico que soe natural e fluido e que confirme o efeito harmônico pretendido. É importante evitar que as soem secas e monótonas, assim como utilizar o pedal cuidadosamente para evitar “sujar” a melodia ou adicionar ressonância demais.
A sobreposição de certas notas no Baixo Alberti, especificamente aquelas que formam a raiz do acorde do qual a harmonia emerge, cria um efeito maravilhoso – uma linha de baixo óbvia que adiciona textura à música e fornece a base harmônica sobre a qual o resto dela é construído.
No primeiro movimento de sua penúltima Sonata para Piano (D. 959), Schubert torna ainda mais fácil para o pianista criar esse efeito adicionando uma semibreve à figura de Alberti da mão esquerda.