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tango brasileiro no piano

O Tango Brasileiro, o Choro e o piano

tango brasileiro no piano

Quem vê as partituras originais de “Odeon” e “Brejeiro”, duas das mais conhecidas obras de Ernesto Nazareth, pode estranhar a denominação do ritmo utilizado nas peças: “Tango Brasileiro”.

Nazareth adotou a palavra “tango” para classificar diversas de suas composições atualmente classificadas como “choro”, mas, à época da composição, fim do século 19, essa denominação ainda não havia se fixado.

 

 

A partir de 1940, alguns editores passaram a substituir nas partituras de composições de Ernesto Nazareth a classificação “tango” por “choro”, com o intuito de alavancar a distribuição de sua obra.

Mas, em contrapartida, isso vem causando confusão entre intérpretes e pesquisadores até hoje. Afinal, o termo “choro” foi utilizado por Nazareth apenas duas vezes: em “Janota” (que é uma polca) e “Cavaquinho, por que choras?…”.  Então, a história do Tango Brasileiro é um pouco mais complexa.

O próprio Nazareth afirmou que ouvia polcas e lundus de outros compositores e sentiu vontade de transpor para o piano a “rítmica dessas polcas-lundus”. O termo “tango” – mais especificamente “polca-tango” – foi utilizado por ele pela primeira vez na composição “Rayon d’Or”, de 1892.

Daí em diante, compôs por volta de 90 tangos, cerca de 20 polcas e 40 valsas, além de mazurcas, schottisches, marchas carnavalescas e peças de outros gêneros.

Mas Nazareth não foi pioneiro no uso do termo. O compositor, regente, trompetista e organista, professor, copista e comerciante Henrique Alves de Mesquita (1830 – 1906) foi reconhecido historicamente como o criador da expressão “tango brasileiro” quando classificou assim uma de suas composições, “Olhos matadores”, e partes de sua opereta “Ali Babá e os Quarenta Ladrões”, em 1868.

O nome “tango” foi utilizado por ele para designar um tipo de música de teatro ligeiro, conhecida entre os franceses e espanhóis como “habanera” ou “havanera”.

Em 1890, o paulista Alexandre Lévy (1864 – 1892) teve editado o seu “Tango Brasileiro”, peça que o levou a posição de destaque entre os precursores do nacionalismo brasileiro, por estar entre as primeiras a apresentar motivos populares sob uma roupagem eminentemente erudita.

 

 

Mas o tango brasileiro é frequentemente apontado como uma variante estilizada do “maxixe”, dança de salão brasileira que esteve na moda entre o fim do século 19 e o início do século 20 e cuja origem também é controversa.

Com caráter sensual – por enlaçar pernas e braços e apoiar as testas dos pares -, o maxixe era considerado indecente pela sociedade e foi perseguido pela polícia, pela igreja, pelos chefes de família e pelos educadores, o que fez com que se popularizasse em locais que não atendiam à moral e aos bons costumes da época, como forrós, gafieiras e cabarés.

O termo “tango” foi então utilizado por vários compositores da época para “rotular” maxixes, de modo que as partituras fossem vendidas e as composições fossem aceitas.

Para se ter uma ideia, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, estão registradas duzentas e sessenta e cinco partituras para canto com acompanhamento instrumental, trezentas e cin­quenta para piano solo e quinze para conjunto instrumental publicadas como tango brasileiro.

Antes ainda de Nazareth, Chiquinha Gonzaga – a primeira maestrina brasileira – iniciou uma numerosa produção de “tangos” e compôs alguns sucessos desse gênero musical, como “Seductor”, (1877), “Tango Brasileiro” (1880), “Oh! Mon Étoile” (1881), “A Corte na Roça” (1884), “S.Paulo” (1885), “Tupan” (1890) e o famoso “Gaúcho”, vulgarmente conhecido como “O Corta-Jaca”, escrito em 1897.

Nazareth, no entanto, apreciava que suas composições fossem executadas em andamento mais lento, e principalmente, que não fossem dançadas, muito menos com a coreografia do maxixe, cujo ritmo, entretanto, fica evidente.

 

 

E não faltaram escândalos na história do “Tango Brasileiro”. Segundo historiadores, Nair de Teffé, segunda esposa do Marechal Hermes da Fonseca – Presidente da República entre 1910 e 1914 – durante as solenidades de despedida da gestão do marido, em 1914, abriu espaço em um jantar oficial para a música brasileira e, acompanhada de seu amigo Catulo da Paixão Cearense, apresentou o “Gaúcho”, de Chiquinha Gonzaga.

O episódio bastante polêmico ficou conhecido como “A Noite do Corta-Jaca”.


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