Com sua tradicional beleza melódica e seu ritmo gracioso, suave e elegante, a valsa é um gênero musical que transcende o tempo e que se adequa muito bem ao piano.
Origem da Valsa
Com raízes na Europa do século 18 e origens na Áustria e na Alemanha, a valsa se propagou por várias regiões do mundo e adquiriu características próprias em cada cultura. A valsa surgiu primeiramente como uma dança, inspirada no minueto (dança na qual os pares dançavam separados) e o “laendler” (dança campestre, na Alemanha). A palavra “valsa” tem origem na palavra alemã “waltzen”, que traduzida quer dizer “dar voltas”.
Inicialmente, a valsa era uma dança ousada e controversa, considerada vulgar – e até imoral – pelas classes sociais mais altas e pela aristocracia por conta do movimento giratório dos pares. Em alguns países europeus (na corte alemã e partes da Inglaterra) foi proibida, tamanho era o preconceito.
Mas, nas camadas populares, a dança ganhava cada vez mais adeptos. No fim do século 16, a dança passou a ser aceita pela alta sociedade, transformando-se em um gênero clássico e, a partir de então, os compositores se dedicaram cada vez mais à criação de obras no estilo. Os mais famosos são os irmãos Josef e Johann Strauss que encantaram Viena e toda a Europa já no século 19, com valsas famosas que ainda hoje são executadas em bailes e festas.
Este último, conhecido como o “Rei da Valsa”, deixou um legado inestimável de mais de duzentas valsas com obras como “Danúbio Azul” e “Contos dos Bosques de Viena”.
Características da Valsa
Musicalmente, a valsa é reconhecida por suas características peculiares. São escritas geralmente em compasso 3/4, o que confere a elas um ritmo propício à dança, e frequentemente apresentam melodias líricas e passagens arpejadas. Por conta dessas propriedades e de sua popularidade, a valsa se tornou matéria-prima de muitos compositores clássicos que, cativados pela beleza do estilo, deixaram um legado enorme de peças atemporais escritas para piano.
Ao lado de Beethoven, o também alemão Franz Schubert foi um dos primeiros a levar a valsa para o piano, compondo as 12 Valses Sentimentales Op. 50 e as 12 Valses Nobles Op. 77, além das 13 Last Waltzes Op. 127 e a Valsa em Sol Maior. Robert Schumann também se dedicou ao estilo, assim como Johannes Brahms e Peter I. Tchaikovsky, entre muitos outros.
Mas o compositor romântico que elevou a valsa ao seu mais alto patamar artístico e virtuosístico foi Frederic Chopin, que compôs nada menos que 36 delas para piano, das quais a mais famosa talvez seja a Op. 64, No. 1, conhecida como “Valsa do Minuto”.
Mas não apenas os românticos se dedicaram à valsa. Compositores mais modernos como Maurice Ravel e Claude Debussy, entre outros, também deixaram sua contribuição ao estilo, que chegou ao século 20 amalgamado ao jazz, ao tango e à música popular em geral, principalmente no Brasil.
A valsa para piano no Brasil
No Brasil, a valsa chegou no início do século 19, com a transferência da Família Real Portuguesa para cá. O maior responsável pela introdução do estilo no País talvez tenha sido o músico austríaco Sigismund Neukomm, que veio para cá em 1816 para ser professor de piano clássico de D. Pedro I e da Princesa Leopoldina.
A valsa vienense, introduzida por ele, fez sucesso não só entre a nobreza, mas em todas as classes sociais, dando origem, inclusive, a outros ritmos, como as populares serestas. Ao longo da segunda metade do século 19, a valsa continuou a ter grande aceitação e foi “um dos únicos espaços públicos de aproximação que a época oferecia a namorados”, segundo o estudioso José Ramos Tinhorão. Carlos Gomes, Zequinha de Abreu, Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, entre outros compositores brasileiros, escreveram obras para piano no estilo.
A partir do século 20, a valsa ganhou ainda mais força com a valorização do nacionalismo, principalmente nas mãos de compositores como Francisco Mignone, Osvaldo Lacerda, Radamés Gnattali, Camargo Guarnieri e Villa-Lobos, alguns com tratamento mais popular, outros mais virtuosístico.
Para o pianista, o tradicional acompanhamento baixo-acorde-acorde pode ser desafiador para a manutenção de um ritmo consistente. Além disso, a execução de arpejos rápidos, característicos do estilo, e dificuldades inerentes ao virtuosismo aplicado pelos compositores românticos fazem das valsas, além de espaço de expressão emotiva, matéria-prima ideal para exibição técnica.