Desde sua invenção por Bartolomeo Cristofori di Francesco, no século 18, o piano, tanto de cauda quanto de armário, sofreu diversas evoluções que garantiram mecânica mais precisa e refinada, sonoridade mais complexa e abrangente e construção mais robusta e duradoura.
Muitas das inovações do instrumento que deram a ele as características principais que perduram até os dias de hoje foram concebidas e implementadas no século 19, quando o design do instrumento sofreu grande avanço utilizando as tecnologias existentes na época. Por conta disso, as matérias-primas empregadas eram as disponíveis, como madeira, metal, couro e tecidos de diversos tipos, principalmente feltro.
As inovações posteriores, do século 20, ocorreram, principalmente, com a adição de mecanismos como o duplo escape, o pedal tonal e a duplex scale, entre outros, que adicionaram ao piano mais recursos interpretativos ou sonoros. No entanto, as matérias-primas utilizadas pouco se modificaram em mais de um século, apesar da alta tecnologia envolvida na obtenção de materiais mais duráveis e de melhor rendimento em todos os campos da ciência e em diversas atividades do ser humano.
A madeira, por exemplo, é suscetível à umidade e à expansão e contração decorrentes das condições ambientais, em especial partes muito pequenas que estão sujeitas a movimento e impacto regulares. Além disso, peças maiores podem não ser tão resistentes à força extrema.
Com o avanço da tecnologia e a criação de materiais mais estáveis, muitos produtos de alto rendimento sofreram modificações para se tornarem mais resistentes e apresentar melhor performance. Por conta disso, vários foram os objetos cuja matéria-prima original, a madeira, foi substituída por fibra de carbono, alumínio e diversos outros componentes, de raquetes de tênis e tacos de golfe a rodas de automóveis e móveis.
Problemas da madeira
Quando componentes de madeira críticos de um piano quebram por causa do alto estresse repetitivo, as teclas simplesmente param de funcionar. Em tais casos, a falha de uma parte essencial pode causar a falha de todo o mecanismo. Mas mesmo sem problemas como a quebra de um componente, há outras situações em que o estado da madeira pode comprometer o mecanismo e a sonoridade de um piano.
O lugar onde o martelo bate na corda talvez seja o ponto mais crítico do mecanismo de um piano. O alinhamento preciso desse componente é essencial, pois a menor alteração em sua posição pode afetar drasticamente o timbre e o toque do pianista. O que mantém o alinhamento adequado do martelo é a flange do martelo. Quando ela permanece segura e perfeitamente posicionada, o martelo correspondente permanece devidamente alinhado.
Mas em um dia úmido, a flange de martelo de madeira pode inchar e, quando isso ocorre, a madeira sob o parafuso se expande para cima contra a cabeça do parafuso e, eventualmente, fica danificada. Mais tarde, quando a umidade diminui, a flange de madeira encolhe deixando um “espaço” entre o flange e o parafuso, que permite que o flange saia da posição. Para piorar as coisas, o espaço aumenta à medida que o movimento do flange faz que o parafuso afrouxe.
Quando o alinhamento estiver comprometido, os martelos atingirão as cordas parcialmente ou nem as atingirão por completo, resultando em grave perda de sonoridade. Os martelos também podem encostar um no outro, prejudicando o toque ou se movimentando juntos. Uma vez reparados, esses problemas podem voltar a ocorrer facilmente sempre que as condições de umidade retornarem ou quando o piano for movido para outro ambiente.
A tecnologia ABS Styran
Partindo do princípio de que um mecanismo mais leve é necessariamente mais rápido, a fabricante japonesa de pianos Kawai pesquisou profundamente e, a partir da década de 1980, passou a incorporar alguns materiais mais leves aos mecanismos de seus pianos.
Reconhecendo que a madeira nunca poderia ser verdadeiramente estável, tendo em conta as mudanças no clima, e determinados a encontrar uma solução para as imperfeições dessa matéria-prima, os engenheiros da Kawai começaram a pesquisar intensivamente as propriedades de materiais alternativos, o que os levou a um material composto de polímero chamado ABS Styran, que trazia as características perfeitas para a tarefa: era muito mais resistente que a madeira para reduzir a quebra, era dimensionalmente estável e virtualmente não afetável por mudanças na umidade, além de ter um histórico de sucesso em muitos outros setores.
Desafiando a conservadora indústria de instrumentos musicais, a Kawai apostou nesse composto, com a comprovação de que o material seria mais estável que a madeira e proporcionaria melhor resposta e durabilidade.
Essa crença foi comprovada por estudos realizados pelo Professor Abdul Sadat, chefe do Departamento de Engenharia Industrial e de Manufatura da Universidade Politécnica do Estado da Califórnia, em Pomona, nos Estados Unidos.
O estudo comparou peças de piano de madeira com suas similares em ABS Styran em relação à resistência, consistência dimensional, resistência ao inchaço e encolhimento e longevidade. Os resultados foram convincentes: os flanges de martelo de ABS Styran mostraram-se mais de 50% mais resistentes que os de madeira e, no momento da fabricação, os componentes de ABS Styran mostraram ser significativamente mais estáveis em tamanho e forma.
Além disso, após 24 horas de exposição à umidade de 90 a 100%, os flanges de martelo de madeira aumentaram em mais de 5% em tamanho, ao passo que as partes em ABS Styran incharam apenas 0,16%, o que comprovou que elas são 30 vezes mais resistentes ao inchaço.
Essa pesquisa histórica provou que o ABS Styran é superior à madeira para usos específicos dentro de um mecanismo de piano. As peças são mais fortes e sem juntas coladas, portanto a ruptura é rara, o que fez que fossem utilizadas em todos os pianos Kawai.
O Millennium III e a tecnologia ABS-Carbon
No mecanismo Millennium III, encontrado na maioria dos modelos da marca atualmente, o ABS é reforçado com fibra de carbono, de modo que se torne incrivelmente robusto e rígido, o que permite tornar partes do mecanismo ainda mais leves e resistentes.
Com menos massa para mover (ou seja, menos inércia), o mecanismo passou a ser aproximadamente 16% mais rápido que os tradicionais nos pianos verticais e 25% mais rápido nos pianos de cauda, o que o faz ser mais responsivo às intenções do pianista, incluindo a repetição mais rápida. Além disso, foi criada uma superfície com textura microscópica na baioneta, exatamente no ponto de encontro com o martelo. O resultado dessa sutil e importante mudança é um aumento significativo no controle da sonoridade durante o pianíssimo.
Por gerar mais potência com menos esforço geral, o design inovador e o uso de ABS-Carbon no mecanismo Millennium III dos pianos Kawai proporcionam ao pianista maior liberdade de expressão, flexibilidade e controle, ao mesmo tempo que atualiza o instrumento, inova sua fabricação e o adequa às novas necessidades de performance e ambientais.
Legal! Só toquei em um Kawaii eletrônico, excelente por sinal.