Quando se fala em música nas escolas – ou mesmo em escolas de música -, muitas dúvidas surgem em relação ao conteúdo a ser transmitido e de que forma os temas devem ser apresentados de forma a divulgar essa arte e contribuir para a formação de novos artistas.
Muitos acreditam no antigo formato de canto orfeônico, como preconizado e colocado a efeito por Villa-Lobos. Outros acreditam que o contato com o instrumento musical desde o princípio seja o gatilho para o desenvolvimento de novos talentos.
Em escolas de música, são oferecidas várias matérias que, muitas vezes, sobrecarregam o aluno com informações teóricas e deixam a desejar em relação a conhecimento e cultura. Teoria musical, harmonia e prática de conjunto são, sem dúvida, temas indispensáveis para a boa formação de um músico capaz de exercer sua atividade em várias frentes.
Mas não se pode esquecer de que o bom músico precisa, antes de mais nada, conhecer a sua arte e o que foi feito antes dele. E não se está falando aqui em matérias como história da arte ou da música, também indispensáveis, mas também muito específicas.
Apreciação musical
Grande parte do público que acompanha concertos de música erudita não é músico, assim como grande parte dos que assistem a shows de jazz ou concertos de rock. O que os leva a apreciar determinado estilo ou gênero é o conhecimento prévio que adquiriram ao ouvir uma ou outra obra ou gravação, ou a preferência por um ou outro artista. E isso só se obtém quando existe uma oportunidade para que isso seja conhecido.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, é comum a realização de concertos gratuitos no Parque do Ibirapuera. Entre os grandes nomes que já se apresentaram ali pode ser destacado o do maestro Zubin Mehta regendo a Orquestra Filarmônica de Nova York, já nos idos de 1987. Bem divulgado, o concerto levou multidões ao Parque. E a maioria dos que estavam ali nunca tinham assistido a um concerto, nem sabia bem quem era o maestro ou os compositores cujas obras foram apresentadas.
Mas o sucesso foi enorme e abriu as portas para outras iniciativas que se propuseram a divulgar a música chamada clássica e abrir as portas dos teatros àqueles que queriam assistir à interpretação das obras.
O mesmo ocorre em outras capitais brasileiras e, até mesmo, com concertos itinerantes, como os do pianista Arthur Moreira Lima. Dada a oportunidade, o público se emociona e acaba por se tornar aficionado pelo estilo, buscando mais informações, lendo a respeito, procurando conhecer outras obras, de diferentes estilos e épocas. O mesmo se pode fazer nas instituições de ensino, ou mesmo nas escolas de música.
Que tal apresentar diferentes estilos e gêneros para os alunos, explicando alguns elementos básicos para que eles acompanhem a obra não apenas com os ouvidos, mas com a imaginação? Exemplos não faltam!
As Quatro Estações, de Vivaldi, é um verdadeiro roteiro para quem quer saber como era a vida na Europa do século XVII. Acompanhada pelos textos inseridos pelo próprio compositor, a obra ganha novos contornos e uma pequena explicação de um professor mais interessado pode abrir novas perspectivas em sua compreensão.
Engana-se quem pensa, no entanto, que apenas na música erudita podem ser encontrados exemplos que avivem a curiosidade. Se tantos jovens adoram estilos como o blues, porque não falar um pouco deles e apresentar o jazz? E também explicar como tudo isso se transformou no amado rock-and-roll?
Conhecer as bases do choro é saber de onde se originou o samba e a moderna música instrumental brasileira, aclamada pelos quatro cantos do mundo. E o que dizer do sertanejo, fruto improvável da música chamada “caipira”, descendente direta das modas portuguesas e das canções italianas?
Com certeza essas pequenas ações e explicações irão desenvolver uma plateia mais atenta, aberta a novas experiências auditivas e prontas para extrair da música o que ela tem de melhor.
Saber ouvir para saber interpretar
Se tudo isso pode vir a formar plateias mais conscientes, ávidas e respeitosas, o que não dizer dos estudantes? Quando um músico se fecha em um determinado estilo, ele está, na verdade, abrindo mão de possibilidades de atuação mais abrangentes.
Ao não conhecer as bases da música clássica, por exemplo, ele está relegando a segundo plano um repertório de técnicas e uma biblioteca de ideias que podem ser muito úteis na composição.
E isso vale tanto para a música popular quanto para jingles, trilhas sonoras, concertos e muito mais. Ao não dar valor às manifestações culturais espontâneas de uma sociedade, ele está delimitando seu campo de atuação, seja como intérprete ou como arranjador, por exemplo.
Que tal transmitirmos mais informação cultural a estudantes, a fim de formarmos novas gerações de público?